A Profunda Hipocrisia do Bloco de Esquerda

O Bloco de Esquerda é de longe a entidade que mais influência tem sobre o colectivo ‘Que Se Lixe a Troika’. Este colectivo organizou a maior manifestação dos últimos tempos, no dia 15 de Setembro, e a razão pela qual o conseguir fazer deu-se dado o clima social tenso relativamente às medidas de austeridade que tinham acabado de ser anunciadas pelo governo. Uma outra razão será sem dúvida o seu nome apelativo, porque vai de encontro com o descontentamento popular relativamente às medidas de austeridade em particular. Uma outra razão pela qual o conseguiu fazer deveu-se ao clima político e a Troika em geral. E é ao analisarmos esta conjuntura que nos podemos aperceber da profunda hipocrisia do Bloco de Esquerda.

Manifestação de dia 15 de Setembro de 2012 contra as medidas de austeridade e da Troika
Manifestação de dia 15 de Setembro de 2012 contra as medidas de austeridade e da Troika

O colectivo ‘Que se Lixe a Troika’ tem um nome apelativo e popular graças, em parte, à fúria da população face à chantagem estrangeira, nomeadamente do FMI e do BCE, as duas partes mais fortes da infame Troika. O titulo ‘Que se Lixe a Troika’ só fará sentido para quem detesta a Troika e portanto, os seus componentes, que são a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu (BCE). Porém, o próprio Bloco é incondicionalmente pro-União Europeia e pro-Federalista, sem que essa posição seja minimamente influenciada pelas próprias acções da União Europeia. São a favor porque o são, e nem o comportamento profundamente desonesto e insultuoso da UE para com os países da periferia Europeia parece mudar isso. E quando o Bloco se atreve a criticar (moderadamente, claro) aquela instituição que dá pelo nome de União Europeia, irá equilibrar a crítica solitária e moderada com pelo menos três odes à mesma para que não se questione o apoio do Bloco ao ‘Projecto Europeu’. Diga-se que este ‘projeto Europeu’ cada vez mais se parece com um projecto de centralização de riqueza, competências e poder do qual o BCE surge por enquanto como o principal beneficiário, sendo os outros beneficiários os que já tinham muito dinheiro e poder antes da crise, que agora têm ainda mais. Assim se consolida o poder da classe dominante em nome da ‘consolidação fiscal’.

Portanto, devemos fazer a pergunta: Como pode alguém controlar um colectivo que se intitula ‘Que se Lixe a Troika’ e ao mesmo tempo não protestar contra a tomada de poder ilegítima do componente mais poderoso da Troika, o Banco Central Europeu? Afinal de contas, o Bloco é alegadamente contra a Troika por esta ser autora do memorando de entendimento de Maio de 2011, o guião austeritário deste governo. Mas ao mesmo tempo, e em completa contradição, apoia o ‘projecto Europeu’ como se este fosse um projecto teórico que todos podemos colectivamente influenciar de forma a construir uma Europa justa ou utópica (dependendo do grau de senilidade). Mas o processo da federalização Europeia não habita na esfera teórica, é um projecto que está a avançar na realidade, e longe da utopia democrática e harmoniosa que nos foi prometida, o ‘Projecto Europeu’ teórico está a dar o lugar à Distopia Europeia Verdadeira.

É natural portanto nestas circunstâncias ver partidos como o Bloco de Esquerda fazer uma aproximação ao Partido Socialista. Daqui a pouco tempo os mais esclarecidos terão de fazer alusão à união entre o Partido ‘Socialista’ e o Bloco de ‘Esquerda’, que conjuntamente terão uma maior capacidade de fingir que lutam pelos interesses da classe trabalhadora e da população em geral, quando os seus dirigentes claramente não só apoiam a perda de soberania de Portugal à base da chantagem, apoiam o pagamento da dívida, defendem a legitimidade da dívida ao defenderem a renegociação em vez da anulação, preparando assim a completa subjugação de Portugal perante o tenebroso BCE. Curiosamente, a coordenação bicéfala do Bloco de Esquerda é uma perfeita ilustração da sua hipocrisia. Duas caras, duas mensagens, as contradições são claras enquanto que os objectivos o são relativamente menos.

Para fazer uma crítica ao Bloco de Esquerda não temos que fazer apelo a caracterizações políticas. Não é o facto de serem reformistas, reccionários, elitistas, traidores da classe trabalhadora e domesticadores profissionais dos movimentos sociais. A questão aqui como no resto da classe política, e de facto, na sociedade no seu todo é a falta de honestidade, a falta de frontalidade, a falta de respeito pela população em geral que insistem em tratar como se de retardados mentais se tratassem. O problema no Bloco é o mesmo que na classe política em geral, a falta de virtude.

