O Fraccionamento da Resistência que nos Relega à Ineficiência

Como disse Hegel, a história não evolve em círculos, mas sim em espirais. Querendo isto dizer que a história não se repete de maneira exata, evoluindo sim seguindo eixos constantes produzindo paralelos flagrantes. Estes paralelos porém são muitas vezes ignorados pelo individuo de pouca visão, que não os consegue identificar por estar demasiado concentrado nas pequenas diferenças, ignorando assim as grandes semelhanças. Portugal está em convulsão, e um dos padrões históricos que se repete presentemente é a tendência para a proliferação de movimentos, partidos e fações em momentos de incerteza política. Paradoxalmente, é nos tempos de maior dificuldade social que se constatam as maiores divisões políticas. É quando mais precisamos de unidade que cultivamos a divisão. E esta facto não é somente detestável e contraproducente- é fácil de compreender, sobretudo no contexto atual. O povo que tanto ouve o governo chamar à unidade apercebe-se com facilidade que o apelo à união por vezes esconde tentativas de controlo e censura pela parte dos agentes que mais beneficiam com uma população passiva e covarde. Porém, somente a falta de unidade é que permite ao estado Português reprimir as manifestações através da brutalidade policial e das campanhas de difamação propagandistas contra os movimentos de resistência.

Repressão Policial em Lisboa, 22 de Março 2012

Mas o fracionamento traz também várias dificuldades organizacionais e logísticas, pois retira dos movimentos de ativismo político a capacidade de agir de forma coesa e consistente. Em Portugal, a cada semana emerge mais um movimento, mais uma plataforma, mais um grupo. E muitas vezes entram em conflito, pois o numero de movimentos políticos aumenta a maior velocidade do que aumenta a população que se dispõe a juntar a eles. E muitas vezes, a discrepância entre estas duas variáveis estão intrinsecamente ligadas, pois muitos Portugueses não se juntam aos movimentos de resistência por estes serem demasiado sectários e fraternais. É óbvio portanto que o movimento de resistência beneficiaria ao cultivar a união para poder aumentar o seu contingente e o seu poder de agência. A situação presente demonstra que estes muitos grupos têm um impacto reduzido por serem dispersos e contraditórios, afugentando a população  que está frustrada mas que permanece, por enquanto, relativamente inerte.

Confrontos entre a CGTP e os Precários Inflexíveis

Um dos melhores exemplos desta divisão foi a agressão de que foi vitima um membro do grupo ‘Precários Inflexíveis’ pela parte de membros da CGTP. Longe de ser um exemplo que demonstra que os movimentos de resistência lutam entre si, é mais um indicador da falta de coesão entre os verdadeiros movimentos de resistência, pois a CGTP não se pode considerar como fazendo resistência alguma, sendo claramente um agente do estado disfarçado, sendo que o grupo que foi agredido não se juntou à verdadeira manifestação (‘verdadeira’ porque as da CGTP são uma tradição e não uma fonte de verdadeira contestação) graças a divisões entre os diferentes grupos políticos que têm vindo a emergir. Podemos porém, mesmo constatando a subserviência da CGTP aos interesses do governo, aprender algo com o seu formato, sem por isso ter que imitar o seu comportamento. A força da CGTP provem do seu conceito, e não da sua integridade. O seu conceito é de ser uma plataforma para os diferentes sindicatos. É imperativo criar uma plataforma similar que una os verdadeiros movimentos de resistência, uma plataforma que seja uma verdadeira tentativa de cultivar a união e a força entre os membros que ainda preservam, por enquanto, a sua integridade e que representam um incomodo para a ordem dominante. Perpetuar as limitações logísticas provenientes da vontade que cada um tem para liderar grupos pequenos impede a criação de uma frente verdadeiramente abrangente e eficiente que possa proporcionar uma verdadeira alternativa ao estado Português. O estado está verdadeiramente doente e corre presentemente um sério risco de colapso, sendo que a produção de mecanismos que possam vir a cultivar uma coordenação eficiente entre os grupos que o poderão vir a substituir é imperativo. A divisão pelo contrário só facilita a opressão e censura dos mesmos.

Portugal vive uma situação muito similar à da República Weimar e à da época que precedeu a revolução Francesa. Os movimentos que contestam o estado são muitos, demasiados. E somente os mais organizados poderão verdadeiramente ser catalisadores para a transformação que tanto necessitamos. Foi notado que os Jacobinos não eram, de forma alguma, o único grupo do seu género durante a revolução Francesa, mas eram os mais organizados, e tinham um ponto de encontro estratégico, e por essa razão tiveram capacidade de influenciar a história. Temos rapidamente que por as nossas diferenças de lado e juntar forças, o que passa inevitavelmente pela articulação de objetivos e crenças comuns. Uma das razões porque não o temos conseguido fazer é porque articulamos as nossas crenças de forma negativa e não positiva, querendo isto dizer, que sabemos o que não queremos com mais precisão do que sabemos o que queremos exatamente. Quando se produzir uma plataforma que seja assertiva e convicta, em vez de ser unida somente pela sua oposição a uma força maior, então poderão os movimentos de resistência deixar de ser somente resistentes, e poderão tornar-se numa verdadeira fonte de providência, afirmando-se como uma verdadeira alternativa a um estado que está claramente perto do colapso estrutural.

João Silva Jordão

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