Sem sequer ter passado uma semana desde a eleição de François Hollande, já este está o novo Presidente francês a preparar o terreno para não cumprir as suas promessas eleitorais. Antes de analisar as suas ultimas declarações, consideremos os seguintes factores; a eleição de Hollande foi muito festejada por uma grande parte da esquerda Europeia, sendo que a sua eleição foi interpretada como tendo repercussões profundas para a zona Euro. Em particular, porque durante a sua campanha Hollande propôs mais crescimento e menos austeridade. Diziam os analistas, por ignorância, por subserviência às elites económicas e políticas, ou provavelmente por causa causa dos dois factores em conjunto, que as suas promessas e subsequentemente a sua eleição iriam contestar as políticas de austeridade ao ponto de impossibilitar a continuação dos cortes cegos de que estão a sofrer os países europeus. Foi mencionado que o eixo Francês-Alemão iria ser abalado, e que a relação entre Hollande e Merkel seria muito mais tumultuosa do que a que se evidenciava quando Sarkozy era Presidente (relação que, por ser tão reciproca, levou a que Sarkozy e Merkel tenham sido representados como uma só entidade, um monstro austeritário de uma só vontade, monstro este conhecido como ‘Merkozy’).

Porém, quem conhece a carreira de Hollande, marcada pela falta de coragem e aparente falte de alternativas verdadeiras, as suas afiliações políticas e sociais (como o facto de que é membro do Grande Orient de France, a mais poderosa loja maçónica de França, veiculo para as vontades e aspirações dos ricos e poderosos franceses), e sobretudo para aqueles que conhecem a verdadeira natureza do sistema político Francês (podendo até dizer-se, do sistema Europeu, ou até mundial) sabe que o cargo de Presidente não passa de um cargo de porta-voz ocupado por um servo cuja opinião é inconsequente, sendo que se limita a comunicar as decisões tomadas pelos verdadeiros governantes que não são eleitos e não são conhecidos pelas multidões, como o menciona um artigo anterior da Casa das Aranhas. Já era previsível portanto, mesmo antes das suas ultimas declarações, que Hollande nada iria mudar, e que a Republica Francesa somente mudará de cara, sem por isso mudar de essência e sem que isso tenha verdadeiras repercussões sobre as políticas na União Europeia.
Diziam os optimistas (ler, os ingénuos) que seria preciso esperar para ver as medidas que Hollande iria implementar para poder formular uma opinião sobre a sua capacidade (ou falta de capacidade) para proporcionar mudanças verdadeiras, e que afirmar nos dias após a sua eleição que este seria incapaz de ser um verdadeiro agente de transformação era fatalista, cínico, errado, ou até, injusto. Porém, somente cinco dias depois da sua eleição, já está François Hollande, suposto agente de mudança e reforma verdadeira, que as contas do Estado Francês são muito piores do que esperado. Já estão os meios de comunicação social a fazer a apologia do que será sem duvida uma mudança no seu programa eleitoral, ou seja, uma traição dos eleitores que acreditaram no seu programa supostamente anti-austeritário. O próprio Hollande afirmou, segundo um artigo do Le Monde, que já sabia há ‘várias semanas’ que “havia uma degradação maior daquela que o governo que está de saída tinha revelado nas contas públicas”. Adiciona, “Já temos conhecimento disto, e merece ser visto, analisado, e espero o relatório do Tribunal de Contras para tomar as decisões que se impõem”.
Já está, na fase inicial da sua presidência, a adoptar o discurso formatado que a “grande desafio para a governança europeia é de ultrapassar a crise”, mudando assim a prioridade de ‘crescimento’ e rejeição da austeridade para a de ‘combater a crise’. Começa desde muito cedo, portanto, a traição dos eleitores e a adopção do discurso que vê na austeridade a única saída para a crise da divida pública, visão esta que é economicamente irracional e moralmente detestável. É economicamente ridícula pois mais austeridade irá somente resultar em maior empobrecimento, e portanto, em menores receitas fiscais, e é moralmente detestável por causa do sofrimento que as políticas austeritárias têm vindo a causar, sofrimento esse que será aumentado com a continuação e aprofundamento destes cortes cegos que punem os sectores estratégicos como a saúde, o apoio social e a educação, castigando as camadas mais necessitadas, e deixando os benefícios dos mais ricos e poderosos intactos, senão mesmo reforçados. Não seria de esperar outra coisa de um membro do Grand Orient de France, uma plataforma preferencial para a defesa dos direitos dos ricos e poderosos na França, pelo que se poderá esperar a continuação da austeridade e da repressão das políticas que possam possibilitar o crescimento económico na França como no resto da Europa.
Sob o pretexto do desconhecimento sobre a verdadeiro estado das contas públicas, já está Hollande a preparar uma reviravolta que fará com que as suas medidas como Presidente em nada irão coincidir com as suas promessas eleitorais.
João Silva Jordão
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