A Revolução Acultural dos Estados Unidos

Mais de um mês decorrido sobre a morte de George Floyd e a polícia dos Estados Unidos continua omissa. Apenas aparece em situações pontuais, mas revelando uma invulgar impotência para lidar com as situações de rebelião e anarquia no espaço urbano. Depois dos protestos pacíficos e das reacções nas redes sociais, as acções mais activas do movimento BLM geraram uma espiral de revolta nacional e internacional que rapidamente levou a pilhagens e incêndios. O movimento Antifa juntou-se à luta e seguiram-se os ataques a lojas, incêndios de viaturas e edifícios e os confrontos diretos com polícias, muitos deles resultando em “vitórias” para os revolucionários. Bandeiras americanas queimadas ou rasgadas, estátuas de esclavagistas e de figuras nacionais da história norte-americana da confederação derrubadas e vandalizadas, filmes censurados, nomes de produtos ou serviços alterados, bandeiras censuradas, cemitérios vandalizados. O que começou por ser uma luta contra a brutalidade policial exercida em especial contra os afro-americanos, transmutou-se rapidamente numa luta contra o racismo, depois numa luta contra os valores de direita, uma luta contra os esclavagistas e daí avançou rapidamente para uma luta contra todos os símbolos norte-americanos, como presidentes, pensadores, militares e até absurdamente contra estátuas que enalteciam certas figuras afro-americanas da história dos Estados Unidos.

O ano de 2020 marca a paragem do mundo e já originou em muitos países profundas transformações sociais e económicas, umas positivas, outras marcadamente negativas. Depois dos incêndios, a pandemia, o confinamento, a crise económica, as falências e o desemprego, os indivíduos e famílias mais pobres e oprimidos começaram a ver-se sem viabilidade económica para sobreviver ao que resta deste ano fatídico. O desespero de quem já vivia no limite da sobrevivência, tornou-se explosivo no momento da filmagem em direto da morte sádica e racista de George Floyd. Se a China foi o Ground Zero da pandemia, o Minnesota foi o Ground Zero da Revolução Acultural dos Estados Unidos. Em apenas um mês a destruição de estátuas e modificação da história norte-americana já é comparável ao que se passou na China em 1966, com a Revolução Social instigada por estudantes e que levou à subsequente Revolução Cultural Comunista na China. A luta pela igualdade de direitos da comunidade negra é uma luta altamente legítima e, apesar dos esforços de Martin Luther King nos anos 60, ainda existe muita segregação racial no mundo do emprego e no acesso a bens e serviços. A população afro-americana é, em geral pobre, e tem sido claramente discriminada pela polícia, tendo como resultado inúmeras mortes desnecessárias e injustas no momento da detenção, muitas vezes até de cidadãos inocentes.

No entanto, a onda de violência que está a progredir exponencialmente e a desestruturar os Estados Unidos, lançando o caos e a anarquia sociais e afundando ainda mais a economia do país, deveria ser contida, neste ponto. Nos últimos dias, cidadãos “brancos” têm sido violentamente atacados na rua por gangs violentos organizados que espancam, indiscriminadamente, em alguns casos até à morte, pessoas de qualquer idade, inclusivamente idosos, bebés, crianças e adolescentes. Noutros casos, são obrigados a ajoelharem-se e até a beijarem os sapatos dos atacantes em sinal de humilhação perante a “raça negra” ou são atacados dentro dos seus veículos. Polícias filmados a serem espancados e humilhados, donos de lojas a serem agredidos violentamente, nalguns casos até ficarem inconscientes. Mas as acções dos gangs violentos não diminuem. Pelo contrário. Face à inacção da polícia, estão a aumentar e expandir as suas “iniciativas” em prol do racismo. Invadem restaurantes e interrompem os clientes de continuar as suas refeições, ocupam propriedades privadas ameaçando a segurança dos seus ocupantes e lançaram recentemente uma campanha para matar polícias, políticos e civis “brancos”. Ainda que os Estados Unidos tenham um historial social construído sobre protestos violentos, ninguém esperava assistir ao que se está a passar, em pleno ano pandémico.

