Se o ano de 2001 ficou conhecido pelo 9/11 que permitiu à NWO unir potências políticas, económicas e militares em torno de um inimigo “construído” para o efeito – o terrorismo – o ano de 2020 certamente ficará conhecido como a fase II do 9/11. A NWO demonstra o seu poder global, usando-se da WHO e da ONU para unir políticos e cidadãos, numa suposta colaboração à escala planetária em torno de um inimigo comum, totalmente invisível ao nosso olhar. Acreditamos tratar-se de uma pandemia pois apenas vemos o seu efeito final: a morte. Os noticiários, mais do que propor soluções, limitam-se a contar os mortos, a contar os testes já realizados, a contar os desempregados (já aos milhões), a contar os infetados sintomáticos e não assintomáticos. Numa escala sem precedentes deu-se o lockdown global, um apagão da vida social e económica que permitiu que os políticos e as organizações de saúde passassem para o centro da ação.
Os políticos decidem tudo, as leis são postas de lado, ao abrigo do regime de excepção da calamidade humana. E são eles que controlam todos os bens de consumo relacionados com a pandemia: máscaras, luvas, testes, fatos de proteção e claro, a vacina, quando chegar. São feitas adjudicações diretas de milhões e não há perguntas sobre possíveis corrupções no processo. Porque tudo se justifica com a emergência. Enquanto isso, os pobres afundam num poço sem luz, entre a perda de emprego, perda de salários, acumular de contas para pagar, desespero, no fundo, um abaixamento social global, do qual dificilmente se recuperará na próxima década. A fome já chegou às cidades mais desenvolvidas do mundo. Toda a lógica capitalista do desenvolvimento e do crescimento económico globais foi posta em causa. Os políticos, desesperados, querem agora deixar o lockdown, não por razões filantrópicas, mas para salvarem os seus próprios mandatos, porque o desemprego exponencial e as falências prometem ser um verdadeiro quebra-cabeças para o futuro próximo.
Ainda não sabemos, no entanto, como vai evoluir a pandemia. E se a matemática, enquanto ciência, não falha, a 2.ª vaga será muito mais mortal do que a primeira. Porque passaremos do 0 ao 100 em poucas semanas. Os contaminados espalharão certamente o vírus nos transportes públicos, nos locais de trabalho, nas escolas, nos infantários, nas instalações sanitárias, nas lojas, basicamente, em qualquer sítio. Enquanto não chega a vacina, e pode demorar anos, teremos de conviver com o vírus, ganhar anti-corpos, ou contrair a doença e combatê-la da melhor maneira, ganhando imunidade aos poucos, até ser menos mortífera. Isto se nos basearmos na experiência histórica da humanidade perante as pandemias.

O momento que vivemos é único. Único porque somos pela primeira vez quase 8 biliões de pessoas no mesmo planeta, e utilizamos a tecnologia para nos ligar em segundos. A distância eletrónica e digital é mais rápida e os transportes evoluíram desde há 5.000 anos. Se antes os povos chegavam a deslocar-se entre continentes a pé, a cavalo, ou de elefante pelas zonas terrestres ou pelas ligações de gelo, posteriormente passaram a utilizar o barco que lhes permitia chegar a todos os cantos deste planeta “não plano”. Com a revolução industrial o automóvel surge primeiro a vapor e depois a combustão. Dos arcaicos carros de bois ou carroças herdou apenas as rodas e das diligências ou “coches” herdou o nome dos cavalos-potência dos novos motores e do design básico exterior e interior. A partir daí, o automóvel enquanto invenção expandiu-se e com ele a exploração do petróleo. E logo de seguida, o avião, que encurtava ainda mais as distâncias planetárias.
O “ouro negro”, o sangue do motor de desenvolvimento da sociedade humana, que permitiu a aceleração da vida quotidiana, industrial, económica e social, veio a tornar-se também no lado negro da vida no século XXI. São incontornáveis os problemas e desequilíbrios provocados pela aceleração da vida humana na sociedade pós-industrial. Durante milénios o alimento e a agricultura foram as únicas metas dos primeiros povos. Depois cresceram, conquistaram vizinhos mais fracos e tornaram-se gananciosos. Surgiram as primeiras civilizações, criaram místicas e religiões para submeter psicologicamente os seus subordinados a regras, que permitiam a alguns eleitos estabelecerem as lógicas das suas sociedades. E estas civilizações expandiram-se, desenvolveram armas de metais sofisticados, conquistaram outras civilizações e geraram impérios megalómanos. A história eram eles que a escreviam e gravavam nos seus próprios monumentos, em pedra. A arquitectura já não era apenas a cabana de madeira. Passou a ser o meio pelo qual os monarcas ou chefes de tribos se imortalizavam e cristalizavam para a posteridade as suas façanhas. E hoje, que já conhecemos muito da história da nossa espécie, que temos a tecnologia mais avançada de sempre, ainda vivemos de forma não muito diferente, no essencial, das civilizações de há 4.000 anos. Temos mais tecnologia, mais dinheiro, mais acesso a bens de consumo, mas a que preço?

