Muito se debate sobre as viragens, ora à esquerda, ora à direita, das tendências políticas da Europa assim como do mundo. Mas a verdadeira questão não estará tanto na viragem à esquerda ou à direita; o mais importante será de identificar os pontos em que os políticos que representam as duas alas, como por exemplo, François Hollande, ou Barack Obama, ou Dilma Rousseff divergem dos ‘outros’. Ou seja, o público deveria deixar de se reger somente com a dicotomia entre ‘esquerda’ e ‘direita’ para poder começar a verdadeiramente exigir mudanças estruturais nos sistemas políticos.
Dilma Rousseff, por exemplo, ignorou por completo uma petição assinada por mais de um milhão de pessoas que exigia que fosse parada a construção da barragem de Belo Monte (se adicionarmos a petição da Avaaz, da Amazonwatch, entre outras, o numero supera um milhão facilmente), a qual irá submergir 400.000 hectares de floresta tropical e deslocar 40.000 indígenas das suas terras. Ser de ‘esquerda’ não impediu, claramente, ser completamente submissa aos interesses económicos, não impediu que destruísse a vida de milhares dos seus cidadãos, não impediu que ignorasse a voz de pessoas de todo o mundo, não impediu que nada fizesse sobre esta construção que será, inevitavelmente, ecologicamente desastrosa. Obama, por sua vez, prometeu muita mudança, mas trouxe somente continuidade. Guantanamo ainda está aberta, as guerras no Médio Oriente e na África continuam, e aliás, até foram iniciadas mais umas (sobretudo, mas não só; Líbia, Iémen, Síria, todas elas com infiltração da CIA muito forte nos respectivos movimentos de ‘liberação’, sendo igualmente as intervenções no Paquistão e no Afeganistão continuadas e aprofundadas). Em termos sociais, nada se ganhou com na América de Obama. Já o Hollande, que é o cobarde de entre os cobardes, é mais outro maçom (membro da mais notória plataforma dos ricos e poderosos na França, o Grand Orient de France), que veio recentemente a dizer que afinal as contas do Estado Francês estão piores do que tinha pensado. Ora, já está a abrir caminho para não cumprir as promessas de quebrar com a austeridade. É, como Barack Obama, mais um fantoche que nada irá mudar, excepto a capacidade acrescida que terá para adormecer uma parte da ala ‘esquerda’, que por afiliação partidária ou ideológica será menos capaz de aceitar a verdade- que somente reformas profundas poderão inverter a tendência de perda de direitos civis e empobrecimento, e essas reformas não serão os nomes referidos a trazer de certeza.
A dicotomia que divide a ‘esquerda’ e ‘direita’ perpetua a política de carrossel, onde, ora um partido de esquerda, ora um de direita, entram e saem do governo, dando a ilusão de mudança, ocultando assim a continuidade das políticas e dos resultados das mesmas. É assim a capacidade de critica da população limitada, é assim que muitos analistas políticos lobotomizados, tornando-se incapaz de sequer contemplar, quanto mais exigir, transformações estruturais profundas pois passam todo o seu tempo a discutir as (relativamente) pequenas diferenças entre as medidas e ideologias dos grandes partidos. O constante debate entre ‘esquerda’ e ‘direita’, por se concentrar demasiado entre as diferenças, esconde as similitudes, os eixos que permeiam os dois: são estes eixos que levam a que o povo tenha chegado à muito a conclusão, que ora se vote nuns, oura noutros, o resultado é sempre igual. É esta política de carrossel, e as consecutivas encenações que tentam mascarar a tirania de democracia, as eleições que passam pouco mais hoje em dia de eventos teatrais onde os escolhidos do sistema fingem debater (quando de facto, discutem somente sobre migalhas, omitindo as verdadeiras questões do debate político), que cultivou o divórcio cada vez mais óbvio entre a população e a classe política. Mais ainda, o divórcio não é somente entre classes, é um divórcio entre o povo e o próprio acto eleitoral, como o demonstram as elevadíssimas taxas de abstenção.
