Mouth Wide Shut

Stanley Kubrick é um dos realizadores de Hollywood mais geniais do século XX. Morreu a 7 de março de 1999 e a sua obra prima Eyes Wide Shut viria a estrear-se apenas 6 meses depois. Um filme de enorme sucesso, uma estranha história das altas esferas do poder, dos jogos e fantasias sexuais de bastidores dos Illuminati em mansões de luxo, onde os protagonistas se escondem por detrás de máscaras venezianas, numa demonstração da prepotência dos homens mais poderosos do mundo. Uma crítica demasiado forte, a um mundo secreto demasiado poderoso. Talvez por isso Kubrick o elegeu como o filme que encerraria a sua carreira e a sua vida e cuja divulgação ao público, seria feita apenas após a sua morte, provavelmente em honra ao voto de silêncio que não cumpriu, para poder divulgar o mundo de hipocrisia das falsas fachadas comportamentais das elites. O filme é uma clara crítica à nata de Hollywood, também, nata que hoje se começa a desmoronar perante inúmeros crimes de assédios sexuais desenrolados bem no núcleo do mundo da produção da fábrica de sonhos norte-americana. 


Passados 20 anos, somos nós, o mundo inteiro, as pessoas comuns, que teremos de usar máscara, não por prazer, mas com sacrifício, não por estética mas por necessidade, não para vendar os olhos, mas para tapar o nariz e boca do vírus mortal. Vírus que pode ter sido criado pela tal elite perigosa, que vê nos lucros e no dinheiro, a única razão de viver. E esta lógica está a chegar a um ponto sem retorno, porque destrói cegamente tudo em redor. Nada fica de pé. Apenas os impérios comerciais desta elite que se rodeia de políticos fantoche, de banqueiros e de polícias. Do lado de fora dos seus castelos vivem os tontos, os seus escravos do consumo, obedientes como cordeiros inocentes, ou cegos. A sociedade mudou.


De máscara posta, os nossos rostos terão a mesma expressão fria das máscaras venezianas do filme de Kubrick. Mas a frieza não será só na expressão facial. Os beijos, os abraços, o sexo, nada disso será o mesmo. Ainda é cedo, no entanto, para sabermos o que esta elite nos preparou, o novo modelo de sociedade que se está a instalar, para seu benefício.

Filme Eyes Wide Shut, 1999

Texto de Pedro M. Duarte

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