Parte da sociedade brasileira sempre foi oposição a Bolsonaro. Trata-se daqueles setores médios ainda crentes na possibilidade (impossível diante da crise) de um desenvolvimento econômico via Estado com redistribuição de renda. Essa oposição, capitaneada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), foi crescendo e arrumando espaço para os mais variadores setores da sociedade. Hoje, velhos “inimigos” unem-se diante do perigo Bolsonarista, e vemos frentes com os mais variados partidos e setores. A oposição ao governo agora adotada pelos setores médios da centro-direita do espectro político e de alguns setores empresariais percebe-se já na mídia hegemônica, que tem fechado cerco diante dos ataques de Bolsonaro à mídia e aos jornalistas.
Bolsonaro produz todo dia um motivo diferente para instauração de processos de impeachment, que se acumulam na Câmara dos Deputados já em mais de trinta, o último deles protocolado coletivamente por diversos partidos de esquerda. Além disso, correm no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mais de oito processos de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. Dois deles retornaram à pauta nesta terça-feira, dia 09, mas são os quatro julgamentos – ainda não marcados – sobre o uso de notícias falsas (fake news) durante a campanha os que mais ameaçam a dupla de militares.
Bolsonaro, no cargo do Executivo Federal, desdobra-se entre duas direções: tenta constituir a sua base de apoio na Câmara dos Deputados, através da distribuição de cargos e verbas para emendas parlamentares, na tentativa de tornar impossível uma maioria que seja favorável a um pedido de impeachment. Por outro lado, segue “dobrando a aposta” e continua provocando tensões com os outros poderes (Superior Tribunal Federal e Congresso Nacional), visando um autogolpe. Na sinergia entre Bolsonaro e os militares – melhor dizendo, o “Partido Fardado” –, Bolsonaro é tutelado a caminhar na estreita e descartável posição de “para-raios sem fio terra”, para usar a expressão de Leirner, antropólogo brasileiro que há três décadas estuda as forças armadas.
A tônica da política brasileira desde janeiro de 2018 vem sendo esta: Bolsonaro, agente do Caos, já teria nos levado ao abismo, não fosse as instituições republicanas que resistem contra a barbárie. Essa tônica encontra lastro também na medida em que não há, de fato, uma oposição popular organizada e independente, tendo a maioria das manobras contra o governo partido da pífia “oposição parlamentar”. Por outro lado, a tônica pode ser também: Bolsonaro, contra tudo e todos, tenta revolucionar o Brasil, enquanto é pressionado pela podridão do Congresso Nacional e cercado pela “ditadura do Judiciário”, poderes interventores que aviltam o Estado de Direito.
Por trás desse teatro épico assenta-se, porém, tecendo as cordas cada vez mais grossas de suas marionetas, a única instituição com o poder e a virtude de estabelecer a “Ordem” é a instituição das Forças Armadas. Jair Bolsonaro, assim, na “obsolescência programada” que é seu governo, é a peça perfeitamente estragada que deve queimar, para que então as Forças Armadas venham apagar o fogo e, se preciso for, fazer uma substituição completa da máquina.
The final countdown

Já existem, entretanto, condições políticas e sociais para um golpe, qual tipo seja?
Primeiramente, devemos desmistificar o senso comum sobre o que é um golpe. Tanques e fuzis não são coisas anacrônicas, como bem mostrou a Bolívia, mas golpes se processam de diversas maneiras, e a “ruptura” deve ser analisada sem o véu ideológico do Estado de Direito: a democracia e as formas, limites e manifestações de suas liberdades são resultados de uma correlação de forças. A configuração institucional do “Estado de Direito” ameaça os interesses empresariais diante da atual correlação de forças? Eis a questão. A classe dominante não deixa ponto sem nó, não se dispõe a deixar de exercer seu domínio direto e encoberto através do Congresso, do judiciário e dos diversos governos estaduais e locais e, o mais importante, apesar de todo o “caos”, o proletariado brasileiro não está ameaçando a existência do capitalismo.
As diferenças em como os diversos setores empresariais lidam com as consequências do isolamento social, da pandemia e da crise econômica não comprometem, ainda, a unidade em relação às medidas econômicas que formam um dos principais pilares de sustentação do governo, através do ministro da economia Paulo Guedes e seu programa de reformas, leis e privatizações.
O momento é de um impasse político em que Bolsonaro tentará encontrar uma saída, necessariamente associada ás Forças Armadas, mas ainda não tem força material para isto; em que o Congresso Nacional tem forças para remover Bolsonaro institucionalmente, mas hesitam diante das complicações de um processo de impeachment (que colocará Mourão na presidência) ou novas eleições, num momento de crise econômica; e que as Forças Armadas reúnem todas as condições (políticas, sociais e militares) para avançar, e somente aguardam calmamente o fogo tomar conta, para que estes bombeiros de farda verde tenham livre o caminho para apagá-lo à sua maneira.
Uma resposta
Meu caro Sr. JONAS Bruck
Com todo o respeito que merece, o Sr. apenas esqueceu de analisar e comentar o PORQUÊ que nosso país BRASIL, chegou a tudo isso; O ROUBO ESCANDALOSO e sob todos os aspectos que olharmos, é que nos OBRIGA a buscar mudar a ESTRUTORA do GOVERNO que existia: CHEGA DE EXPLORAÇÃO PLENA; Temos um GOVERNO que gasta demais, elevando a arrecadação de IMPOSTOS a NIVEIS INTOLERAVEIS;
NOSSO SUOR precisa ser dirigido para novas OBJETIVOS, buscando o bem da maioria dos BRASILEIROS, e não apenas dessa classe POLITICA. (englobando aí, os 03 PODERES ou até 04 PODERES…Ministério Público.)
A busca desse OBJETIVO, é que faz o POVO que vem sendo SAQUEADO e DESATENDIDO ao longo dos ÚLTIMOS 30 a 40 ANOS, CONTINUAR SUA LUTA, buscando um SALVADOR (Não Ladrão), na EXPECTATIVA de ver seus ANSEIOS serem atendidos, especialmente com uma MENOR CARGA TRIBUTÁRIA, UMA SAUDE MELHOR, EDUCAÇÃO APROPRIADA, RESPEITO AO PATRIMONIO EM GERAL, E ACIMA DE TUDO MAIS RESPEITO AOS SERES HUMANOS, BUSCANDO UMA IGUALDADE MAIS FRATERNAL DE TODO O SEU POVO, TRABALHADOR E TOLERANTE DEMAIS.
Abraços Jose SERAFIM Abrantes.