
Na passada segunda-feira dia 25 de maio, um polícia norte-americano é filmado por várias pessoas em Minneapolis a sufocar com o joelho, exercendo todo o seu peso, no pescoço retorcido de George Lloyd, um ex-segurança de um restaurante de Boston, algemado e imobilizado no chão, junto da roda do veículo da polícia. A sua prisão deu-se no seguimento de uma denúncia por telefone de um funcionário indiano que terá recebido uma nota falsa de 20 dólares de Lloyd para pagar um maço de cigarros. Após ter sido inicialmente detido e algemado pacificamente, Lloyd, no entanto, resistiu a entrar no veículo da esquadra. Derek Chauvin, um agente com histórico de violência, terá então imobilizado o detido no chão com o joelho pressionado na sua nuca, ajudado pelos seus 3 outros colegas polícias, Thomas Lane, J. Alexander Kueng e Tou Thao, entretanto despedidos e sem licença para exercer a profissão de agentes da autoridade. Derek já foi acusado de Homicídio Voluntário e Homicídio de 3.º grau, na tentativa diplomática de acalmar os ânimos da comunidade afro-americana que imediatamente acusou o agente de racismo e brutalidade policial. Os restantes ex-polícias encontram-se, neste momento, sob investigação enquanto alguns advogados pedem que sejam acusados de co-autores deste brutal homicídio. Durante 8 minutos e 46 segundos, Lloyd gritou e suplicou para que o polícia o deixasse respirar, mas os 4 polícias ignoraram o seu pedido. Também alguns transeuntes que se aproximaram da cena, enquanto filmavam, tentaram demover os agentes daquela brutalidade sobre o detido, deitado e algemado, indefeso. Mas foram totalmente ignorados e tiveram de assistir em direto, assim como o mundo inteiro à posteriori, à morte de um civil por sufocação da traqueia. Quando chegou a ambulância, Lloyd já se encontrava sem vida. Toda as imagens de video deste evento traumático foram brilhantemente compiladas numa reportagem de reconstituição bastante completa de uma jornalista do jornal The New York Times, para posterior arquivo histórico. Um capítulo que também está a levantar suspeitas nesta investigação é o facto de Derek e David terem trabalhado os dois no mesmo restaurante de Boston, no passado.

No dia seguinte à morte de Lloyd, começaram as manifestações populares, os protestos e os distúrbios em Minneapolis. Palavras de ordem anti-racismo e contra a brutalidade policial normalmente exercida sobre a comunidade afro-americana eram entoadas nas ruas. Ao lado de manifestações pacíficas, os ânimos exaltaram-se, devido à gravidade deste homicídio e de muitos que ocorreram antes deste em anos anteriores, também sob a suspeita de racismo. Paralelamente aos mais pacifistas, começaram a aparecer os primeiros sinais de distúrbios violentos, incêndios de edifícios e vandalização de lojas e veículos, ataques a polícias, numa lista infindável de crimes violentos que parece continuar. Rapidamente o fenómeno começou a alastrar a outras cidades com mais tradição de luta pelos direitos humanos ou onde a comunidade afro-americana tem mais expressão. Vários edifícios abandonados e lojas pilhadas foram incendiados e nas ruas atearam fogo a pneus, caixotes do lixo e veículos. Na quinta-feira dia 28 de maio, depois da polícia ter lançado da cobertura do 3.ª Esquadra de Minneapolis granadas de atordoamento e gás lacrimogéneo, alguns protestantes entraram no edifício e atearam fogo. Os agentes tiveram de ser resgatados de helicóptero enquanto as televisões filmavam a destruição completa do edifício.

O poder destas imagens incendiaram, literalmente, ainda mais cidades por todo o país. A partir daí, milhares de pessoas em várias cidades iniciaram pilhagens de supermercados, armazéns e megastores e de todo o comércio de rua em geral. Zonas de luxo como a famosa Rodeo Drive de Beverly Hills foram também vandalizadas e pilhadas, sem que a polícia conseguisse impedir a destruição massiva infligida por estes atos de violência, embora tenham sido detidos alguns assaltantes em flagrante delito. Muitas lojas de marcas conhecidas parecem ser alvos preferenciais dos assaltantes. Todo o país entrou num verdadeiro Estado de Sítio, com vandalização, pilhagens e incêndios a serem utilizadas como forma de demonstrar aos responsáveis do país que a comunidade afro-americana não pretende tolerar mais este tipo de mortes por parte das autoridades policiais.
Megastores como a conhecida Target, tiveram de fechar mais de 100 lojas para evitar danos ainda maiores devido às pilhagens. Em New York, Manhattan, a zona do Soho foi uma das mais atingidas e os lojistas têm sofrido com a pilhagens, incêndios e devastação do seu património. E em Washington o fogo e os protestos violentos estiveram muito perto da Casa Branca (imagem abaixo). Neste momento, os prejuízos por todo o país são já de muitos milhões, não havendo ainda previsão do fim desta vaga de violência. E a lista de danos não pára de aumentar. Uma imagem que tem sido ridicularizada é a de uma assaltante a caminhar calmamente com um cheesecake na mão, acabado de roubar de uma loja em Seattle. Também sem qualquer lógica, mesmo depois da CNN ter sido alvo dos polícias, as suas instalações foram vandalizadas por protestantes violentos, num episódio absolutamente surrealista. Também alguns casos de indivíduos violentos da extrema-direita infiltraram-se no meio dos manifestantes para potenciar a insurreição e a anarquia. Apesar do recolher obrigatório, alguns manifestantes continuam as suas atividades de rua, quer pacíficas quer violentas, originando conflitos armados com a polícia.

