O Amor em Tempos de “Guerra” Inspirado por Pessoa – “Não há Longe, nem Distância”

Pessoa, Eternamente Sozinho
Fernando Pessoa, eternamente sozinho… Fonte da foto aqui.

Quantas vezes dizemos a alguém o quanto significa para nós, o quanto é importante na nossa vida, quantas vezes escrevemos ou verbalmente mostramos os nossos sentimentos mais profundos… Quantas vezes abrimos realmente o nosso coração, tendo a coragem para demonstrar esse amor, essa paixão arrebatadora… Quantas vezes…

Tantas vezes o fiz, tantas vezes escrevi, tantas vezes o demonstrei com ousadia, com paixão… Um amor  sentido, um amor vivido, um amor assim não se deve calar…
Fernando Pessoa dizia ”Todas as cartas de amor são ridículas”, metaforicamente falando, mostrou ao mundo através da sua poesia tão sui generis.

Fernando Pessoa (1888-1935) foi um dos mais importantes poetas da língua portuguesa, poeta lírico e nacionalista cultivou uma poesia voltada aos temas tradicionais de Portugal e ao seu lirismo saudosista, que expressa reflexões sobre o seu “eu profundo”, as suas inquietações, a sua solidão e o seu tédio.

Fernando Pessoa foi vários poetas ao mesmo tempo. Tendo sido “plural”, como se definiu, criou personalidades próprias para os vários poetas que conviveram nele, criando assim, os seus heterónimos, tendo cada um deles a sua biografia e traços diferentes de personalidade. Os poetas não são pseudônimos e sim heterónimos, isto é, indivíduos diferentes, cada qual com seu mundo próprio, representando o que angustiava ou encantava seu autor.

  • Alberto Caeiro

Nasceu em Lisboa, em 16 de abril de 1889. Órfão de pai e mãe, só teve instrução primária e viveu quase toda a vida no campo, sob a proteção de uma tia. Poeta de contato com a natureza, extraindo dela os valores ingénuos com os quais alimenta a alma.

Para Caeiro, “tudo é como é”, “tudo é assim como é assim”, o poeta reduz tudo à objetividade, sem a mediação do pensamento. O poema “O Guardador de Rebanhos” mostra a forma simples e natural de sentir e dizer desse poeta. Alberto Caeiro morreu tuberculoso, em 1915.

  • Ricardo Reis

Nasceu na cidade do Porto, Portugal, no dia 19 de setembro de 1887. Teve formação numa escola de Jesuítas, tendo estudado medicina. Monarquista, exilou-se no Brasil por não concordar com a Proclamação da República Portuguesa.
Foi profundo admirador da cultura clássica- estudou Latim, Grego e mitologia. Toda a obra de Ricardo Reis é uma ode à literatura dita “clássica”.

  • Bernardo Soares

É um dos heterônimos que o próprio Fernando Pessoa definiu como sendo um “semi-heterônimo”. É o autor do ‘Livro do Desassossego’, um livro impar e de cariz poético requintado e de um valor filosófico inquestionável.

  • Álvaro de Campos

Foi o mais importante heterônimo de Fernando Pessoa- nasceu em Tavira, a 15 de outubro de 1890. É um poeta “moderno”, aquele que personifica as ideologias do século XX. Estudou Engenharia Naval, mas não podia suportar viver confinado em escritórios.

Tinha um temperamento rebelde e arrebatador, conhecido por ser inconformado, deixou-nos uma das melhores obras de Pessoa – “Tabacaria”, um poema longo,  ligado ao desalento que caracteriza o poeta:

“Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo

Além de todos os seus  heterónimos, existe  Fernando Pessoa,  como poeta, como ortónimo, sendo ele mesmo, escrevendo os famosos versos da Autopsicografia que enunciam o mistério da criação poética que ele próprio sentiu:

“Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Homem multifacetado e apaixonado, deixou-nos uma vasta riqueza literária e poética, cantava ao mundo o amor… O seu grande amor, a sua grande
paixão… Ofélia, um amor impossível que cantou nas suas odes e poesias.

Também eu sou apaixonada por este grande poeta, acredito no poder do amor, na paixão, no desassossego do coração, o meu “comboio de corda”…

Acredito que o amor vence tudo, que deve ser gritado aos quatro ventos, que deve ser vivido, que não deve ser menosprezado nem muito menos subestimado.

Jamais ousaria escrever como Fernando Pessoa, mas apaixonada como sou pela sua obra, é nele enquanto ortónimo e heterónimo que me inspiro para escrever o que sinto, o que me vai na alma, assim, deixo aqui as minhas palavras, deixo aqui a minha alma transcrita do meu coração:

Tão Longe de Ti

Percebi o quão feliz era quando te tive nos meus braços, quando enlacei os meus dedos nos teus cabelos da cor da prata, quando me aqueci no teu peito, e adormeci no teu colo.

Senti me de novo protegida, amada, acarinhada… Senti naquele momento que o poder do amor, o poder do abraço, o poder do beijo superava tudo… Senti que nada, nem ninguém, me poderia afastar de ti, senti… Senti que o universo nos tinha juntado…
Mas, a vida nem sempre é justa… Senti isso, quando me despedi de ti, quando da janela gritaste o meu nome pela última vez naquela noite fria, em que os nossos corpos se fundiram num só… Não consegui fixar os meus olhos em ti… As lágrimas inundavam os meus olhos…

Olhei uma última vez para trás, com esperança de te voltar a ver… Mas ao longo dos dias a esperança foi perdendo força, dando lugar ao vislumbre daquela noite, dos meses, anos em que tão longe de ti, mas tão perto, era tão feliz!

Depois o destino separou-nos, este maldito vírus apareceu vindo do nada… Eu aqui e tu aí… Tão longe de mim… O medo de te perder inibriou-me, o medo de não te voltar a ver e apertar contra o meu peito, aniquilou-me… Quantas noites penso em ti… Todas… Todas as noites grito em silêncio o teu nome, e peço a Deus que te proteja… Que proteja o grande amor da minha vida, aquele que fez de mim a mulher mais feliz do mundo, aquele que me deu o que nenhum outro homem tinha dado, aquele que me despiu a alma, antes de me despir a roupa.

A saudade aperta, a distância entre nós é enorme, abraço-te enquanto durmo, é nos meus sonhos que te encontro e beijo, é nos meus sonhos que te abraço, é nos meus sonhos que te protejo.

Confinada ao medo, confinada ao desejo, confinada a esta paixão desmedida, penso em ti, como estarás? Este vírus separou-nos… Este vírus mostrou-me algo poderoso… Não existe longe, nem distância, não existe maldade nenhuma no mundo, não existe pandemia alguma, que seja mais forte do que o Amor…

Sandra Paula Cabral

 

 

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