A crise económica em geral e a crise da dívida pública em particular não são crises reais onde a entidade em crise vê os seus interesses geopolíticos ameaçados. Pelo contrário. O que estamos a testemunhar não é uma crise verdadeira onde os Estados e a própria União Europeia estão a lidar com um problema cuja solução está fora do seu alcance. Os interesses globais da Europa não estão a ser prejudicados. Desde 2008, o Bloco Ocidental cujos motores principais são a União Europeia e os Estados Unidos da América, através do seu braço armado, a NATO, continuam com a sua dispendiosa tendência de invadir e colonizar países estrangeiros de forma a proteger os seus interesse económicos e geopolíticos. Se esta fosse uma crise verdadeira, onde os Estados não tivessem dinheiro, veríamos sem dúvida um retrocesso das campanhas militares cujos custos são astronómicos. Mas a realidade é outra. Desde 2008 a NATO continuou a ocupação do Afeganistão e do Iraque, e iniciou intervenções na Líbia e na Síria (por enquanto de forma semi-secreta), continua a bombardear o Iémen e o Paquistão, entre outras operações de que pouco se fala nos orgãos de comunicação social (ou ‘orgãos de manipulação social’ como lhes chama que está atento). A hegemonia Ocidental está a ser ameaçada, mas não por causa da suposta crise, mas sim por causa da emergência económica e militar da Rússia e da China. E é precisamente face à emergência destes dois poderes, seguidos de perto pela India, Brasil e Indonésia que o projecto da feredalização forçada da Europa surge como o objectivo principal da classe dominante Ocidental.
Como já foi mencionado num artigo anterior, “o processo da federalização Europeia não existe somente na esfera teórica, é um projecto que está a avançar rapidamente na realidade, e longe da utopia democrática e harmoniosa que nos foi prometida, o ‘Projecto Europeu’ teórico está a dar o lugar à Distopia Europeia Verdadeira”. E nesta distopia o papel do BCE é preponderante. Não é coincidência o facto da construção da nova sede do BCE, que vai custar mais de mil milhões de Euros e cuja construção estará completa em 2014, estar a acontecer em paralelo com o aumento das suas competências. É igualmente em 2014 que o BCE tenciona começar a supervisionar todos os bancos da zona Euro.
O custo da construção da nova sede do BCE vai exceder pelo menos 200 milhões de Euros em relação às previsões iniciais devido em grande parte à inflação (pela qual o BCE também é responsável). Mas isso não será um problema para o BCE, porque este também decide sobre o seu próprio orçamento. O BCE é uma instituição ‘independente‘ no sentido mais perverso da palavra.

E nesta Distopia Europeia, o BCE não só vai controlar a emissão de dinheiro- vai supervisionar bancos privados, contratando mais 500 funcionários devido ao alargamento e expansão das suas funções. Vai começar a supervisionar quatro dos maiores bancos de Portugal já a partir de Julho (o que ficará a cargo de Vítor Constâncio, que como Presidente do Banco de Portugal nada fez em relação às sucessivas fraudes do BPN, dizendo em sua própria defesa que não se apercebeu de nada por causa da sua ‘ingenuidade’). Mas o BCE continua a não ser fiscalizado por ninguém (tem somente que produzir um relatório mensal) e sem nunca ter sito alvo de uma auditoria independente. O BCE tem a ambição de exercer influência direta sobre a política fiscal e orçamental dos países membros da União Europeia, sobretudo os países do Sul que são ‘mais devedores’, aglomerando competências até aí exercidas por instituições ‘democráticas’ como o Governo e a Assembleia da República.
Se a corrupção já é absolutamente esmagadora neste sistema, imagine-se o que irá ser quando todo este poder estiver nas mãos de uma instituição cujos dirigentes não são eleitos, e que, bom, é um banco. Um banco que não é privado mas que também não é público. É um monstro que vive numa dimensão intermediária e sobretudo, acima da democracia, acima da fiscalização, acima de suspeitas, acima de quaisquer críticas verdadeiras pelos partidos institucionais. O máximo que a oposição em Portugal consegue fazer é pedir que o BCE comece a financiar diretamente os Estados da Zona Euro em vez de passar por bancos privados. Mesmo sendo que o BCE ainda parece algo dedicado a defender o financiamento indirecto, como o demonstrou a sua oposição ao artigo 31º da Lei do Orçamento de Estado para 2013, essa mudança não iria mesmo assim de forma nenhuma reduzir o poder do BCE. Pelo contrário, só irá centralizar ainda mais o poder bancário e político nas mãos do actual presidente, Mario Draghi, que é um membro da infame Companhia de Jesus, grupo que age ao mesmo tempo como a polícia secreta do Vaticano e como o agente através do qual o Vaticano exerce considerável influência sobre os sistemas de educação do Ocidente. A Companhia foi igualmente uma das principais figuras da Contra-reforma e da Inquisição. O seu juramento é violento e obscuro, revelando a natureza perseguidora da Companhia. E o lema dos seus membros é ‘Perinde ac Cadaver’, ou seja, ‘Obedecer como um Cadáver’.

