Nos últimos anos muitas séries de drama norte-americanas dirigidas especialmente para adolescentes, abordando com frontalidade os temas que mais assombram a camada mais jovem da população mundial face às crescentes questões sociais, têm acumulado enormes êxitos de audiências, o sonho de qualquer produtora de televisão. Embora compreendendo a necessidade inerente do lucro do investimento e das audiências, nem tudo vale, ou deve ser permitido, no mundo da televisão. No entanto, parece que o canal HBO está apostado em séries em que todo o tipo de crimes tem uma dualidade permissiva, nalguns casos até demais, como é o caso de Ozark, a série que ensina a lavar dinheiro da droga. É também o caso da série Euphoria para a qual o canal selecionou a celebridade Zendaya como principal atriz, no papel de uma adolescente perdida emocional e socialmente, que luta para deixar as drogas sintéticas. Mas nem mesmo as reabilitações sucessivas a conseguem salvar do seu destino fatídico de se perder no êxtase psicadélico destas substâncias químicas, que lhe permitem evadir-se da sua vida presa no limbo da indefinição e da dúvida existencial.
Criada por Sam Levinson, a série que estreou em junho de 2019, foi baseada na minissérie original israelita de 2012, com o mesmo nome e é essencialmente um manual detalhado de como os jovens podem dar largas à sua imaginação para experimentarem todas as perversidades do mundo moderno, sem sofrerem praticamente quaisquer tipo de consequências legais, já que quase todos os vilões da série conseguem facilmente contornar as leis através da sua astúcia, também ela perversa. Sendo o lobby judeu proeminente no mundo da sétima arte e das artes em geral, não é de espantar que Euphoria tenha tido um feedback tão profusamente positivo por parte dos críticos que são na sua maioria pagos pelos stream media para favorecerem os grandes grupos e lobbies económicos, nomeadamente as próprias cadeias de televisão que lhes pagam. Estes opinion makers e influencers da crítica artística acabaram por elevar artificialmente a série de tal forma, que chegou mesmo a receber nomeações para o British Academy Television Award como Melhor Programa Internacional e para o TCA Award de Melhor Série Notável. A pop star Zendaya em muito contribuiu para a divulgação e popularidade da série junto das camadas mais novas, sendo o veículo primordial na disseminação da febre pelas redes sociais.
Nas suas multifacetas camaleónicas de cantora, compositora, dançarina e dobradora de vozes, Zendaya é apenas mais um exemplo de como uma inocente jovem “princesa da Disney” (as séries ‘Shake it Up’ e ‘KC Undercover’, lançaram-na no mundo da fama) se transmuta num veículo cultural de todo o tipo de perversidades da sociedade adolescente. Os casos também conhecidos de artistas lançados inicialmente pela Disney como Britney Spears, Cristina Aguilera, Miley Cyrus, Alessia Cara e Ariana Grande estão a tornar-se numa estranha tendência, que passa uma mensagem fortemente sexualizada da mulher, para as camadas mais jovens, de que a inocência deve ser obrigatoriamente abandonada no período da irreverência adolescente para dar lugar a todo o tipo de perversidades oferecidas pelos luxos da liberdade sem limites da sociedade consumista, que acabou por sexualizar múltiplos aspetos da vida em geral, contrariando casos pontuais de revolta social como aconteceu com o movimento global #meetoo. Por ser veículo de toda a agenda LGBTQIA+ em doses massivas de brainwashing não só a série foi nomeada para vários prémios, como a atriz principal, a própria Zendaya foi premiada com o Primetime Emmy Award e o Satellite Award na categoria de Melhor Atriz em Série Dramática, pela sua medíocre e “apagada” atuação na série.
Devido aos êxitos acumulados em dólares, nesta fabricação e fabulação artificial da máquina de Hollywood, pelo sucesso mediático de Euphoria, a série acabou por ser renovada para uma segunda temporada, que promete ser ainda mais subversiva do que a primeira. O que choca verdadeiramente no desenrolar da trama é a gratuitidade com que se tratam problemas juvenis graves, que são incorporados no drama por diversas personagens sem densidade, as quais mais não fazem do que mostrar quão cool é violar as regras sociais estabelecidas. É um manual exemplificativo em imagens vivas (sabemos bem o poder de influência que tem do cinema no mundo real) de como ficar sempre por cima cometendo crimes puníveis social e penalmente como Pedofilia Consentida, Cybersex, Drogas, Violência Sexual, Revenge Porn e Bullying. Os vilões superam o fraco braço da lei e rompem as regras passando uma péssima mensagem aos mais jovens, que interpretam a mensagem de que cada adolescente tem em si um herói potencial, mas neste caso, um herói-vilão, um herói do dark side, potenciado pelas drogas psicadélicas sintéticas, pela cocaína e heroína, pelo uso abusivo do álcool e por um comportamento delinquente e desregrado generalizado. Euphoria é tudo isto e é vendido num pacote fechado, especialmente dedicado aos públicos mais jovens como uma das séries contemporâneas mais sexy, trendy e kinky.
