Eleição Presidencial de 2021 – A Eleição Onde Não Aprendemos Nada

Não posso dizer que tenha aprendido alguma coisa durante as eleições presidenciais para a República Portuguesa de 2021.

Até posso dizer que não aconteceu nada de particularmente notável no dia 24 de Janeiro de 2021. Nada. Quem aprendeu alguma coisa nova durante as eleições, é certamente por ter andado algo desatento. Acontece. Mas não aconteceu nada de particularmente notável, isso é relativamente fácil de demonstrar. Vejamos.

A Nova Direita está a subir em todo o mundo. Em Portugal também. Exceto que em muitos países ganharam. Aqui penso que a memória recente do 25 de Abril vai, por agora, vai provavelmente limitar a Nova Direita aos 20-25%, o que quanto muito lhe dá direito a formar um governo de coligação nas próximas eleições. E o previsível é, inconsequentemente de quanto poder conseguir ganhar durante os próximos anos, que, como o resto da Nova Direita, depois entre num ciclo de colapso e descida de aprovação popular.

O centro esquerda está em boa saúde. Somente ficou dividido entre uma candidata de centro esquerda, de Ana Gomes, e uma de centro direita, do Marcelo Rebelo de Sousa. Este tipo de divisão dos votos acontece de uma forma particularmente acentuada quando existe um perigo fascista que assusta os eleitores de esquerda, alguns dos quais depois se colam à direita, como aconteceu quando o Chirac (centro-direita) venceu por 82%-18% contra o pai Le Pen (extrema-direita) nas eleições Presidenciais Francesas de 2002.

Já a esquerda dita “radical” está perdida e com pouca tração popular, mas não é de agora. Está também dividida em dois, cada uma com a sua maneira preferida de ser lunática e completamente desligada da realidade.

Temos a esquerda betinha e adolescentizada, obcecada com questões hormonais e identitárias– a grande parte dos seus apoiantes tem uma necessidade obsessiva em ver-se como sendo diferente da maioria, vêm-se como sendo especiais, únicos, etc., ora, toda a sua identidade depende dos crença de que não fazem parte da tão detestada maioria. Segue-se naturalmente que quando é obrigada a tentar apelar a esta mesma maioria durante o acto eleitoral, o tom sai sempre arrogante, desligado da realidade, e condescendente. Obviamente a maioria das pessoas sente uma repulsa total por esta corrente, ou pelo menos alguma desconfiança, sendo esta corrente sobretudo representada pelo Bloco de Esquerda.

E depois temos a esquerda Leninista, ideologicamente intransigente mas que ainda não se apercebeu que as revoluções Leninistas não se enquadram nem vão acontecer tão cedo no Ocidente Industrializado. O seu contingente está programado para constituir partidos “revolucionários” altamente hierarquizados. Não se aperceberem que as pessoas não querem sair do trabalho para depois ir militar num partido em que um qualquer intelectualoide arrogante lhes vai dar ordens sem receberem sequer um salário por isso. Obviamente as pessoas não aderem. Também é a malta que diz que “o fascismo não se destrói nas urnas” quando é óbvio que esta Nova Direita depende absoluta e completamente de vitórias eleitorais para sobreviver, enquanto que maus resultados tendem a implodi-la (ver o Trump).

O centro direita também está perdido, e isso vai-se ver nas eleições legislativas. Somente que o Marcelo é uma personagem à parte, que depende pouco do seu partido, é visto como o candidato mais capaz de gerar consensos e falar de uma forma nobre e compreensível. Ganhou facilmente como era de esperar.

E a Nova Direita, aqui como lá fora, tem uma ascensão rápida. Fala de maneira forte e assertiva, agrega os homens que foram afugentados pela esquerda “radical”, fala de corrupção e capitaliza com o ódio à esquerda e tudo o que ela representa hoje em dia- as minorias étnicas e religiosas, e o movimento LGBT, este último secretamente odiado pela maioria das pessoas.

Anseio pela emergência de uma esquerda que se livre destas armadilhas, a qual se consiga concentrar num programa dito Social Democrata, mas sem estar comprometida com o sistema como o centro esquerda actual, representado pelo Partido Socialista, está. Ou seja, é preciso uma esquerda efetivamente radical, mas sem estas obsessões inúteis e que não funcionam. E quando digo “radical”, digo isto em plena consciência. Hoje em dia defender uma boa alimentação, educação, saúde e habitação, para todos, não só em Portugal, mas também no mundo, e levar isso até às últimas consequências, é completamente radical, de tão longe que estamos dessa realidade.

O PCP até é, de certa forma, esta esquerda, mas perde meramente pela associação ao nome “Comunista” e à União Soviética, e à medida que o tempo passa, esta associação provoca-lhe danos eleitorais cada vez mais fortes.

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Uma resposta

  1. Por isso o PC (recuso chamar -lhe português)
    Nunca concorreu a qualquer eleição desde 1975 com a sua sigla. Arranjou sempre uma muleta.

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