A coordenação bicéfala do Bloco de Esquerda é uma perfeita ilustração da sua hipocrisia. Duas caras, duas mensagens, as contradições são claras e os objectivos relativamente menos
“Curiosamente, a coordenação bicéfala do Bloco de Esquerda é uma perfeita ilustração da sua hipocrisia. Duas caras, duas mensagens, as contradições são claras enquanto que os objectivos o são relativamente menos”

Em conclusão, o Bloco é mais um instrumento político que indiretamente e diretamente apoia a chantagem da dívida pública, o roubo da soberania, a implosão da democracia através da entrega de poderes a burocratas Europeus não-eleitos. É um Guardião do Portão cada vez mais eficaz. É também cada vez mais um partido que aposta na infiltração de todos e quaisquer movimentos sociais que pensem ser ou poder vir a ser de valor estratégico para recrutar pessoas para as suas bases e de onde extrair apoio eleitoral. E mesmo assim, não consegue sequer criticar frontalmente a perseguição de ativistas e a violência policial como a testemunhada no dia 14 de Novembro de 2012. E quanto aos movimentos que não consegue dominar, o protocolo é um e um só: manipular, boicotar e isolar. As consequências de todo este processo de institucionalização abrupta que se tem testemunhado na ultima década no Bloco de Esquerda é muito mais grave para toda a sociedade Portuguesa do que se possa pensar. Com a viragem do Bloco à direita, todos os que compõe o espectro político são como que obrigados colectivamente a virar igualmente à direita com receio de serem politicamente isolados.

Mas a verdade é outra completamente. A verdade é que a isolação cada vez maior dos atores políticos mais radicais em relações aos atores políticos institucionais não é o factor mais importante. O mais importante é o ponto a que a viragem colectiva á direita isola todos os partidos institucionais (leia-se, os partidos vendidos e domesticados pelo sistema dominante), isolando conjuntamente da população cuja esmagadora maioria adopta uma posição de compreensível desconfiança para com os partidos moderados (leia-se, partidos cobardes incapazes de fazer real resistência ao sistema, dedicando-se a causas menores e incontroversas).

O partido que se aperceber da existência deste crescente isolamento assim como aceitar o facto que este abismo só pode ser superado através da honestidade e da radicalização (leia-se, ter coragem para verdadeiramente confrontar os interesses e poderes instalados e consolidados). Se há um facto de que os ‘marxistas’ deveriam estar cientes é que a justiça social não pode avançar sem que haja um confronto entre os dominantes e os dominados. E neste momento o Bloco faz claramente parte do grupo dos dominados, no pior sentido.

João Silva Jordão

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11 respostas

  1. NÃO CANCELES OS TEUS SONHOS, Não faças do ano novo velho, não votes mais neles.
    Anda connosco, queremos democracia directa, no ano de 2013 haverá legislativas antecipadas, vamos dar-lhes luta e fazer do ano novo um ano jovem, diferente, derrotar este velho sistema do “Agora mamas tu, agora mamo eu”….
    Temos projecto, vamos derrota-los e julga-los, junta-te a nós…..

    No dia 01JAN13 começarás um ciclo de 365 razões para mudares, no dia das legislativas ajuda-nos a mudar de vida!
    não votes mais neles.
    UMA OPORTUNIDADE, TODOS DEVEMOS AGARRA-LA:
    Quantos anos faltam para escrever a história de hoje e que tipo de ditadura lhe vão chamar?
    “Se Portugal não negociar agora irá fazê-lo daqui a seis meses de joelhos”
    A frase não é de nenhum dirigente do BE ou do PCP. É o título de uma entrevista publicada hoje no Expresso, e o seu autor é Artur Baptista da Silva, coordenador do Observatório Económico e Social da ONU para a Europa; ONU que propõe uma uma renegociação da dívida portuguesa em três pontos, que me parecem bem razoáveis e sensatos.
    Claro que estes que nos governam, apoiados por um terço dos portugueses que dizem votar, não estão para aqui virados. A crise é uma oportunidade para negócios e vinganças. Acabar com os direitos conquistados, transformar Portugal numa estância turística com empregados dóceis, e distribuir ao Domingo distribuir esmolas pelos pobrezinhos. O sonho de uma vida, desde os bancos da jota. Clique na continuação deste artigo (e eventualmente nas imagens) para ler os textos publicados no Expresso:

