Egito, 30 de junho de 2013, cai Mohamed Morsi um ano após ter tomado o governo das mãos dos militares comandados pelo ditador Hosni Mubarak. A queda de Morsi se dá com o apoio dos militares à luta popular, os mesmos militares que massacravam manifestantes a favor de Mubarak agora estão a favor do povo e novamente no poder.
Daí a atual confusão midiática que horas define a situação como golpe militar, horas como processo de transição, horas como guerra civil ou revolução.
A expressão do cientista político egípcio Rabab El-Mahdi em sua página do facebook inspirou este texto e representa bem a situação: “A CNN e outros colegas da mídia: Vocês não podem ficar choramingando toda vez que sairmos às ruas para consertar as coisas. Isso é uma revolução e não uma transição democrática. Dê-nos tempo, nós criamos nossos problemas e nós os resolveremos”.
Pois é, ao longo da história importantes revoluções ocorreram em “fases duplas”, por exemplo, 1789 e 1793 na Revolução Francesa, 1916 e 1917 na Revolução Russa, 2011 e 2013 (até então) no Egito, dando provas que a primavera árabe já passou pelo verão, outono e inverno e ainda é latente. Podemos ainda mencionar a Grécia, a Turquia e muitos outros países.
E a parte que nos cabe neste latifúndio chamado Brasil? E a fecundação ocorrida em junho de 2013 do nosso embrião revolucionário? O período de dormência entre movimentos sociais pode ser um devaneio deste que vos escreve, mas também pode ser o vislumbre de uma centelha que irá deflagrar uma legítima revolução.
Nossa recente ida às ruas deu provas do potencial revolucionário brasileiro, porém hoje os interesses dos governantes e da mídia de rabo preso são nos convencer de que a vida deve voltar ao normal, pois tudo está sendo resolvido e ordenado.
É após esta primeira onda de entusiasmo que uma integração orgânica e verdadeira pode ocorrer. É neste interregno que o árduo trabalho do ser revolucionário se inicia em uma luta constante para manter a indignação e a garra pelo ideal de sociedade mais justa. Sabemos que este trabalho não é nada fácil, não é a toa que revoluções são tão raras.
E convenhamos, nenhuma revolução é “limpinha”. O Estado só atendeu a algumas das demandas populares por medo de perder o controle. É como diria Robespierre, o incorruptível: “Sem a virtude, o medo é fatal; sem o medo, a virtude é impotente”.
Hoje em dia quem deve temer quem?
Sandro Paulino de Faria
2 respostas
O caso do Egipto é um importante paradigma, na medida em que ultrapassa todos os cânones marxistas e respectivos dogmas do partido de vanguarda, ou dos grandes educadores da massas. O povo egípcio não precisou de nada disso para fazer a sua revolução. Apenas precisou de si pp, das suas forças, da sua determinação e capacidade de resistência. Não houve grupos esclarecidos, vanguardas revolucionárias nem organizações ou comités de bairro. Tudo foi feito na base. Não houve nenhum ataque nem nenhuma marchal triunfal ou não. O povo apenas se reuniu e resistiu. Resistiu heroicamente a todos os ataques, organizou-se nas bases, prestou auxílio aos feridos e carenciados e manteve as suas posições com força inabalável.
O que se passa no Egipto é menos uma revolução política do que uma revolta suscitada, pura e simplesmente, por uma crise malthusiana. Produção de petróleo em declínio + população triplicada em 40 anos + menos dinheiro do estado para subsidiar a produção agrícola = protestos. Com ou sem revolução, com ou sem democracia, os egípcios estão condenados porque excederam em muito a capacidade de carga do seu habitat, que, recordo, é um país no qual 93% da superfície é deserto.