Os Mesmos Erros do Passado: a Nova Rota Imperial

Quando acordei esta manhã e ainda em jejum me sentei no sofá a fazer scroll no meu telefone e me deparei com o documentário O Mundo Segundo Xi Jinping, de 2018, que um amigo me enviou por mensagem de Facebook, senti que o meu dia ia ser dedicado a vê-lo e a escrever algo sobre a China. Não é porque o meu sofá seja desconfortável, é porque passou a ser o nosso lugar enquanto espectadores, ao que parece por obrigação, causado por uma presumível fuga acidental de um vírus manipulado em laboratório, na cidade de Wuhan. Apesar desta hipótese não estar ainda totalmente provada, se é que algum dia se vai provar de facto, parece ser a mais consentânea entre políticos (excepto Bolsonaro), jornalistas ou escritores independentes (como nós na Casa das Aranhas). Países como a Austrália, Alemanha e UK já iniciaram os seus pedidos de indemnização à China e muito proximamente os EUA juntar-se-ão, segundo comunicações recentes de Trump, pelos danos inquantificáveis gerados pelo “vírus chinês”. E até já indivíduos estão a seguir o mesmo caminho, como o caso do brasileiro contabilista de Porto Velho. Ameaçada, a China já começou a reagir pela via política e até militar. Esta reacção mundial vem no seguimento da paragem forçada por quarentena, da quase totalidade das economias do mundo. Curiosamente a China já começou a abrir a sua economia e, com isso, já está em vantagem económica em relação ao resto do mundo, cujas bolsas decrescem já para mínimos quase diariamente, numa queda inevitável até à recessão.

Este documentário é obrigatório, para se perceber a dimensão política, social, militar e económica do plano de invasão neo-imperialista chinesa, que já está a afectar seriamente as nossas vidas. Quando Trump não compareceu no Fórum Davos de 2017, o que estava a permitir, era que Xi Jinping, ao inaugurar esta cimeira, não tivesse opositores e se assumisse como o novo líder-protagonista da Nova Ordem Mundial. Pela primeira vez um líder chinês, em muitas décadas, dava lições às elites da economia mundial sobre as vantagens do mercado livre, algo que é tabu dentro da sua fronteira muralhada. Enebriado pela sua performance em Davos, Xi Jinping aproveitou o momento de glória internacional, para afirmar os seus objetivos enquanto líder do Partido Comunista Chinês. No parlamento anunciou as intenções de lançar uma nova reforma do sistema de governação global, e em março de 2018, anunciou que não entregaria o poder conforme esperado, mudando a constituição para se tornar presidente vitalício. A primeira vez que um líder chinês acumula tantos poderes: Presidente da República, Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês, Chairman da Comissão Militar Central da República Popular da China e para o mundo, líder da Nova Ordem Mundial. Xi Jinping cultivou uma imagem progressiva e liberal que foi cativando a população. Em 2007, quando o Partido procurava o sucessor do Presidente Hu Jintao. Xi preenchia todos os requisitos de forma ideal.

A 15 de Novembro de 2012 vence as eleições internas e conquista todos os clãs no seio do Partido. Usou então o Nacionalismo para justificar o crescimento económico e a expansão comercial. Delineou um programa de Unificação Nacional, a que chamou “O Sonho da China”, o qual prevê que até 2049, ano do centésimo ano da República Popular, a China deveria ser a principal potência económica e militar do planeta: “todos os filhos e filhas da nação chinesa trabalharão juntos para alcançar o sonho do Rejuvenescimento Nacional; a China ocupará uma posição central no mundo e dará um contributo fundamental para a humanidade”. Alimenta, por isso, todos os sonhos patrióticos da China. Depois das Guerras do Ópio, que levaram à queda do Império e enfranqueceram o país, a China pretende agora reverter o processo e dar seguimento à sua história imperial. Mas o seu sonho reside essencialmente na agressão ao Ocidente e aos seus valores, ou seja, no pesadelo dos outros. A China pretende, em consequência, reerguer o seu país e torná-lo mais forte, tal como já o fez no passado. Um perigoso discurso que curiosamente escutámos recentemente, no Estado Islâmico, que anunciou publicamente pretender repor o seu Califado do Período Medieval. Xi Jinping pediu ao seu povo que a bem do “Sonho Chinês”, esquecesse quaisquer divergências do passado e que o seguisse como a um profeta rumo ao domínio mundial. Na sua perspectiva, o seu futuro só tem um desfecho: o êxito da sua campanha.

Num filme de propaganda recente, Xi Jinping revela o seu projeto principal, a abertura de novas rotas da seda, uma visão faraónica que visa unir o globo com rotas comerciais chinesas para o benefício da humanidade. A primeira vez que um Presidente chinês assumia um projeto para lá das suas próprias fronteiras numa visão mega-capitalista sem precedentes. A China desbloqueou milhares de milhões de dólares para construir ferrovias, portos e rotas de transporte. Primeiro para melhorar a falta de infraestruturas na Ásia, depois na Europa, no Médio-Oriente, na África e na América do Sul. Uma estratégia com um objetivo simples: expandir o comércio e vender mercadoria chinesa em tempo recorde, mantendo assim o crescimento. Uma via, uma rota. É uma visão estratégica megalómana. Um projeto a curto e médio prazo.

