Rockefeller: Bye Bye Oil

John Davison Rockefeller começou a sua vida laboral aos 16 anos como assistente de escritório. Estávamos em 1855 e este jovem ávido de sucesso era incansável. Trabalhava horas a mais e rapidamente aprendeu metodologias organizacionais enquanto escriturário e cálculo de custos de transporte na pequena firma Hewitt & Tuttle. Mas não era só trabalhador. O seu espírito filantrópico obrigava-o moralmente a doar 6% do seu rendimento a instituições de caridade, percentagem que subiu para 10% aos vinte anos. Juntamente com o seu parceiro Maurice B. Clark, aos 22 anos apenas, entrou num negócio investindo 4.000 dólares. Passados apenas 4 anos construía a primeira refinaria de petróleo em Cleveland, com o seu parceiro. Procuravam um novo combustível, mais barato que o tradicional óleo de baleia. A iluminação exigia uma produção em massa e era uma excelente oportunidade de negócio, numa sociedade em crescimento económico e social. Ao contrário do seu irmão conseguiu evitar a Guerra Civil, financiando substancialmente a União, tal como muitos homens de negócios da época. Em 1865 comprou a parte do seu sócio fundando a Rockefeller & Andrews, momento histórico na sua vida pessoal, determinante na viragem rumo ao sucesso, num ambiente de pós-guerra e expansão do oeste pelas indústrias ferroviária e do petróleo. John já não era John. Era Rockfeller. Reinvestia todos os seus lucros, adaptou-se aos mercados, contraía empréstimos gigantes, mas sempre com uma visão de gestor responsável.

Apenas um ano depois, em 1866 o seu irmão William expande o negócio de família ao comprar outra refinaria, associando John ao negócio. Um ano mais tarde Henry M. Flagler entra no grupo e fundam a Andrews & Flager, cujo crescimento foi tão rápido que apenas passado um ano derivou numa subsidiária em Nova Iorque, tornando-se na maior refinaria de petróleo do mundo. Pela altura do fim da Guerra civil Cleveland era um dos cinco maiores centros de refinaria e em junho de 1870, John funda a Standard Oil de Ohio. Agora já não importava apenas refinar, mas transportar. Apesar de algumas dificuldades no transporte por via ferroviária, provocadas pelos seu opositores, Rockefeller continua a expandir comprando refinarias concorrentes, melhorando a eficiência das suas operações, manipulando preços de embarques de petróleo e fazendo acordos secretos conseguiu em menos de quatro meses comprar 22 dos seus 26 concorrentes, numa operação económica que ficou conhecida como o “Massacre de Cleveland”. Estávamos em 1872 e a Standard Oil estava agora em terreno firme. Até os seus antigos rivais Pratt e Rogers deixaram de competir com John, fazendo um acordo secreto para se fundirem com o gigante do petróleo. Rogers acabou por ser uma das peças fundamentais da Standard Oil Trust e o filho de Pratt tornouse secretário da Standard Oil. Ficavam assim garantidas as contrapartidas dos últimos competidores de peso.

Rockefeller era conhecido por fazer ofertas generosas aos seus concorrentes. Mas caso não aceitassem John leveva-os à falência, comprando as empresas ao desbarato. Absorveu os fracos e fortaleceu o setor, tornando a indústria do petróleo mais competitiva e eficiente. A Standard Oil expandia-se em todas as direções: oleodutos, carruagens-tanque e entregas a domicílio. Esmagava a concorrência com o monopólio de preços baixos e criou produtos acessíveis para a classe média. O petróleo expandia a sua aplicabilidade na indústria e Rockefeller conseguiu aplicar esta matéria prima em mais de 300 produtos (vaselinas de todos os tipos). Em finais da década de 1870, a sua empresa controlava já 90% do setor de refinarias nos Estados Unidos e Rockefeller já era um milionário. Aos 98 anos, a 23 de maio de 1937, morreu dois meses antes de completar 98 anos na sua casa em Ormond Beach. Deixou para trás muita polémica, tendo sido atacado por jornalistas, políticos e empresários. Mas deixou um legado, um monopólio aos seus descendentes que muitos não se importariam de ter herdado.

Esta semana fomos surpreendidos por uma notícia tornada pública pela CBS, que dava conta do abandono do setor do petróleo por parte da família Rockefeller, após 146 anos dedicada ao ramo.

Uma decisão corajosa, visionária ou simplesmente estratégica?

Os herdeiros do Rockefeller Family Fund, a instituição de caridade que gere a fortuna dos herdeiros do fundador John D., decidiram abandonar esta área de negócio por entrar em conflito com as causas ambientais que esta instituição suporta atualmente. Pretende assim dar o exemplo a empresas e grupos económicos do setor, passando para a vanguarda norte-americana da mudança dos combustíveis fósseis para as energias renováveis. Para isso liquidou as suas participações no gigante Exxon Mobil, a descendente direta da Standard Oil e segunda maior multinacional do mundo, alegando questões económicas e de ética ambiental, num comunicado oficial. Abandona também participações em explorações de carvão e de areias betuminosas de petróleo. Ao anunciar a decisão, o Rockefeller Fund atacou a conduta moralmente repreensível, sobre as recentes acusações e julgamento, no final de 2019 das alegadas evidências escondidas dos acionistas sobre a contribuição dos combustíveis fósseis para as alterações climáticas. Segundo as acusações, havia evidências de que a Exxon Mobil manipulou informação desde os anos 80 para confundir o público sobre o contributo negativo para o ambiente, de que é exemplo a exploração no Ártico.

Esta atitude por parte da família Rockefeller não é, no entanto, nova. Em 2006 Jay Rockefeller, ex-Senador da Virgínia, o bisneto do fundador JDR já tinha dado ordem ao CEO da Exxon, Rex Tillerson para parar o financiamento de grupos que negavam a influência negativa no clima. Em fevereiro, Neva Rockfeller Goodwin, economista e também bisneta do JDR publicou uma artigo de oposição à página editorial do Los Angeles Times onde afirmava que nos anos 80 a empresa financiava think tanks e investigadores para que descredibilizassem dados científicos sobre os efeitos negativos dos combustíveis fósseis. No meio da polémica, a Exxon nega que tenha escondido esses efeitos negativos. certo é que o tribunal ilibou a Exxon das acusações, em dezembro passado. Para a companhia multinacional, a família Rockefeller está a alimentar uma conspiração contra a empresa, pelo que Alan Jeffers, representante da Exxon, não se surpreende com a decisão da família em desinvestir no setor do petróleo. Durante o processo em tribunal, a família foi envolvida no escândalo. Talvez por isso, seja esta uma tentativa de limpar o nome do mítico JDR. Os defensores da causa ambiental agradecem. Muitos comparam este momento ao da crise das tabaqueiras, quando muitos cidadãos resolveram responsabilizar os produtores dos efeitos negativos sobre as suas vidas. Também na altura muitos investidores venderam as suas acções e muitas queixas foram apresentadas em tribunais, originando investigações e dando origem a pagamento de indemnizações históricas.

texto de Pedro M. Duarte

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