A Resistência Resignada (Perante a Nova Ordem Mundial)

A resistência política está, em Portugal como no resto da Europa, com poucas ideias, com estratégias inadequadas, relegada a reagir a curto prazo às consecutivas investidas da classe dominante que está cada vez mais próxima de conseguir implementar a repetidamente anunciada Nova Ordem Mundial, ou seja, um mundo unipolar onde uma minoria que se auto-proclama iluminada poderá governar sem ser confrontada por uma oposição organizada. Temos uma resistência demasiado tímida no momento em que mais precisamos de uma resistência arrojada.

No presente, o ponto de encontro para todos aqueles que ainda não estão estupidificados e apáticos e que portanto ainda têm alguma capacidade de resistir contra os consecutivos ataques é a luta contra a austeridade. Mas esta frente é demasiado limitada, pois a austeridade é somente um dos ângulos de investida da classe dominante. A maior preocupação deve ser o crescendo de injustiça, e este crescendo está assente sobre vários pontos. Nomeadamente, a austeridade, claro, que potencia o acréscimo da desigualdade socioeconómica através da contração nos gastos Estatais nas áreas que agem como os motores do desenvolvimento, como a saúde, a investigação, a educação assim como os mecanismos de segurança social.

Porém existem outras áreas que estão a ser negligenciadas. A carga de impostos asfixiante, a burocracia excessiva que é imposta sobre virtualmente todas as actividades que necessitamos para sobreviver, a quebra do contrato social, a inconsequência dos mecanismos de representação política, a corrupção ubíqua nos tribunais e a consequente erosão do Estado de direito, assim como a construção de um mecanismo de vigilância e repressão que está em fase de teste, mas que, sendo ativado em pleno, constituirá a máquina de opressão mais eficiente da história da humanidade, em grande parte como resultado das possibilidades que os avanços tecnológicos permitem. Todas estas áreas devem ser o alvo de contestação organizada e consciente.

Todas estas áreas parecem ser negligenciadas pela grande parte da resistência que se limita a pedir condições de vida ligeiramente melhores. Esta mesma ‘resistência’ não consegue, ou não quer ir à causa do problema, recusa-se a ser radical, ou por falta de visão ou por falta de coragem. Não exige uma profunda mudança na lógica do Estado, não se parece preocupar com a fome e o sofrimento quando este acontece fora do Bloco Ocidental. Tem uma incapacidade de olhar para o mundo fora do prisma Eurocêntrico. É assumidamente e vergonhosamente cúmplice com o imperialismo Ocidental, nem tem uma palavra de contestação relativamente à guerra total contra o Islão em curso, e não encontra tempo sequer para contemplar que o começo da Terceira Guerra mundial pode estar para breve. A fome na África (e no resto do mundo, excluindo a Europa) desapareceu das preocupações do mundo dos ativistas, e as críticas relativas a injustiças sociais só são ouvidas quando estas são dirigidas a países inimigos do Bloco Ocidental que este quer invadir e subjugar no futuro próximo, como a Síria e o Irão. Só temos olhos para a Troika, mas a classe que a Troika representa tem os olhos sobre o mundo inteiro, não tem piedade, não descansa. O nosso inimigo é flexível, inteligente, e sabe fazer várias tarefas simultaneamente.

A resistência está paralisada à volta do anti-austeritarismo. Porém esta questão não durará para sempre. Muitos líderes Europeus já falam da Europa pós-austeritária. Sabem muito bem que a continuação das medidas de austeridade irá ameaçar a estabilidade social e subsequentemente poderá possibilitar a emergência de partidos e até lideranças que defendam os interesses socioeconómicos da população, aquelas facções a que os elitistas chamam, sem hesitar, de ‘populistas’. Sobretudo, a austeridade já terá surtido efeito e atingido muitos dos seus objectivos- entre baixa dos salários, empobrecimento generalizado, centralização de poder a uma escala escandalosa (nomeadamente o alargamento de funções iminente do Banco Central Europeu e das instituições tecnocráticas da União Europeia), retrocesso dos direitos sociais, avanços substanciais no antigo projeto da Federalização da Europa, a classe dominante já tem muitos sucessos a contabilizar em tão pouco tempo. A consolidação de poder que a austeridade está a permitir à classe dominante só está a ter o efeito colateral indesejável de mostrar aos poucos que estão a prestar a atenção a verdadeira cara do sistema vigente.