O BCE não tem nenhuma instituição que o subordine, é verdade. Mas o seu presidente faz parte de uma sociedade secreta que exige dos seus membros obediência completa. Normalmente, isto quereria dizer que Mario Draghi teria um só patrão e superior, o General Superior dos Jesuítas. Mas vivemos em tempos anormais, pelo que a Companhia tem dois Generais Superiores, dois Papas Negros, o oficial, Adolfo Nicolas (que foi escolhido para o lugar em parte por conhecer intimamente a Asia em geral e o Japão em particular), e um não oficial, Hans Kolvenbach (que exerceu uma grande parte da sua carreira no Líbano).

Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, é subordinado por uma sociedade secreta do Vaticano que é tão poderosa que nem mesmo o Papa lhe consegue fazer frente. O ultimo Papa que o fez foi João Paulo I, e ocupou a posição durante 33 dias (curioso numero), tendo sido envenenado. As tentativas de encobrir a sua morte continuam até este dia mas ninguém que estude o tema poderá chegar a outra conclusão senão a que a oposição do Papa à Companhia de Jesus resultou no seu assassinato por um dos membros da Ordem.
Bem vindos à Distopia Europeia. Não existe somente quem a tolere. Há quem até goste dela, e há quem ‘lutou’ a vida inteira para ver este projecto crescer.
É necessário igualmente afirmar que a própria dívida pública é em grande parte o resultado de um sistema de emissão de moeda e de financiamento dos países da Zona Euro que mandata o endividamento e leva todos colectivamente (se bem que a velocidades diferentes) na direcção da escravatura da dívida. E é somente ao instrumentalizar esse estado de escravatura que o mesmo BCE está a conseguir levar a cabo o projecto de federalização (que deve ser neste contexto compreendido como uma centralização anti-democrática de poder). O BCE é igualmente um membro da Troika, ou seja, as medidas de austeridade que alegadamente têm como objectivo resolver a crise da dívida pública pela qual o BCE é um dos maiores responsáveis são em grande parte da autoria do próprio BCE. E o BCE é também da opinião que a única maneira de resolver a crise da dívida pública pela qual o BCE é um dos maiores responsáveis será de dar cada vez mais poder e competências ao BCE. São poucas as pessoas incomodadas por esta repetição excessiva, e poucas pessoas se apercebem sequer desta tomada de poder. A culpa, dizem, é da austeridade. Mas a austeridade não é a culpada. Os culpados são aqueles que utilizam a austeridade para chegar aos seus fins, e esses culpados são banqueiros que para além de praticarem a profissão bancária também têm o privilégio de ocupar as posições de fiscalizadores da profissão bancária. O ‘Projecto Europeu’ da UE é uma receita para o desastre.
O BCE está a emergir como o principal beneficiário deste projecto, enquanto testemunhamos a emergência de uma espécie de Império Europeu, cujo intuito fundador será sem dúvida, em parte, a tentativa de constituir um bloco que poderá agir de forma coesa e eficiente como uma só potência. Se através da União Europeia a classe dominante da Europa conseguir construir uma só entidade, um só país, esse país será o mais rico do mundo. A construção de um só Estado passa por várias fases. A União Europeia já tem uma moeda única, em si um grande passo nesta direcção, e caminha para uma situação onde o Banco Central Europeu irá assumir muitas responsabilidades que no passado seriam da jurisdição dos Estados membros. A UE já tem no Tratado de Lisboa uma espécie constituição. O Tratado de Amsterdão começou a construção de uma política externa e de segurança comum. A União Europeia e o Banco Central Europeu detêm cada vez mais as características de um Estado, e os dois cada vez mais se parecem com os Estados Unidos da América e a Reserva Federal respectivamente, enquanto que os dois blocos externamente agem como um só através da NATO. Tanta centralização deveria fazer qualquer anti-imperialista considerar cuidadosamente a federalização da Europa e os seus resultados globais.

A instituição que dá pelo nome de ‘União Europeia’ não merece de todo o seu nome lisonjeador e engrandecedor, em grande parte porque são precisamente as suas políticas que hoje mais dividem a Europa. Mesmo assim sendo, o último ultraje do Prémio Nobel da Paz- a atribuição do mesmo à UE, mais uma vez não pareceu incomodar nem a esquerda nem a direita parlamentar. Mas serviu mais uma vez para propagandizar a importância de ‘perseverar com o projecto Europeu’, ou seja, centralizar cada vez mais o poder e a riqueza em detrimento das instituições de representação democrática dos Estados membros. A união e a prosperidade na Europa são objectivos fundamentais. Mas esses objectivos não passam necessariamente pela União Europeia, a história recente de facto demonstra que o contrário é verdade. Ser contra a instituição conhecida pelo nome ‘União Europeia’ não significa ser contra a unidade entre os povos Europeus.
O facto da União Europeia estar a tomar cada vez mais o formato de uma entidade Federal, e o facto de o estar a fazer de maneira incremental, desonesta, conspiracional, anti-democrática e sobretudo à base da chantagem não está a ser devidamente exposto, e é um dos temas mais importantes da actualidade. Porém para muitos criticar verdadeiramente a UE constitui um tipo de resistência inaceitável, pelo que certas forças políticas preferem dedicar-se a causas menos controversas, enquanto outras obedecem cegamente e incondicionalmente as ordens dos iluminados Europeus.


João Silva Jordão
10 respostas
Totalmente de acordo com o seu artigo.
os seus artigos são dos raros que na net merecem ser lidos e refletidos
o governo deste rectângulo obriga-se a obedecer caninamente
‘enquanto houver um país devedor a federação continua’