Na política como na vida, uma das armadilha mais perigosa é a de acreditar que “as pessoas são estúpidas”. Parece ser uma crença muito comum, cada vez mais comum. Pior ainda. A maioria das pessoas que ouço falar da questão parece acreditar que “a maioria das pessoas são estúpidas”, ou algo do género. Mas e se mais de metade da população acreditar isso? Parece-me óbvio que quando alguém diz “as pessoas são estúpidas”, não estão, claramente, a falar delas mesmas, ou seja, não é uma autocrítica, mas sim uma forma indirecta de declararmos a nossa suposta superioridade intelectual. Pior ainda. Se mais de metade da população acreditar que “as pessoas são estúpidas”, então estamos perante uma situação onde temos uma série de indivíduos a insultarem-se a si próprios, sem se aperceberam. Temos então um colectivo a auto-declarar-se como sendo estúpido sem se aperceber.
Para além disso, se acreditarmos que a maioria das pessoas são estúpidas, vamos tender naturalmente não só para o cinismo pernicioso, mas vamos inevitavelmente adoptar ideologias políticas autoritárias assim como uma atitude condescendente para com os outros membros da sociedade a que pertencemos. Não me parece que este tipo de mentalidade seja conducente a soluções políticas ou econômicas nem justas nem progressivas.
De forma a explorar em maior detalhe a psicologia das estruturas inerentemente arrogantes e elitista, lembramos aqui uma parte do texto “A Arrogância Maçónica”:
“o pensamento Maçónico é inerentemente elitista, defendendo que somente uma pequena porção da sociedade merece respeito. Afirma que somente uma minoria é capaz de tomar as suas próprias decisões, sendo o resto da população como gado, cuja vida é inconsequente e cujo intelecto é limitado. Longe de ser uma crença periférica no pensamento maçónico, este profundo elitismo e a arrogância que cultiva nos membros da Maçonaria é absolutamente central aos rituais e práticas da Maçonaria assim de como muitas outras sociedades secretas. A crença que defende que toda e qualquer sociedade necessita de uma classe dominante iluminada e esclarecida para salvar a população inútil da sua detestável e fútil existência é tão fundamental na filosofia maçónica que dois dos livros de filosofia maçónica mais influentes começam com afirmações que visam inculcar tais crenças nos seus iniciados. Os primeiros parágrafos do ‘mestre’ Maçon de 33º grau, Albert Pike, que além de maçom era também uma figura importante do infame Ku Klux Klan, demonstram explicitamente esta falta de humildade assim como a visão de uma sociedade hierarquizada dominada por uma elite ‘iluminada’:
“A Força, incontrolada ou mal controlada, não é apenas desperdiçada no vazio, tal como a pólvora queimada a céu aberto e vapor não confinado pela ciência; mas, golpeando no escuro e seus golpes atingindo apenas o ar, ricocheteia e se auto atinge. É destruição e ruína. É o vulcão, o terramoto, o ciclone, não crescimento ou progresso. É Polifemo cego, batendo sem direção, precipitando-se entre as rochas pelo ímpeto de seus próprios golpes.
A Força cega do povo é uma Força que deve ser economizada e também controlada, como a Força cega do vapor, que levanta os poderosos braços de ferro e gira as grandes rodas, é feita para furar e tornear o canhão e para alcançar o laço mais delicado. Precisa ser regulada pelo Intelecto. O Intelecto é para as pessoas e para a Força das pessoas o que a delicada agulha da bússola é para o navio – sua alma, sempre orientando a enorme massa de madeira e ferro, e sempre apontando para o norte. Para atacar as cidadelas construídas por todos os lados contra a raça humana por superstições, despotismos, preconceitos, a Força deve ter um cérebro e uma lei. Então, ela ousa conquistar resultados permanentes, e aí há progresso real. E acontecem conquistas sublimes. O Pensamento é uma força e a filosofia deve ser uma energia, encontrando seu alvo e seus efeitos no aprimoramento da humanidade. Os dois grandes motores são a Verdade e o Amor. Quando todas estas Forças se combinam, guiadas pelo Intelecto, reguladas pela RÉGUA do Direito e da Justiça, e com movimento e esforço combinados e sistemáticos, a grande revolução para a qual as eras se prepararam começara a marchar. O PODER da Própria Divindade está em equilíbrio com Sua SABEDORIA. Em consequência, o único resultado é a Harmonia.” (Pike, 1871: 7)
Já Manly Palmer Hall, outro ‘mestre’ maçom de 33º grau, começa igualmente o seu livro ‘Os Ensinamentos Secretos de Todas as Épocas’ defendendo posições igualmente elitistas:
“Quando são confrontados com um problema que requer a utilização das faculdades da razão, indivíduos de intelecto preservam a sua postura, e procuram chegar a uma solução através da obtenção de factos relativos à questão. Aqueles com uma mentalidade imatura, ao contrário, quando confrontados desta forma, ficam perplexos. Enquanto que o primeiro grupo é qualificado para resolver o enigma do seu próprio destino, o segundo tem que ser direcionado como um rebanho de ovelhas e ensinados com linguagem simples. Eles dependem quase inteiramente da ministração do pastor. O apostolo Paulo disse que estes pequenotes devem ser alimentados com leite, mas que porém a carne é o alimento de homens fortes. A falta de capacidade de pensamento é equivalente com a infância, enquanto que a capacidade de pensar profundamente é um símbolo de maturidade. Existem, porém, poucas mentes maduras no mundo…” (Hall, 1928: 1)”
Numa sociedade em que a maioria das pessoas acredita “as pessoas são estúpidas”, é como se a maioria da população tivesse internalizado, sem se aperceber que ao fazê-lo se está a insultar a si mesma, uma espécie de arrogância maçónica- mas sem ter os benefícios materiais e filosóficos de pertencer à maçonaria, ou a uma qualquer outra sociedade elitista, normalmente traz. Enquanto que a arrogância própria das ditas “elites” económicas, intelectuais e políticas é perigosa, imoral e potencialmente assassina, a arrogância de pessoas absolutamente vulgares é somente patética.
João Silva Jordão
Bibliografia:
HALL, Manly Palmer; 1928; ‘Secret Teachings of All Ages- An Encyclopedic Outline of Masonic, Hermetic, Qabbalistic and Rosicrucian Symbolical Philosophy’; Pacific Publishing Studio, United States
PIKE, Albert; 1871; ‘Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry’; Lits, Las Vegas
Uma resposta
Em Portugal isso nao deve ser assim.
Nao ha motivo para numa sociedade democratica haver grupos secretos, acho isso um contrasenso.
Mas, conheço maçons ,uns que andam nas paginas de jornais e outros de quem ouvi falar que estao na base da hierarquia social. No que toca às familias de origem, aos graus academicos, a cultura qie tem.
Acho que em Portugal sao meros grupos de pressao para conseguirem negocios e emprego para o qual nao podem concorrer com os que verdadeiramente merecem.