Quando comparamos esta série juvenil com outras também recentes que atingiram grandes audiências como Sexual Education, 13 Reasons Why, A Teacher e White Lines existe uma diferença abissal. É que Euphoria é a única de entre estas que é verdadeiramente amoral, não distingue o bem do mal, antes pelo contrário. Parece fazer a apologia do mal como o único caminho para se ser aceite socialmente nos liceus e nas universidades, junto de certos grupos, associações estudantis ou fraternidades (as que acabam por aliciar jovens para as perversas e corruptas sociedades secretas elitistas). Na passagem da idade adolescente para a idade adulta, muitos jovens são atraídos para mundos que fazem lucrar muitas máfias como as do sexo, da droga, corrupção e até do crime urbano. E a HBO exagerou nos estereótipos da perversão. Os pais, que poderiam servir aqui de elemento de moralização e ajuda, são também eles fonte de perversão dos mais novos, nalguns casos até de menores. E muito cinicamente a série apresenta no início e no final de TODOS os episódios o seguinte aviso: “the following episode contains violence, nudity and sexual content that may be disturbing to viewers”. E no final de cada episódio apresenta também cinicamente a falsa mensagem de ajuda (talvez para se livrar de possíveis ações legais devido aos conteúdos apresentados): “if you or someone you love needs help text EUPHORIA to 741741 or visit EuphoriaResources.com”. Mas entre estes dois avisos, passam uma hora inteira de todo o tipo de perversidades sexuais e criminais que mais não é do que um manual de instruções de como fazer, para quem ainda não sabe como, ou para quem se sente mais tímido perante este “novo mundo”.
De entre todas as personagens disfuncionais que entram em Euphoria destacam-se:
- Rue Bennet – viciada em drogas sintéticas, não consegue ter êxito na reabilitação; vive sem rumo, numa cena do último episódio, ainda que na imaginação, Rue ata um colega a uma cadeira, pega-lhe fogo e mata-o a tiros enquanto este gritava de dor;
- Kat Hernadez, uma estudante pré-universitária que descobre o cybersex, cobrando em bitcoins aos seus clientes, homens de meia-idade com os quais estabelece até relações de amizade;
- Jules Vaughn, uma excêntrica transgender menor que oferece o seu corpo a homens mais velhos em motéis baratos a troco de prazer e afirmação com o seu próprio corpo;
- Cal Jacobs, um adulto, pai, casado que faz sexo com rapazes e transexuais menores em motéis;
- Nate Jacobs, filho de Cal Jacobs, atleta de raguebi no liceu e que exerce violência sexual sobre as suas namoradas as quais viola agressivamente sem qualquer sentimento de amor e que as ameaça com revenge porn;
- Ashtray, um miúdo que vende hambúrgueres e droga a toda a comunidade juvenil local;
- Fezco, um jovem traficante de drogas que se debate entre o lucro e a moralidade de vender todo o tipo de drogas a menores e adolescentes, pressionado por perigosas máfias mexicanas;
- Maddy Perez, uma latina que se veste indecorosamente e que aceita a violência sexual do seu namorado nate, a troco de uma vida estável socialmente (Nate é de famílias ricas);
- Cassie Howard, com um passado de pornografia na internet, não consegue superar a sua fama de estrela do sexo, junto dos seus colegas de liceu e amigos;
- Christopher McKay, um jovem negro que a troco de reconhecimento da fraternidade, faz tudo o que lhe mandam os corruptos e perversos colegas mais ricos;
Estes são os estereótipos da contemporaneidade, sem filtros, para jovens. Um manual de como alimentar uma sociedade do vazio, do imediato, do consumismo pelo consumismo. Uma sociedade amoral. Estes serão também os adultos do futuro próximo, num mundo dominado por drogas, sexo e violência. O expoente da decadência do Ocidente trazida a nossas casas pela televisão e vendida como produto de luxo e de consumo. O lixo de luxo, como alguns lhe chamam.
Bem-vindos ao Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.
Texto de Pedro M. Duarte
2 respostas
A gaja é boa
As explícitas tendências tenebrosas muito bem identificadas pelo Pedro já há alguns anos vinham sendo desenvolvidas e cultivadas por alguns autores de BD semi-underground, numa espécie de antecipação da deriva vergonhosa que certos gurus insistem em espalhar e que se caracteriza sempre por um pequeno e limitado conjunto de lugares comuns. O primeiro e mais importante é a criação de pseudo-personagens, detalhe que partilham com a literatura de cordel. Nenhuma daquelas personagens chega a ser pessoa. Não passam de simples objectos, bonecos virtuais, sem alma e sem dimensão de qq espécie, sem objectivos, valores. Sequer pretendem viver. Claro que essa não-dimensão, essa despersonificação é indispensável para fazer passar os temas recorrentes da violência mais absurda e gratuita que se possa imaginar e de todos os tipos e niveis mais abjectos. As ideias, sentimentos, anseios, sonhos e esperanças características bem humanas, deixam de existir. Os seres arrastam-se totalmente à deriva, sem noção seja do que for, no mais total e absoluto nihilismo e egocentrismo. Para todos esses, a Humanidade sequer existe. Eles pp também não. Apenas vegetam e anulam-se a si e aos outros. Importaria perguntar a quem servem estes cenários?