A depressão económica que já se está a instalar, batizada de o “Grande Confinamento” pelo FMI, vai ter impactos mais profundos que a de 2008, que ficou conhecida como a “Grande Recessão”. Só nos Estados Unidos, este trimestre gerou um desemprego aproximado de 47 milhões de pessoas e no UK serão pelo menos 1 milhão que perderam o emprego, abaixo dos 25 anos. De acordo com o jornal The Guardian no 2.º trimestre, a nível global, haverá 195 milhões de desempregados, o que representa 6.7% de mão de obra ativa a nível mundial. Em Portugal há um mês atrás estavam contabilizados 353 mil desempregados, cerca de 14% da população ativa. Mas enquanto que em 2008 havia uma certa virtualidade da crise económica, a atual crise provocada pela Covid-19 devastou, destruiu e levou à falência pequenas e médias empresas. Pessoas recém-contratadas foram, em muitos casos, dispensadas pura e simplesmente. Turismo e aviação comercial foram dos setores mais brutalmente afetados devido à impossibilidade de viajar. Mas a depressão de 2020 nunca será comparável à de 1929. Nessa época a economia era parcamente mundial e não muito estabilizada. Hoje, os regulamentos económicos e instituições financeiras têm mecanismos que podem aligeirar impactos negativos. No entanto, só se prevê o princípio da recuperação em 2021, se não houver uma segunda vaga pandémica.
Para além do desemprego imediato, a desaceleração da economia vai-se fazer sentir fortemente nos próximos meses, pelos custos que todos tiveram com esta crise inesperada. As classes pobres estão destroçadas e a classe média enfrenta problemas catastróficos relativamente a despesas fixas e falta de verba para alimentação. Muitos empresários de pequena e média dimensão terão de encerrar portas e outros tentarão sobreviver até 2021. O setor do turismo, sempre dependente de turistas, vai ter de conseguir equilibrar os seus negócios com os portugueses que tentarão passar férias dentro das quatro linhas. A melhor solução será escolher um destino “cá dentro”, caso o desconfinamento continue ao ritmo esperado. Viajar para fora parece ser demasiado arriscado e caro. Um regresso aos anos 70, do pós 25 de Abril. Este ano o Algarve vai-se encher de “tugas”, não de turistas estrangeiros endinheirados. Uma contração significativa na economia da hotelaria e restauração. As lojas de pronto-a-vestir terão poucos clientes, devido ao medo do contágio e ao facto de não ser permitido usar os provadores nem experimentar as roupas. A verdadeira pandemia está a chegar, e não é o novo coronavírus. É o medo de não ter dinheiro para pagar as contas mensais, o medo de não saber como se vão aguentar muitas famílias até 2021. Por muitas ajudas que sejam prometidas, há sempre juros elevados a pagar, e com o desemprego tão elevado, a moral da população vai estar muito em baixo. Mas para manter o espírito elevado e enganar o bolso, o português terá sempre dinheiro para o seu cafezinho na esplanada. Com 70 cêntimos podemos fazer vida de ricos. Que a maior riqueza deste país ainda é o sol. E para um café com amigos há sempre tempo. Até porque muitos de nós estaremos, certamente, desempregados. E a maior riqueza da vida é a Amizade e o tempo de qualidade que dedicamos àqueles de quem mais gostamos.

Texto de Pedro M. Duarte
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