O preço é o de sempre: os mais fortes controlam os mais fracos. A hierarquia nunca deixou ou deixará de existir. A “evolução” humana, se assim lhe podemos chamar, foi feita quase sempre à custa de sacrificar o conforto da maioria em prol do desfrutar de alguns. E por muito que se tenha diminuído a percentagem de população em “desconforto” este sistema pérfido vai sempre existir. A história prova-nos isso mesmo. No último século evoluímos em valores humanos e sociais, mas perdemos imenso em valores animais e da natureza. Estamos a destruir florestas, a cortar árvores com maquinaria industrial a um ritmo não compatível com a replantação de novas florestas, a poluir a um ritmo descontrolado. Numa escala sem precedentes na história. O consumismo desregrado tornou-se numa doença que nos matará a todos porque está a gerar níveis de poluição aérea, aquática e sólida tão grandes que já não são geríveis sequer pelos países mais ricos. E é por isso, que esta crise pandémica tem de servir de STOP ao nosso modo de vida. Sociedades desenvolvidas e menos desenvolvidas têm de colaborar verdadeiramente para encontrar soluções inteligentes, algumas mais tecnológicas, outras mais ecológicas, para que possa haver um futuro para as gerações mais jovens. A mudança não é só desejável, é imperativa.
A sustentabilidade do planeta e das nossas vidas é incompatível com este modelo de Globalização. Não faz sentido continuarmos a consumir alimentos de outros países distantes, que viajam de navio e camião até aos supermercados só porque ficaram mais baratos do que os nossos próprios produtos. A Globalização tem de dar lugar urgentemente, à Glocalização, ou seja à gestão lógica de recursos a nível local. Há 100 anos atrás, a maioria das economias baseavam o seu consumismo alimentar na produção local e nacional, apenas importando alguns produtos específicos. Mas com a globalização, os economistas viram uma oportunidade de explorarem os países mais pobres, comprando maiores quantidades a preços irrisórios para os países desenvolvidos. E foi aqui que uma nova aceleração pós-indústrial se deu. A indústria já não era apenas sinónimo de fabricação, processo que acelerava a construção de bens móveis e imóveis, mas passou também a ser aplicado à produção de alimentos (plantas e animais), ao seu transporte e distribuição. Este novo ciclo da industrialização foi aquele que mais desequilibrou o modo de vida humana nas últimas décadas. E é aquele que está a ameaçar o nosso futuro, em tempo real.
Por isso mesmo, devemos agora utilizar toda a nossa experiência histórica da humanidade e da civilização e ser capazes de redesenhar o nosso modo de vida contemporâneo. Não podemos continuar a desenhar cidades em função do automóvel, mas também não podemos suportar as deslocações de todos os cidadãos apenas em transportes coletivos só por serem mais modernos, ecológicos e rápidos. A bicicleta, a trotinete, o segway têm permitido deslocações individuais mais sustentáveis e as novas cidades, mesmo as metrópoles e megalópoles, têm de estimular a vida local mais do que a vida urbana. Evitar deslocações longas para os empregos, para áreas comerciais ou industriais tem de estar também nas prioridades funcionais das sociedades do futuro. Sem reduzir as nossas liberdades de deslocação, as instituições públicas e privadas têm de ser estimuladas a procurar empregados e colaboradores em áreas próximas. As deslocações e transportes têm de ser reduzidos o mais possível. Os transportes de médias e longas distâncias não podem estar generalizados como na atualidade. Temos de ter uma verdadeira consciência coletiva.
