O último relatório Panorama da Biodiversidade Global das Nações Unidas refere uma destruição sem precedentes da vida selvagem e da biodiversidade nos últimos 50 anos. Neste período de meio século a raça humana destruiu dois terços da vida selvagem. Não é preciso ser matemático ou cientista para entender que o restante terço que ainda resiste não levará mais do que 20 anos a desaparecer por completo. E o que vamos fazer, enquanto espécie, num planeta destruído com 8 biliões de pessoas a precisarem de ser alimentadas todos os dias e a consumirem o que consomem atualmente?
A resposta já a conhecemos: NADA ou praticamente nada será feito para alterar este estado de coisas por parte dos políticos. O esforço de alguns cidadãos e organizações, os que verdadeiramente estão a tentar travar a luta contra a destruição, verão os seus esforços como inglórios, malogradamente. Os níveis de destruição da Natureza ao nível planetário são já irreparáveis. E o pior é que a quantidade de países pobres, que alimentam a minoria de países ricos, estão em crescimento económico graças à destruição dessa mesma Natureza. E não vão parar. Limitam-se a seguir em frente, na esperança de conseguirem melhorar as suas vidas miseráveis. A raça humana atingiu um ponto de não retorno. O modo de vida que levamos atualmente foi criado por uma economia gananciosa. E os resultados estão à vista.

O turismo de massas dos últimos anos levou ao esgotamento de tantas cidades interessantes e locais pitorescos ou únicos. Os turistas apenas querem repetir a fotografia da moda, que aparece nas redes sociais, num mimetismo simplesmente alucinado e contagioso. Limitam-se a vulgarizar as culturas locais, a gerar um comércio de souvenirs de baixa qualidade, a destruir o verdadeiro artesanato e a sujar, estragar e contaminar a energia de paisagens e recantos naturais outrora sagrados e preservados. Querem viajar apenas para apascentar o vício de repetirem o que vão vendo no Instagram, Facebook ou Twitter. As centenas transformaram-se em milhares e hoje são aos milhões por dia, nos sítios mais turísticos. Geram verdadeiros infernos nos aeroportos, nas filas dos monumentos ou museus. Viajar começa a ser um sacrifício, mais do que um prazer relaxante.
Mas o turismo é apenas um dos muitos sinais visíveis deste consumismo global destrutivo. A facilidade com que se deitam fora eletrodomésticos, aparelhos informáticos ou telemóveis, vulgarizaram a ideia do consumismo circular infinito, incrementado pela moda, pelo marketing agressivo ou pela obsolescência programada industrial. Comprar novo é muito mais barato do que reparar, apesar da falta de lógica material deste processo. E tudo isto é gerado por uma economia monstruosa que apenas pretende crescer, a quaisquer custos. E os custos são neste momento da história da humanidade, a sua própria sobrevivência. Estamos na curva final da sobrepopulação, repetindo a história da extinção dos dinossauros. Mas desta vez o meteorito destrutivo somos nós próprios. Nós e o nosso consumismo compulsivo.

A única forma de tentarmos reduzir os níveis de autodestruição consiste na redução do consumismo desenfreado e descontrolado e passarmos a consumir o estritamente necessário para vivermos no nosso dia a dia. Ainda que possa parecer reducionista e impossível de realizar, esta medida permitiria ganharmos algum tempo, enquanto medidas a nível global seriam implementadas para restaurar as florestas e o meio-ambiente e para desenvolver e implementar massivamente tecnologias limpas. Os políticos têm de ter o mesmo nível de iniciativa que demonstraram, de uma maneira geral, para a pandemia que se abateu nas nossas vidas este ano. Se colocarem o mesmo empenho na luta contra a destruição da vida selvagem, então talvez ainda consigamos ir a tempo. Caso contrário, as pandemias, a fome e guerras pela água, alimentos e sobrevivência passarão a ser o verdadeiro problema social a partir de 2030, ou mesmo antes.
Infelizmente, a experiência do confinamento deste ano, foi apenas uma pequena amostra do quotidiano que nos espera num futuro muito próximo. A economia abrandou e a recessão profunda instalou-se imediatamente para os próximos 4 anos, com apenas 6 meses de vivência pandémica global. Esta paragem serviu de teste e de aviso, simultaneamente. Aos que não acreditam, resta-me deixar-lhes esta mensagem: não se preocupem em não acreditar; a realidade vai superar a crença. Vamos todos viver o purgatório anunciado. E mesmo assim, os negacionistas das evidências só vão ver a luz, minutos antes de enfrentarem o seu próprio destino fatídico.
Texto de Pedro M. Duarte