Mas esta escalada de tumultos, motins, e caos é resultado direto, por um lado da acção violenta de anarquistas, por outro por uma estranha inação inicial da polícia para conter as pilhagens e o vandalismo destes grupos. Durante dias, a polícia na maior parte das cidades, apenas atuou pontualmente em algumas situações, mas não montou um plano robusto à altura da situação. Por esse motivo, os anarquistas foram aumentando a destruição exponencialmente, arranjando mais adeptos e criando uma maior sensação de impunidade. E cidades como Los Angeles acabaram por ter de declarar Estado de Emergência. No Minnesota, por exemplo, o recolher obrigatório está a ser aplicado com violência militar das equipas SWAT, mesmo em zonas residenciais, onde fazem disparos contra quem não se recolhe a sua casa dentro do horário estabelecido. Segundo alguns americanos, esta situação de inação das polícias, como o caso já apontado por muitos do Mayor de Minneapolis, pode ser uma armadilha lançada à sociedade livre norte-americana, para vir a justificar um Estado de Polícia permanente para o futuro, um “sonho” antigo da NWO.

Desde a campanha eleitoral para as presidenciais norte-americanas, que Trump tem vindo a ser acusado de lançar provocações racistas e usar slogans do KKK e de grupos da extrema-direita, como o seu célebre mote de campanha “America First“, igual ao usado pelo KKK nos anos 20 (imagem acima), precisamente há 100 anos atrás.
Ontem as declarações de Donald Trump sobre esta crise foram politicamente corretas, num discurso bastante abrangente, mas não deixou de lançar algumas farpas estratégicas que alimentam ainda mais o conflito, apelando à força militar massiva e ao recolher obrigatório como forma de repor a ordem. Mas também acicatou os protestantes, ao declarar o movimento antifascista “Antifa” como terroristas internos e prometendo penas severas aos organizadores dos assaltos e da violência urbana. No final, Trump passou uma mensagem de confiança na lei e na ajuda que o governo dará aos comerciantes e a todos os afetados por esta insurreição. Antes deste discurso Trump tinha repetido a frase de extrema-direita proferida em 1967 pelo chefe de polícia Walter Headley e pelo candidato presidencial segregacionista do KKK George Wallace – “when the looting starts, the shooting starts“ – numa alusão ao uso de força letal contra os assaltantes de lojas. Esta frase esteve na origem das declarações de Trump ameaçando bloquear definitivamente o Twitter. Já pelo lado do Facebook, Mark Zuckerberg foi fortemente criticado pelos seus colaboradores por ter optado manter o comentário do presidente na sua rede social. Também o triste episódio da prisão em direto do repórter afro-americano da CNN em Minnesota foi visto como mais uma provocação quer por representar um ataque à liberdade de imprensa, quer por racismo, já que os outros repórteres da equipa não foram detidos. Junta-se também o uso de violência extrema por vários polícias, agora também “dispensados” definitivamente da sua função de agentes da autoridade, no caso do casal de afro-americanos atacados por vários tasers dentro do seu próprio veículo, em Atlanta.

Para muitos opinion influencers da área do jornalismo, da política e do mundo VIP, depois da forma como Trump geriu os incêndios, a crise do novo coronavírus e agora esta crise de racismo, os seus dias como presidente estão contados, talvez não conseguindo ser reeleito para o segundo mandato. A gota de água para muitos, foi a forma como o Presidente empunhou a Bíblia na igreja de St. John’s que tinha sido alvo de destruição e vandalismo por alguns manifestantes. Antes de visitar o local mandou a polícia atacar com balas de borracha, granadas atordoantes, gás pimenta e cavalaria uma manifestação pacífica que ocorria perto da igreja, para que pudesse aproximar-se do local.
Alguns comentadores já temem que Trump tenha nesta insurreição contra o racismo uma “oportunidade de ouro” para instalar um verdadeiro estado de polícia a nível nacional.
Texto de Pedro M. Duarte
4 respostas
Ei Sr. Pedro
Li seus lindos comentários.
Só faltou sua OPINIÃO de como; 1) O Sr resolveria ou apenas sugerir como resolver o antes, o durante e o depois de todos os incidentes.
Ainda que o senhor ESCREVA muito bem, e merece todos os MÉRITOS, entendo que é por demais fácil tecer esses comentários e INSINUAÇÔES; O difícil realmente é RESOLVER, PACIFICAMENTE tudo isso, em qualquer PAIS.
O MUNDO, ou melhor todos nós estamos chegando a DECISÕES DIFICEIS. Exceto claro nos PAISES COMUNISTAS, onde ninguém pode se manifestar, como todos nós, sem grandes REPRESÁLIAS e PREÇOS altos, sob pena até de ter sua VIDA ENCERRADA, COMO É O MAIS RECENTE CASO DO médico chinês QUE APENAS QUISE ALERTAR as AUTORIDADES GHINESAS, sobre os perigos que estavam para surgir, como de fato surgiram e continuam de fato em todos os PAISES.
Realmente o MUNDO não é como deveria ser, porém o REGIME DEMOCRATICO, com todas as suas dificuldades e NUANCES, ainda é o menos RUIM que conhecemos.
Mesmo assim, OBRIGADO pelo CONTEUDO, que sempre nos leva a REFLETIR MAIS e MAIS. Jose SERAFIM Abrantes Contador CRC SP.