Com a pandemia deste ano, ficou claro que é possível ter um modo de vida local. Usar o supermercado de bairro, reduzindo desta forma deslocações ao mínimo necessário e utilizar o teletrabalho em serviços aos quais essa modalidade se adapta para evitar deslocações para locais físicos localizados, na maioria das vezes a pelo menos uma hora de distância. Ganha-se também em qualidade de vida, menos tempo perdido em deslocações que pareciam tão necessárias, mas que numa nova perspectiva de evolução da sociedade, se tornam redundantes. No fundo será como subdividir as cidades em zonas do tamanho de aldeias e sair para fora dessas zonas apenas quando necessário. Paris por exemplo pretende implementar o programa “quarter-hour-city”, ou seja deslocações de 15 minutos no máximo para tratar de qualquer assunto ou para trabalhar. Além do tempo ganho nas deslocações, pode-se ainda ganhar em qualidade do ar, mais limpo, menos ruído (sobretudo dos automóveis), menos consumo de combustíveis sólidos e de energia. Criar ciclovias seguras, mais disseminadas, parques urbanos e jardins são também soluções que se deverão implementar à escala local. Os mercados, cooperativas locais, urban farming, hortas verticais terão de fazer parte da equação do equilíbrio da vida social, gerando também emprego local. As hortas biológicas comunitárias promovidas pelas autarquias ou nas áreas de terraço ou jardim dos próprios prédios poderão garantir o sustento de muitas famílias fomentando trocas diretas de produtos alimentares sem agro-químicos. A alimentação tornar-se-á mais vegetal do que animal, naturalmente, sem ser preciso que os grupos vegans imponham o seu estilo de vida à população em geral.

Outras soluções urbanas passam por criar lojas tipo quiosques em espaços abertos que permitam evitar aglomerações de clientes e que sejam rentáveis para os empresários. Os supermercados e hipermercados a funcionarem como estão em sistema de pandemia não são lucrativos para as empresas e, por isso, deixarão de ser negócios plausíveis ou com futuro porque a sua lógica deixou de existir. Isso também permitirá reduzir o consumismo fácil e as tais importações de longas distâncias com vista aos preços de produtos mais baixos dos países mais pobres. Mas aqui a economia mundial tem um papel importante. O valor das várias moedas a nível mundial deveria aproximar-se o mais possível, para que a lógica da produção alimentar local seja fomentada e para que as populações utilizem, tal como no passado, preferencialmente os seus próprios produtos tradicionais. Alguns designers, arquitetos e urbanistas estão já a pensar e explorar novas possibilidades no desenho de parques urbanos verdes, do tipo espiral por exemplo, que permitem aumentar o percurso num menor espaço geométrico determinado.
Também a arquitetura deveria adaptar-se ao teletrabalho, com paredes móveis ou amovíveis que permitam criar subdivisões rápidas gerando pequenas áreas para reuniões ou para trabalhar no notebook com maior isolamento sonoro, enquanto o resto da família desenvolve a sua atividade diária no resto da casa. Mas a arquitetura vai voltar a estar na moda também porque permitirá repensar novas soluções hiper-funcionalistas que incluam boa ventilação e boa proporção das áreas interiores, por forma a manter o interior das habitações mais saudável, menos atreito a propagação de pandemias. As cidades demasiado compactas ou demasiado verticais são menos saudáveis e deviam dar lugar a edifícios de poucos pisos, mais integrados nas zonas urbanas e mais interrelacionados com comércio local, escolas e escritórios. O valor por m2 das cidades tem, para isso, de ser unificado, para que se possam criar vivências de bairro equilibradas e mais funcionais, com redução de deslocações e ganho para a vivência e qualidade de vida para as famílias. Ver cidades de arranha-céus vazias e vias rápidas e complexos nós de ligação entre vias locais e auto-estradas sem veículos como tivemos oportunidade de ver durante o lockdown, não fazem sentido. Mas no futuro também deixará de fazer sentido continuar a construir cidades do século XX no século XXI.
Tudo tem de ser repensado para melhor, muito melhor. Temos urbanistas, designers, arquitetos, biólogos, engenheiros e toda uma civilização científica que tem de trabalhar em conjunto, cooperar, para construir uma sociedade mais limpa, mais lógica e justa. E isso é possível. Basta retirar os políticos da equação.
Texto de Pedro M. Duarte
Uma resposta
Sim, espero também que num mundo pós-pandémico haja uma reformulação nas teorias globalistas. Não só a nível urbano, como também naquilo que é útil numa determinada sociedade. Não faz sentido falar em Portugal, de start-ups e depois não haver mercado para elas. Vamos ver também a que nível essas agências intra-governamentais, serão reformuladas. Obrigado pelo artigo.