Depois de 45 dias confinados em casa, os portugueses começaram a sair aos poucos, primeiro a medo, agora mais livremente, por vezes até se aglomerando nas áreas de lazer e feiras. O que é expectável, por ter sido uma experiência algo traumática para alguns, habituados à sua liberdade quotidiana. Com o desconfinamento estamos, no entanto, a constatar que muitas pessoas se estão a aglomerar nas praias do costume da Grande Lisboa – Carcavelos e Costa da Caparica. Constata-se também que o policiamento é quase nulo o que tem originado algumas situações de tensão no areal. Muitos gangs de bairros periféricos da Amadora e Lisboa além de não respeitarem as regras de distanciamento obrigatório na praia de Carcavelos, jogam à bola, correm, gritam, numa atitude de “marcação territorial” tão própria dos gangs. Por toda a praia de Carcavelos, se distinguem os gangs, organizados em grandes grupos, que falam alto, com música acima do permitido pela lei, desrespeitando marcadamente a tranquilidade dos outros. E apesar das várias violações visíveis, a polícia nada faz, porque os poucos efetivos que se encontram perto não saem sequer do passeio marítimo para o areal onde tudo acontece. As pessoas amontoadas comportam-se como se não estivéssemos em Estado de Calamidade. E as televisões gravam as suas reportagens às primeiras horas do dia, quando a praia se encontra muito pouco ocupada, passando a falsa mensagem de que todos estão a cumprir as regras ordeiramente.
E esta falta de presença policial no areal está a gerar um sentimento de excesso de confiança e impunidade junto dos gangs. Só esta semana já ocorreram dois crimes graves, um na Praia de Carcavelos e outro na Rua Direita em Cascais, ambos relacionados com a utilização das praias. No dia 23 de maio, pelas 18h30, em Carcavelos, dois gangs rivais guerrearam-se violentamente, como sempre, por coisas de nada. Cerca de 20 indivíduos envolveram-se uns com os outros o que resultou num ferimento numa perna provocado por uma faca, a um jovem de 13 anos. Nesta terça-feira dia 26, também ao final do dia, um gang assaltou violentamente uma loja localizada em plena Rua Direita, tendo um dos indivíduos uma faca de cozinha de grande dimensão, que poderia ter levado à morte de alguém. Felizmente que os empregados da loja tentaram defender-se sem usar de violência, caso contrário poderiam ter sido assassinados ali mesmo, como se pode ver nas imagens gravadas pela câmera de vigilância do estabelecimento. A violência das imagens deixa perceber que estes jovens nada mais fazem na vida senão provocarem distúrbios, instabilidade, conflitos e crimes, em algumas situações. Também durante a sua detenção os indivíduos atacaram a própria polícia violentamente. E quem vive junto das praias da linha de Cascais, sabe bem do que falo. Por onde passam, em geral, estes jovens, deixam um rasto de medo e destruição, assaltam quem se cruza com eles, riem-se alto, divertidos com o seu poder de “associação criminosa”. E por incrível que possa parecer algumas pessoas ainda os desculpam com expressões do tipo “coitados, eles são pobres”.
Mas estes “pobres” roubam essencialmente para comprarem ténis de marca e pelo prazer que sentem na delinquência de grupo. O domínio que têm estabelecido nas praias da Linha de Cascais, começou por Carcavelos há uns anos atrás, mas neste momento já alastrou a todas as praias da zona sem exceção. E o seu comportamento é sempre igual, onde quer que estejam. Gostam de criar instabilidade e medo, demonstrando que são eles quem manda, enquanto ali estiverem. Em 2005, centenas de indivíduos de vários gangs, atacaram no Dia de Portugal (10 de junho) a Praia de Carcavelos naquele que ficou conhecido como o primeiro grande “arrastão” à semelhança do que acontece no Brasil, durante o qual dezenas de pessoas foram assaltadas. No entanto, uma vez mais, certas pessoas insistem em negar a violência crescente destes gangs nas praias, tal como a notícia de 2018 do “Observador” que nega este acontecimento, apesar de no mesmo artigo publicar fotografias que são por si só evidência do crime. Por detrás dos ataques destes gangs parece haver uma clara instrumentalização política. A segurança que existiu nestas praias está a ser posta em causa, cada vez mais, de ano para ano, e não são tomadas medidas à altura para mudar este estado de coisas, nem pela PSP nem pela Polícia Municipal.
Em 2019, a 12 de Maio, outro jovem foi esfaqueado na Praia do Tamariz, também no final da tarde. Novamente lutas entre gangs rivais. E a PSP, limita-se a agir com a máxima tranquilidade, para estupefação dos restantes utilizadores da praia. A 3 de Julho de 2010 um homem fora baleado também na Praia do Tamariz e uns dias antes gangs apedrejaram uma composição de comboio da estação de Algés. Na mesma semana 3 pessoas foram esfaqueadas dentro do mesmo comboio da linha. Em 2016, no dia 7 de agosto novamente a Praia do Tamariz foi alvo de rixa entre gangs tendo resultado em 3 feridos. Para não variar, um domingo, de tarde. No dia 2 de Agosto de 2018, dois gangs envolvem-se em violentos confrontos por causa de uma rapariga, na Praia de Carcavelos. Nesse dia foi necessário pedir vários reforços policiais devido à enorme concentração de indivíduos violentos.
Devido aos 45 dias de confinamento, muitos destes gangs que vivem do tráfico de estupefacientes em escolas e nas praias ou em festas que organizam, onde se consomem enormes quantidades de todo o tipo de drogas e álcool, encontram-se desesperados financeiramente. Sem terem podido “vender” o seu “produto” durante semanas, entram em conflitos uns com os outros, em desespero. Talvez por essa razão tenham sido apanhados esta semana dois agentes da PSP que colaboravam com gangs do tráfico de droga em Lisboa e Setúbal. O desespero parece evidente e o confinamento só veio acelerar ainda mais este tipo de crime. Uma coisa é certa, a falta de policiamento de proximidade está a transformar as praias da Linha de Cascais em zonas muito desconfortáveis para lazer durante o verão.

Texto de Pedro M. Duarte