Cada vez mais a população parece perceber claramente a situação política- o sistema é inerentemente opressor, os supostos mecanismos de representação estão desenhados para representar pouco e para perpetuar a continuação e não a mudança. Basicamente, o Estado está a fechar o cerco à população.
Porém a (pseudo) resistência culpa a injustiça que se constata diariamente na ‘incompetência‘, nos ‘erros de calculo‘ e na ‘corrupção‘, como se a classe governante até quisesse fazer o bem, mas não tivesse competência técnica para isso, e por vezes fosse roubando uns trocos o que por sua vez desequilibra as contas públicas. Em nome da diplomacia, da unidade, da rejeição do radicalismo, em nome de sabe-se lá bem o quê, fingem não saber, ou possivelmente, não sabem que longe de ter boas intenções, os que nos governam detestam a população, que vêm como gado, como plebeus nojentos, como pobres que nada mais são do que ‘comedores inúteis’ dos quais se querem ver livres o mais rápido possível. Mais grave ainda, este ódio à população pela parte da classe dominante é tão antigo que já se institucionalizou, ou seja, o próprio sistema é em grande parte desenhado para oprimir a maioria da população sistematicamente e sem piedade.
A conclusão é que a única posição política consciente tem que ser anti-sistémica. Tem que ir à raiz da questão, ou seja, tem que ser radical. Esta palavra tem hoje em dia uma conotação negativa, e é especialmente associada à violência. Porém a palavra somente denota uma abordagem holistica, aprofundada, capaz de mudanças profundas.
Dizem os mais esclarecidos que ‘só quem não está a prestar atenção é que não está radicalizado’. E claramente os partidos com representação na Assembleia não parecem estar a prestar atenção, porque claramente não são radicais, ou seja, recusam-se a ir à raiz da questão, propondo somente pequenos ajustes virtualmente irrelevantes para fingir que estão do lado dos oprimidos. Ou pior ainda, como sobrevivem dos privilégios que o sistema lhes concede, fazem de tudo para proteger e perpetuar o sistema vigente. Propõem pequenas mudanças para que continue tudo na mesma.
Um dos grande problemas políticos, não só dos dias correntes, mas desde o começo do Estado-Nação, é o elitismo (a qual se pode referir como constituindo uma mentalidade esotérica) que impera nas classes intelectuais e nas elites económicas e políticas. É por causa deste elitismo que os constituintes dos núcleos de poder não confiam na população, e portanto vão mentindo, vão formando um abismo entre o que pensam e o que dizem em público. Cada vez devia ser claro que as questões políticas e as questões de caracter são, de facto, a mesma coisa. Uma mudança na condição humana só pode resultar de uma mudança no sistema político, e a mudança no sistema político só pode resultar de uma mudança nos valores dos humanos que o operam. E isto só será possível através de uma abordagem radical no plano económico, político, social e espiritual.
João Silva Jordão
4 respostas
As palavras nem sempre são entendidas, por aquilo que significam, antes são-no por aquilo que a desinformação, o hábito que se sucede e a formatação estabelecida, dita.
Algumas palavras, como radicalismo ou anarquia, tem uma forte conotação negativa junto da maior parte das pessoas, ainda que não saibam exactamente o que significam, ou sequer do que estão a falar. Mas isso é de somenos importância, para aqueles que, formatados, com os cérebros lavados, não sentem vontade nem necessidade de pensar.
Brian A. Dominik dá uma definição de “radicalismo” no seu livro “Libertação Animal e Revolução Social” que acho pertinente publicar aqui, à laia de comentário.
“Radicalismo e extremismo, ao contrário da crença popular, não
são de maneira alguma sinónimos. A palavra “radical” é derivada, da
raiz do latim ‘rad’, que significa raiz. Radicalismo não é uma medição
do grau de fanatismo ideológico, para a direita ou para a esquerda.
Radicalismo descreve um estilo de abordagem sobre problemas
sociais. O radical, literalmente falando, é alguém que procura atingir a
raiz de um problema, para que possa atacá-lo em busca de uma
solução.
Os radicais não limitam os seus objectivos a reformas. Não é seu
objectivo fazer concessões aos responsáveis, para conseguir um
atenuante da miséria que resulta da opressão. Essas são tarefas normalmente levadas a cabo por liberais e progressistas. Enquanto
reconhecem que em certas situações há ganhos a obter com
reformas, os radicais consideram que apenas a vitória é um fim
satisfatório – um fim definido como uma mudança revolucionária nas
raízes da opressão.”
– Brian A. Domink in, “Libertação Animal e Revolução Social”
http://pt.scribd.com/doc/16585282/Libertacao-Animal-e-Revolucao-Social