Os movimentos de extrema-direita mobilizam-se acusando as elites de hipocrisia, de dizerem uma coisa e fazerem outra, de elaborarem discursos que sabem ser falsos, como fazem os políticos e os administradores, sobretudo os corruptos. A arrogância do politicamente correcto (incluindo nisso a ciência) e de ser woke (falsear os sentimentos, em vez e os expressar) torna-se intolerável. Para combater a cultura do faz-de-conta, pode valer fazer eco de imoralidades verbais e físicas, violências com vista à exclusão de partes da população – nomeadamente as já efectivamente excluídas – e purificação dos “nossos”, privilegiados nos corações de cada um, num processo que, por definição, não acaba a não ser com a destruição total, como foi o caso da Alemanha nazi, como pode estar a passar-se com Israel e também com o Ocidente.
Como dizem alguns jornalistas com conhecimento de causa, a primeira vítima da guerra é a verdade. Há quem alegue que a extrema-direita actual, nomeadamente através das suas relações privilegiadas como Moscovo, é uma defesa contra a guerra que os liberais – nomeadamente os democratas norte-americanos – alavancaram e mantêm. Para os analistas internacionais, as eleições de 2024 nos EUA, na perspectiva de vitória de Trump, são um limite temporal estratégico para quem está a organizar a guerra. As resistências da Rússia e da Ucrânia na guerra até lá poderão saldar-se, dizem, numa vantagem da primeira e num retorno ao desinvestimento dos EUA na NATO.
Em resumo: a ideia propagada de os Aliados da II Grande Guerra serem os bons e os nazis serem os maus está a ser relativizada por cada vez mais eleitores dos países ocidentais. Muitos intelectuais insistem ser um erro de rigor científico confundir os nazi-fascistas que tomaram a iniciativa da II Grande Guerra com a actual extrema-direita, que é mais política-ideológica e menos resultado da mobilização de massas violentas. Porém, o verdadeiro problema político actual é a descoberta pelos eleitores – e não apenas os de extrema-direita – que a primeira vítima da guerra oficialmente declarada contra desconhecidos inicialmente em 2003 por George W. Bush, Tony Blair e Aznar, como as novas cruzadas, e depois reforçada com as guerras contra a falência do sistema bancário internacional, contra a COVID-19, esta última guerra contemporânea da derrota norte-americana no Afeganistão, foi e continua a ser a verdade. A verdade das armas de destruição maciça do Sadam Hussein e de todas as outras mais ou menos óbvias que fazem o nosso desorientado quotidiano.
Os regimes democráticos deixaram paulatinamente de se regular pelo estado de direito, pelos direitos humanos, pela ética republicana, pelo respeito pelos contractos, nomeadamente os contractos sociais e as constituições. A opção de voto das pessoas pode não ser respeitada pelos democratas quando os resultados não lhes convêm – no Egipto, na Argélia, na Palestina, na Grécia, na França, etc. Mesmo quando há respeito pelos resultados eleitorais, os políticos eleitos frequentemente desistem das suas promessas no próprio dia em que são eleitos. Votar extrema-direita torna-se na declaração de uma vontade de rebelião eleitoral, mas também num acto aleatório de indiferença por falta de escolha entre a democracia e a oligarquia, pois ambas se confundem.
Uma resposta
No caso do nosso desventuras, como me confidenciaram muitos dos seus apoiantes, as pessoas vão para esse lado, não por se identificarem com o seu extremismo, mas sobretudo para protestar contra o descalabro costista e os novos casos de corrupção que chovem todos os dias. É sim um voto de protesto e não tanto uma concordância, até porque o cidadão não tem outro modo de expressar a sua rejeição e ira pelo regabofe rosa.