A verdadeira questão deveria ser, portanto, a de encontrar soluções viáveis para que possamos conseguir reformar o Estado para que este possa deixar de ser exclusivamente o veiculo através do qual os ricos e poderosos conseguem atingir os seus objectivos e consolidar a sua dominância. Que reformas estruturais poderão ser aplicadas para que o Estado não possa ser instrumentalizado pelas elites económicas? A resposta é óbvia- através de transformações estruturais profundas e abrangentes que possam reconceitualizar a própria função do Estado, mudando a natureza das suas instituições para que possam ser transformadas as atitudes e ações daqueles que o operam. Resta definir exatamente quais as reformas que deverão ser implementadas, e mais difícil ainda será definir estratégias realistas para o poder fazer. Somente ao cessarmos de nos dividir sobre discórdias menores é que nos poderemos unir à volta de vontades comuns- nomeadamente a de construir um Estado menos corrupto para que possa emergir uma sociedade mais justa.
João Silva Jordão
3 respostas
Parabéns excelente texto. Completamente de acordo.
Meu caro, faça lá você o que fizer, enquanto houver “economia de mercado”, sistema monetário controlado pela banca, sociedade organizada de acordo com a “lei da oferta e de procura” e desenvolvimento baseado na competição. Nada vai mudar… institua você uma ditadura… um reino… uma democracia participativa… que nada vai mudar e você sabe disso… porque você é defensor da “economia de mercado”! e com este post não quer mais que confundir as pessoas para que nada mude mesmo! Já viu se fossem agora votar nos comunistas??? É disso que você tem medo e é isso que está a tentar evitar!
Dictomia uma ova! Um partido só é de esquerda se não defender a “economia de mercado nem o sistema monetário controlado pela banca” Qualquer partido que defenda isso é de DIREITA e todos exemplo que deu são a favor da economia de mercado, são de Direita e você também é!
Sabe perfeitamente que as pessoas têm escolhido entre Direita, e Direita com resquícios de esquerda! Portanto retire lá a palavra “esquerda” do desenho… Coloque “Faz de conta que é esquerda” e a ilustração estará correta!!!
Meu deus agora até Barack Obama é comunista!??
Olhem só os disparates que dizem com medo que a verdadeira esquerda ganhe realmente o apoio das pessoas em Portugal!!! Antes comiam criancinhas ao pequeno-almoço e davam uma injecção atrás da orelha aos velhotes… Agora é isto!? :-)))))
Meu caro o Capital democratizou-se e vive-se hoje uma escravatura económica imposta por este. Porém neste momento, o sistema democrático e partidário representa para o Capital um verdadeiro incomodo… veja o que ia acontecendo na Grécia com a quase eleição do Syriza…. veja o que aconteceu na Argentina… se as pessoas aderem de facto a um sistema socialista (economia planificada), todo o império do Capital está posto em causa… e meu caro a mim não me engana você, porque é o Império do Capital que você defende quando vem aqui aconselhar as pessoas a não votar à esquerda afirmando que é tudo a mesma coisa!
Olhe que, se é uma discórdia menor a discussão sobre a estruturação da sociedade em torno de uma economia de mercado ou de uma economia central e planificada… eu não saberei o que será uma discórdia maior!!!
Você que é uma pessoa inteligente, utilizando-se da sua capacidade de escrita, está a tentar manipular as pessoas aproveitando o descredito geral que as pessoas têm sobre os políticos e da sua ignorância política, para evitar o que realmente não quer…. Uma sociedade construída com base no ideal social, porque deseja ardentemente que tudo continue como está, construído numa base de ideal monetário!…
O que você quer realmente dizer é que há que mandar o sistema democrático e partidário abaixo porque dar hipótese aos Comunistas de chegarem ao governo com o Bloco de Esquerda é que nunca!!!!!
Desonestidade é a única coisa que eu reconheço neste texto que escreve aqui… Porque de resto tudo são escolhas e para mim não há escolhas certas nem erradas! Apenas há consequências das escolhas feitas, que uns poderão gostar e outros não!
Agora seja honesto e explique às pessoas porque é que considera negativo (o que eventualmente apelida de) “a Extrema esquerda radical” e porque defende o “Sistema económico de mercado livre”!?… Defenda realmente as suas convicções e não terei absolutamente nada contra!
Miguel,
Concordo inteiramente, o problema é que nem conseguimos pensar a política de uma forma apartidária, o poder como uma experiência curta e agradável, no fundo, valorizando o cidadão comum, pois o estado somos todos nós.