Antes um Sarkozy do que um Hollande

Para quem está interessado em que haja um movimento popular cada vez mais ciente da natureza doentia do sistema político e económico que impera na Europa e no mundo, é inevitável chegar à conclusão que é preferível ter um líder como o Nicolas Sarkozy a um líder como o François Hollande. Para quem deseja ver cada vez mais mentes que se libertam da propaganda lobotomizante com que é estupidificada a população (propaganda esta que nos alimentam para que a possamos repetir, nos cafés, à mesa de jantar, nas salas de aula, pensando que estamos a comunicar a nossa própria opinião quando de facto estamos, sobretudo, a regurgitar a informação que nos é imposta pela uniformidade de opinião que é camuflada pela aparente pluralidade dos meios de comunicação social) é muito melhor que haja líderes repugnantes como o Sarkozy, em vez de líderes com uma imagem mais menos detestável, como Hollande. Devemos aprender com a história, através da qual poderemos desvendar a realidade do presente: disse o ministro da propaganda Nazi, Joseph Goebbels que “Num sistema de media deseja-se que haja uma diversidade ostentativa que esconda uma uniformidade real”. É utilizando esta formula que os meios de comunicação social fornecem a ilusão da existência de diversidade de opinião que de facto camufla uma inerente uniformidade que por sua vez produz falsos consensos e leva a opinião pública a um beco sem saída.

Uma das grandes mentiras que os comentadores políticos tentam impingir ao público é que o presidente de um país é a sua figura mais poderosa. A verdade está muito longe desta tese fraudulenta. O verdadeiro poder, sobretudo na França, onde o poder da maçonaria não é de todo um segredo, reside e permanece nas teias de poder como a maçonaria, os jesuítas, os iluminados da Baviera, entre outros grupos que permeiam e controlam os partidos políticos estabelecidos. Por sua vez, estas teias mafiosas são controladas por dinastias. O poder, ontem como hoje, é transmitido por sangue, por herança, e não por eleições ‘livres’. É esta a verdade que é inacessível para aqueles cuja mente está escravizada pela dicotomia da ‘esquerda’ e ‘direita’. Fazendo uso da dialéctica do Hegel (como instrumento de análise) podemos compreender que os constantes debates que enaltecem as diferenças entre a esquerda e direita fazem com que se perca de vista as similitudes entre as posições e medidas dos grandes partidos que supostamente representam as duas vertentes políticas. Um dirá que devemos pagar 22% de IVA, o outro dirá que devemos pagar 23%. Mas nenhum irá tentar questionar a legitimidade de tão injusto imposto. Um irá criticar o Euro porque foi introduzido sem que houvesse integração política suficiente, o outro irá criticar o Euro porque foi introduzido sem que houvesse uniformidade económica suficiente, mas nenhum se atreverá a sequer propor que seja dissolvido o Banco Central Europeu, nenhum se atreverá a dizer a verdade- que o BCE é um banco privado que de ‘Central’ não tem nada, instituição que até a União Europeia admite ser ‘independente’ (ou seja, não está subordinado a qualquer corpo democraticamente eleito). A este ultraje chama-se falsa resistência, a tentativa de produzir a ilusão da existência de liberdade de expressão, a ilusão de que existe uma verdadeira democracia quando estamos de facto escravizados pela ditadura dos ‘Iluminados’.

Logotipo do ‘Grand Orient de France’

Neste sentido, ter personagens repugnantes na posição de líder visível como o Nicolas Sarkozy, ou mesmo como o George W. Bush, é de facto preferível a ter personagens como o François Hollande ou como o Barack Obama, que, com os seus discursos sedutores e as suas aparências inofensivas, conseguem com que a população adormeça, que se torne ainda mais cobarde e passiva, aceitando o sistema dominante sem questionar a sua estrutura. Enquanto debatemos sobre quem deve ser o porta-voz do sistema, e sobretudo, enquanto festejamos porque o próximo líder não será (na sua aparência) tão nojento quanto o ultimo, esquecemo-nos de exigir mudanças verdadeiras, reformas profundas e debates genuínos.

Antes um Bush do que um Obama, antes um Sarkozy que um Hollande. Porque um sistema repugnante merece uma cara repugnante. Porque sabemos que quem manda verdadeiramente não se senta naquela cadeira, os verdadeiros governantes não aparecem na televisão, aqueles que têm o verdadeiro poder, não estão sujeitos a eleição, e as dinastias que controlam este mundo, não estão subordinados a instituições democráticas. Visto que os presidentes muito pouco decidem, e sabendo que a sua função é somente a de ler os discursos que outros escrevem e defender as medidas que outros desenvolveram, mais vale ter uma figura claramente horrível na posição de porta-voz do sistema: mais vale ter uma figura que reflita a natureza imoral da rede de poder, pois esta imoralidade visível empurra a população para a arena da resistência, arena a qual todos devíamos pertencer nestes tempos onde o colapso estrutural da economia e da sociedade é uma possibilidade cada vez mais provável. Tais ‘líderes’ levam as pessoas a questionar o sistema, enquanto que personagens aparentemente inofensivas só aumentam a apatia da população perante os crimes das classes políticas e das elites económicas que estas representam e defendem.