Obey

O sistema está-se a desmascarar durante esta crise induzida, mostrando aquilo que verdadeiramente é e que nunca deixou de ser- um sistema imperialista, autoritário e predatório que se alimenta do sangue dos fracos e desprotegidos, sobretudo no Sul Global, dos países ditos ’em desenvolvimento’. E quando o sangue destes já não chega, não hesita em devorar as suas próprias populações. Mas a resistência, em vez de aproveitar este momento para apontar para a cara do monstro, momentaneamente desprovida de disfarce, limita-se a pedir ao monstro, cordialmente, claro, que volte a por a máscara para que volte tudo à normalidade.

Qual é a solução, devemos perguntar? Esta só poderá ser posta em prática através de movimentos independentes e verdadeiramente anti-sistémicos, imunes ao controle e manipulação de poderes institucionalizados. Mas não só. Uma mudança profunda terá que ser sistémica para ser duradoura, e para ser duradoura terá que ser igualmente uma mudança de valores, terá que ser social, até nos podemos atrever a dizer, terá que ser espiritual. O relativismo ético levou-nos colectivamente para o abismo político e para o vácuo ideológico. Somente tendo a capacidade de afirmar claramente que o errado existe, e que nem tudo é relativo, poderemos afirmar subsequentemente com clareza que estamos no caminho errado. E somente depois poderemos vir a percorrer o caminho certo.

João Silva Jordão

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5 respostas

  1. Um texto muito bem explicado.
    O meu maior temor é de que tal venha a acontecer, com todas as repercussões sociais que daí resultam.

  2. As doutas (na Ignorância de si-mesmos e, por reflexo, dos outros) classes, desde Políticos, Midea, Patentes Militares, Legisladores, Financeiros, Cientistas, Professores, Historiadores, Empresários, Médicos, pseudo-Religiosos etc., (resguardando excepções) estão de tal forma enredados e comprometidos com esta Agenda Anti-Vida chamada de NWO que, não têm coragem para assumir sua pequenez em ausência de Humanidade!
    HÍBRIDOS e CLONES não são empáticos; – Conhecem-se pelas suas Obras e Palavras esvaziadas de Essência VITAL/ALMA! IHS=Isis, Órus e Seth; o culto aos mesmos deuses Babilónicos, os mesmos que ainda hoje controlam os dois lados da balança mantêndo-a em oscilação permanente pelas guerras que fomentam, não permitindo à escravizada Humanidade centrar-se no eixo do equílíbrio e, assim, transcender a dualidade que a torna vulnerável por identificação egóica com sua natureza inferior, via compulsivo foco de atenção e cuidado (luta pela sobrevivência), enquanto prisioneira da 3ª e 4ª dimensões e seus Predadores residentes.
    Milhões estão simplesmente em negação à espera de algum salvífico satânico milagre, conscientes na e da corrida para o Abismo, arrastando com eles os Biliões de INOCENTES por eles explorados e mantidos na Ignorância por Ocultação da Verdade!

    Como pode o Papa Francisco falar o que vai falando dominicalmente, não reconhecendo que essa Instituição “VATICANO” (cabeça de multitudes de outras, como Universidades que FORMATANDO ELITES, servem a manutenção da mega-Mentira de uma História Manipulada e Obscurantista, SERVEM a DOENÇA, a IGNORÂNCIA e a INVOLUÇÃO da Humanidade) dita representativa de Jesus Cristo/Cristianismo, É CAUSA dos Males, Ignorância e Caos que afecta a Humanidade neste Planeta? – Para quê rituais simbólicos de humildade e compreensão, reconhecimento do eudeusamento do touro/dinheiro, da cegueira da AMBIÇÃO e seus nefastos resultados se, nada faz de gigante para alterar e inverter o rumo deste estado de COISAS, começando por REVELAR/EXPOR a multifacetada VERDADE que a Igreja Católica Romana oculta assim como as outras Instituições Religiosas, MIDEA e Políticas?
    Footprints of the Jesuits [Part 1] http://www.youtube.com/watch?v=8087EK3h9UM
    The Vatican’s Role In The New World Order! Bill Hughes http://www.youtube.com/watch?v=RmeyQDL1Vd0
    POPE FRANCIS (Jorge Bergoglio) – What the media has hidden from you (Part1) http://www.youtube.com/watch?v=Brwsv1AWX70
    MYSTERY BABYLON Documentary – (what they do not want you to know) http://www.youtube.com/watch?v=BWkQy7w15QU
    Pope Francis I Jesuit New World Order – Sunday Law Enforced http://www.youtube.com/watch?v=ODP1tSt3DAg

  3. João
    era disto que falava hoje consigo. co tinua o ‘mentir, mentir sempre, mentir com convicção’ para nos manter na ignorância dos factos.
    falaremos pessoalmente em breve. Abraço

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