O país com mais mortes por Covid-19 é também o país onde se está a dar a mais recente revolução social, sem precedentes na história recente? Poderá ser uma coincidência?

Aparentemente não. Depois do tsunami do confinamento, o terramoto social do racismo, promete levar os Estados Unidos a uma crise económica e social que o posicionará muitos pontos abaixo no xadrez político-económico mundial. A China prepara-se finalmente para assumir a sua posição de liderança da Ordem Mundial e certamente que os movimentos BLM e Antifa, em muito contribuíram para isso. No entanto, nos momentos que se seguirão, pela destruição já causada por esta revolução, as polícias e os movimentos da “supremacia branca” preparam o contra-ataque. Na realidade toda a estratégia de inacção policial parece esconder uma estratégia de “false flag”. Numa primeira instância, a vitória do “inimigo” gera excesso de confiança e aumenta o ódio das vítimas, que justificará a aplicação da Lei Marcial e de estratégias agressivas em nome da auto-defesa e auto-proteção. As ameaças coercivas aos lojistas para contribuírem com dinheiro para o BLM, já estão a originar a prisão dos líderes do movimento. O caos recente gerado em NY que obriga muitos lojistas a manterem os seus negócios encerrados e entaipados, face a ameçadas diretas, está a levar à falência milhares de pequenos negócios que não voltarão a abrir portas, no seguimento da crise económica gerada pelo lockdown. São prejuízos de muitos milhões que envolvem os proprietários, agências de seguros e bancos. Na polícia, a situação também parece complexa. Entre o perigo de enfrentar milhares de pessoas na rua em plena pandemia e a violência física e psicológica extrema vivida nas ruas, causada por gangs perigosos e organizados, muitos polícias com mais idade estão a pedir a reforma antecipada.

Que não restem dúvidas que o que vem a seguir vai ser opressão militar, instauração de vigilância total, recolher obrigatório e provavelmente Lei Marcial. Mas antes, o dia 4 de julho promete ser “quente” Entretanto, o movimento BLM continua a apelar à mudança. E para quem não acredita na estratégia encapotada e secreta que está por detrás desta aparente “revolução”, que assista ao excelente documentário “2020 La Rupture Ordo Ab Chao“, o qual resume brilhantemente em apenas 10 minutos o que está para vir.

Texto de Pedro M. Duarte

 

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2 respostas

  1. Temos de reconhecer que, em geral, o levante em curso em certas regiões dos EUA, nada tem de revolucionário e tem até muito de reaccionário. Muito raros foram os cartazes anticapitalistas. Alguns apelaram ao corte de verbas para a polícia mas nenhum exigiu que se parasse de financiar a loucura bélica do Pentágono, por exemplo. Mesmo a alegada comuna de Seattle, não passa de uma ilha controlada por alguns gangs negros apenas virados para si próprios, sem outro objectivo que não seja auto-isolarem-se e nada mais. Parece até que o poder lhes anda a dar corda para depois justificar uma repressão ainda mais violenta.

  2. O termo “Revolução” foi aqui utilizado pois referencia mudanças na organização estrutural de uma sociedade ocorridas num curto período de tempo. E esta revolução tem várias temáticas, sendo algumas delas o racismo, a brutalidade policial, a desigualdade, o enaltecimento de figuras históricas esclavagistas, tal como referido no texto. Se considerarmos que pode haver certos grupos de poder por detrás desta revolução, então percebemos porque não apareceram cartazes anti-capitalistas ou porque não foi atacada a indústria de armas dos EUA. Todos os sinais de inércia da polícia indicam que existe interesse em deixar instalar um certo caos social, para que depois se justifiquem sistemas de vigilância semelhantes aos que foram implementados na China e que controlam todos os cidadãos, a todo o momento, nos espaços públicos.

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