François Hollande promete rejeitar as políticas de austeridade em benefício de políticas de crescimento, promessa a qual está a ser interpretadas como tendo grande importância para o futuro da zona Euro pelos agentes de propaganda do costume. Porém, esta promessa era essencial para que pudesse convencer o público francês que de facto representa uma alternativa real. Não forneceu até o momento uma única proposta concreta para levar esta promessa a cabo, limitando-se a dizer que políticas de austeridade por si só não resultarão em crescimento económico, um argumento que é tão obvio que tem lentamente infiltrado até o discurso dos analistas mais submissos.

Identifica-se neste exercício teatral que foi a eleição francesa mais um padrão preocupante. Diz Sarkozy que vai abandonar a política. Provavelmente, será o que vai fazer momentaneamente, tentando mostrar-se como um líder com capacidade de autocritica (o que aliás foi o grande pilar do seu discurso de ‘derrota’), com capacidade de rejeitar o protagonismo, mostrando assim elegância perante este impasse. Muito provavelmente será mais um exemplo de uma ‘falsa reforma’, ou seja, provavelmente iremos presenciar dentro de alguns anos (depois de ficar patente que Hollande pouca ou nenhuma mudança poderá implementar, perante a aparente inevitabilidade do aprofundamento da crise económica, a continuação das políticas de austeridade e subsequentemente a inevitável continuação da subida do desemprego) uma reentrada triunfante de Sarkozy, ‘não por ambição pessoal, mas porque o povo francês e o UMP assim desejaram’. Esta reentrada será virtualmente inevitável tendo em conta a megalomania de Sarkozy, a falta de estrelas emergentes no UMP e o fanatismo com que muitos ainda seguem o diminuto xenófobo (que detesta que venham imigrantes para a França mesmo sendo que o próprio pai imigrou da Hungria para a França). Se isto acontecer, terá muitos paralelos com a ‘saída’ de Paulo Portas da vida política, sendo que a falta de substitutos com carisma suficiente para a posição de liderança do respectivo partido somente solidificou a sua posição como querido líder depois de consumada a sua segunda aparição.

Muitos edifícios em França, sobretudo edifícios da República Francesa, ostentam a frase maçónica, ‘Liberté, Egalité, Fraternité’

Ainda para mais, a presidência de Hollande será inevitavelmente tumultuosa, visto a reduzida margem com que ganhou a eleição, e tendo em conta a situação económica francesa e mundial. Sarkozy foi sem duvida a figura central desta eleição. Presenciamos cinco campos ‘distintos’ em ação nesta eleição, campos que de facto todos eles, sem excepção, representam os mesmos interesses e as mesmas organizações secretas. O campo da dinastia fascista Le Pen (cuja falta de vergonha e hipocrisia é monumental: pequeno exemplo, Marine pediu em público a destruição da Maçonaria francesa enquanto que em privado era ajudada por advogados maçons). O campo do maçon François Bayrou. O campo de Melanchon (antigo ministro do Parti Socialiste e membro da loja maçónica ‘Grand Orient de France’). E finalmente, os dois campos mais importantes: o campo pro-Sarkozy, e o campo anti-Sarkozy. Hollande, como pessoa e como candidato, foi somente um ponto de encontro para aqueles cujo ódio visceral de Sarkozy impunha que se encontrasse uma alternativa. Porém, alternativa Hollande não é de certeza, sendo somente mais um agente maçónico. E sobretudo, a inexistência de verdadeiras propostas à altura dos desafios que atingem a França e a Europa pela parte de Hollande fará provavelmente com que o PS francês volte muito em breve a ser visto pela população francesa da mesma maneira como o tem vindo a ser durante a ultima década- a alternativa que simplesmente não tem verdadeiras alternativas.

João Silva Jordão

Partilhar Artigo

Facebook
Twitter
LinkedIn
Artigos recentes
Inscreva-se no blog por e-mail

Digite seu endereço de e-mail para se inscrever neste blog e receber notificações de novos posts por e-mail.

Join 342 other subscribers
Número de visualizações
  • 1.224.540 hits

2 respostas

Deixe o Seu Comentário!

Discover more from Casa das Aranhas

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading