Nesta última semana temos sido surpreendidos com um desconfinamento irresponsável por parte de vários países e grupos das mais variadas sociedades. Precisamente no momento em que vários cientistas querem que a OMS divulgue oficialmente que o novo coronavírus se transmite não apenas por gotículas, mas também pelo ar, o mundo parece estar a confundir desconfinamento com o fim da pandemia. A reabertura dos Pub´s no UK, em especial em Londres deixou os cidadãos de todo o mundo boquiabertos. Milhares de pessoas nas ruas daquela capital, alcoolizadas, a consumirem drogas indiscriminadamente, a beberem sem parar. A loucura saiu literalmente à rua. Estará a Covid-19 a afetar significativamente as ligações nervosas do cérebro das pessoas?
Filipe Froes, médico consultor da Liga, resume os motivos que considera relevantes na sua análise do total falhanço do desconfinamento em Portugal, num artigo publicado no Jornal de Notícias. Segundo ele, ao contrário da mitigação, na fase atual não houve uma estratégia clara nem a capacidade de transformar dados epidemiológicos em conhecimento de saúde pública ou seja é preciso ir à procura do vírus e não do doente. Apesar das medidas avançadas pelo Governo e anunciadas pelo Primeiro-ministro sobre as festas e aglomerações de mais de 10 pessoas, as festas, sobretudo entre os jovens continuam a realizar-se, sem as devidas penalizações anunciadas. Em Fernão Ferro, na Quinta da Lobateira, na noite de sábado dia 4 de Julho, realizou-se uma festa com cerca de 300 jovens. A polícia foi chamada ao local por denúncia mas limitou-se a “informar” os organizadores e participantes que convocaram e publicitaram o evento nas redes sociais, não aplicando qualquer coima conforme estabelecido pelo Governo no diploma da DGS: “Regras definidas pela Direção-Geral da Saúde (DGS) para o combate à pandemia de covid-19”.
Portanto, o crime compensa. E esta ideia de impunidade fará com que este desconfinamento origine quase inevitavelmente uma 2.ª vaga da pandemia. Por todo o lado estão a aparecer focus de infeção, como o de 70 cidadãos brasileiros em Benavente. As festas de estudantes na Guarda. Ou o facto de mais de 50% das lojas Pingo Doce terem funcionários infetados. Os surtos em lares também dispararam exponencialmente por todo o país, com as visitas de familiares. Enquanto isso, o Luxemburgo culpa a comunidade portuguesa de estar também a infetar a sua população. Nos Estados Unidos, o país com mais mortes e mais casos até ao momento, entre as manifestações do BLM e da Antifa, as praias sobrelotadas e as celebrações do 4 de julho, todos parecem ter esquecido totalmente a pandemia. O Brasil continua a enterrar centenas de pessoas por dia, e a Índia passou para terceiro lugar mundial no número de casos.
Por cá, apenas um terço dos doentes infetados são contactados pela DGS. Resta-nos esperar para ver se este desconfinamento vai fazer literalmente “explodir” a pandemia e levar ao caos as urgências hospitalares. Com as economias nacional e global já semi-destruídas, se o mundo começar a voltar ao lockdown, nem que seja apenas em algumas regiões, vamos ter realmente de repensar todo o modo de vida e começar praticamente do zero, neste início do século XXI.

Texto de Pedro M. Duarte