    VAMOS MUDAR PORTUGAL
    Ajuda-nos, precisamos de ti, do teu empenho, da tua luta e da tua determinação “TRAZ UM AMIGO TAMBÉM”.
    Queremos ganhar as eleições, queremos democracia directa.
    Nada temos contra as ideologias, lutamos contra este sistema de partidocracia…
    Repito, o problema não esta nas ideologias, está no sistema, ganhe aquele que ganhar o sistema continua o mesmo….
    O sistema protege quem rouba, quem é desonesto, protege a mentira, o embuste….
    Eu não voto enquanto este sistema não for derrubado.
    Sem democracia directa continuaremos a ser roubados, oprimidos, enganados e espoliados..
    Vê e lê com atenção os estatutos dos partidos políticos e verás que todos se protegem.
    Estatutos partidários centralistas, protectores, corporativos são comuns a todos os partidos, beneficiam ainda de um sistema que os protege e que tão bem sabem usar para se abotoarem.
    Eu não acredito neste sistema, nada tenho contra as ideologias.
    Enquanto este sistema não for derrubado não votarei em ninguém.
    Nesta democracia podre não há inocentes, existem culpados e cúmplices.
    EU NÃO VOTO NÃO LEGITIMO UM SISTEMA QUE ALBERGA E PROTEGE GATUNOS., Vamos através da abstenção chegar à maioria dos portugueses que não acreditam nos partidos políticos e conseguirmos nas próximas eleições uma abstenção superior a 60%.
    Ficando assim, qualquer governo frágil à contestação de rua e de vitória em vitória provocaremos uma Assembleia Constituinte.
    Unidos até à vitória, os nossos filhos não nos esquecerão.
    Não votes…Votar em branco é concordar com o sistema, não votar é discordar, ou seja, votar em branco desde a alteração constitucional de 2005 que o voto é considerado nulo para efeitos de contagem.
    Assim, entendemos, aquele que vota em branco apenas não se revê no programa político de nenhum partido, mas concorda com o sistema.
    Quando te absténs, desde que o faças conscientemente, estás a passar a mensagem que o sistema está mal, se entretanto o fizermos de forma organizada, anunciando objectivos, as coisas mudam de figura, deixa de ser um mero discordar com este modelo democrático e passa a ter o sentido de não legitimação do governo que for eleito por parte daqueles que se abstêm.
    Digo-vos, Com este propósito, o apelo à abstenção é a melhor forma de servir a democracia, não tenham medo, com este propósito estamos a fazer política, a combater pelos nossos ideias, por uma sociedade mais justa, equilibrada e pela liberdade.
    Assim sendo, e conforme a actual Constituição da República (Ninguém pode ser perseguido por causa da sua orientação política) estamos a lutar por um país mais livre, estamos a lutar contra a ditadura partidária, pela liberdade e pelo país.
    Imagina quem em Lisboa, Porto, Braga, no dia das legislativas nos juntamos centenas de milhares a comemorar a vitória da abstenção, levaremos cartazes a apelar à democracia directa, exigiremos a condenação dos corruptos, lutaremos até à vitória final.
    A maioria, a larga maioria não votou ” GANHAMOS”.
    A mensagem quer a nível interno, quer a nível internacional, será clara, os portugueses querem mudar de sistema, querem democracia directa…. “Creio, desejo, que o exército nessa data defenda a constituição, respeite a vontade dos portugueses e faça que a mesma se cumpra, a larga maioria dos portugueses querem o fim deste regime”.
    Haverá cobertura do acontecimento, pois não se tratou de uma abstenção de quem não quer participar da vida política do país, trata-se antes, de uma abstenção consciente, que fez campanha, que luta, está atenta, que quer derrubar este sistema e exige democracia directa…..
    Que a abstenção ganhou as eleições, houve propósito, intenção, que os portugueses não aceitam este modelo, exigem mais democracia, que os portugueses não votaram conscientemente, que o fizeram de forma democrática com o intuito de alterarem este modelo que nos rouba, mente, espolia, ignora, escraviza e nos vende.
    Nesse momento, não haverá outro remédio, terá de ser nomeada uma Assembleia Constituinte e à semelhança da Islândia faremos a nossa democracia, somos homens, somos mulheres, somos capazes.
    UNIDOS SEREMOS MAIS.
    Enquanto não alcances, não descanses.
    Anda connosco, não tenhas medo, vamos mudar Portugal, dignificar os portugueses.
    PARTICIPA, VOTA NA ABSTENÇÃO, faz campanha connosco.
    E não te esqueças, aderentes de partidos são como os adeptos de futebol, não se importam que o árbitro roube, desde que seja em benefício deles, não confies neles, tu votas em partidos, são na realidade eles que escolhem quem te representa…..

    ADERE À NOSSA LUTA, NÃO PAGAS QUOTA NEM ELEGES CORRUPTOS.
    http://www.facebook.com/groups/queselixevotar/

    Vejam o vídeos a meio, pareceu-me ouvir oportunista Catarina responder, Não, mas aqui ganha-se melhor!

  2. Temos de abandonar os partidos, e procurar um sistema muito parecido com o Islamico, se bem, com introdução de novas tecnologias que permitem uma maior participação das massas…

  3. Defendo que os partidos tem de ser substituidos pelas universidades. As universidades devem competir entre si com projectos para a sociedade elaborados no ambito das suas varias faculdades. A suniversidade ganhadora, apos explicar e discutir com o seu projecto nos mass midia e apenas ai com as demais deve colocar os seus melhores professores como ministros e indicar quem quiserem para os lugares politicos uma vez que a administracao publica deve ter apenas lugares de carreira. A universidade vencedora devera governar o pais por seis anos nao podendo concorrer nas eleicoes seguintes. Tera de fazer uma pausa de seis anos para fazer novo projecto. Assim poderemos ter, coimbra, porto, minho, lisboa, tras -os- montes, algarve com possibilidades de governar o pais. Queremos mais racionalidade e menos emocao , mais argumentacao e menos retorica, mais accoes e menos palavras.

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