60 Países inscreveram-se para aceitar as ajudas económicas da China, com a perspectiva de melhorarem o seu desenvolvimento. O Sri Lanka conseguiu construir um enorme porto comercial no sul da ilha a troco de um empréstimo com juros de Xi Jinping. Com a máxima de que nenhum país deve ser deixado para trás nesta mega escalada comercial, Xi consegue vender os seus argumentos facilmente aos países mais pobres. Mas apesar das promessas, os países mais pobres começam a ter o retorno desta política expansionista chinesa: a subjugação. Os juros elevados do dinheiro fácil da China é a contrapartida para este desenvolvimento imperialista. Como não conseguiu pagar a sua dívida, o Sri Lanka viu a China tomar o controlo de todas as atividades do porto construído com o seu dinheiro durante 99 anos, numa zona com cerca de 100 quilómetros quadrados. A soberania posta em causa por um simples truque económico a um povo inocente no sujo jogo da economia macro-económica.

No caso de países mais desenvolvidos, Xi Jinping usou outro tipo de contratos e tácticas. Começou por comprar infraestruturas estratégicas, como o Porto de Pireu na Grécia ou o aeroporto de Toulouse em França. Alguns líderes europeus, motivados pelos milhões chineses, acederam facilmente a esta estratégia de “cooperação” económica. A bandeira política levantada na Europa por François Hollande era a expansão do desenvolvimento e a criação de emprego, argumentos fáceis para enganar o povo empobrecido. Em França Xi assinou contratos sobre a indústria nuclear, aeronáutica, automóvel, energia e finanças. Os alemães foram os primeiros a dar o alarme em setembro de 2016 depois da empresa KUKA, indústria de robótica alemã ter sido comprada pelos chineses. O governo alemão começou então a falar da face oculta das novas rotas da seda. Os alemães acusaram a China de querer moldar o mundo segundo os seus interesses exclusivos, criando desequilíbrio no crescimento sustentado mundial. Não se tratava apenas de economia, mas de criar um sistema clonado do Ocidental, que fosse uma alternativa a curto e médio prazo, mas que em vez de se basear na liberdade, democracia e direitos individuais, se baseia precisamente no oposto.

Em 2018, a China controlava já 10% da atividade portuária europeia, um porto em cada dez. Para alguns países europeus como a Grécia,, a dependência económica da China tornou-se também na dependência política. A Grécia transformou-se assim no primeiro cavalo de Tróia da China na Europa. A estratégia de atacar os elos mais fracos utilizando técnicas de infiltração subreptícias. A União Europeia pela primeira vez, em 2018, não pôde apresentar o relatório anual europeu sobre os Direitos Humanos na China, ao Conselho de Direitos Humanos em Genebra, porque a Grécia o vetou, por influência política direta da China. À Grécia juntaram-se a Hungria e a Sérvia, que veem nesta ajuda económica uma forma de duplicarem as ajudas financeiras já garantidas parcialmente pela União Europeia. O que fez com que estes países tomassem o partido da China e se afastassem da solidariedade europeia nos casos de Taiwan e Tibete, casos evidentes na violação dos Direitos Humanos. E esta postura política é preocupante.

Em Junho de 2017, no Conselho da Europa, o Presidente Macron tentou lançar leis protecionistas contra a China sobre a compra de indústrias estrangeiras. O Primeiro-Ministro português António Costa retorquiu a Macron imediatamente dizendo que Portugal não poderia aceitar essa posição porque a China tinha comprado a dívida em Portugal quando o país estava afundado em dívidas e, por isso, tinham de proteger os interesses dos chineses. Ficou claro que a China usa o seu poder económico, no seio da Europa, para “comprar” a crítica negativa ao seu regime, junto de instituições tão importantes como os Direitos do Homem. Esta estratégia representa uma exportação clara e determinada de influência para comprar o silêncio de tudo o que lhes seja desfavorável à sua imagem, bem como uma aquiescência perante a sua própria política internacional.

A estratégia comercial não seria de criticar se tivesse obedecido a critérios de sustentabilidade e de equilíbrio no quadro da economia mundial. Fazer tábua rasa das economias frágeis dos países mais fracos, invadir países com contratos que são Cavalos de Tróia para os subjugar económica e politicamente e comprar todos os portos, indústrias de ponta e monopolizar a economia global não parece ser de quem quer criar igualdade para todos e justiça social. Parece sim, estar na fase final de um plano secreto para dominar o mundo. Já vimos no passado o que significa o Totalitarismo, seja de esquerda ou direita. E não é bonito. Não é bom para quem acredita na liberdade de valores e na liberdade de expressão. Já parece ser claro que a China não pretende senão impor a sua vontade aos outros. A selvajaria da violação dos Direitos dos Animais a que submete inúmeras espécies, a maneira como mata cruelmente animais domésticos e selvagens não é compatível com uma sociedade global do século XXI. Depois da crise do Coronavírus e, porque, nas últimas décadas, muitas espécies de vírus mutantes da gripe vieram justamente da China, é o momento de parar, aproveitando até que já estamos parados, para fazer a China recuar.

O consumismo desenfreado a que a sua economia obriga, com vista ao seu exclusivo crescimento económico, está a levar o mundo à rutura. A destruição da vida selvagem e de habitats em África, na Ásia e na América do Sul está a ser manipulada maioritariamente pela China. Já não há maneira de não ver as evidências. Eu não quero um planeta destruído, nem uma única política, um único partido, uma única Ordem Mundial. Quero um planeta saudável, com vida, plural, multi-cultural, com mais justiça, igualdade e fraternidade. E isso, neste momento, a China não está a oferecer…

Texto de Pedro M. Duarte

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