Profissão: Docente Versus Sociedade

Nós, profissionais de creche, somos os CEOs da educação da população- damos as bases para os nossos alunos poderem ir mais longe… Para um dia se tornarem engenheiros, médicos, arquitetos, professores, psicólogos, especialistas em determinada matéria e profissão, necessitando para esse efeito uma licenciatura ou um mestrado, ou não.

Ser educadora de infância, ser professora, tem muito que se lhe diga nos tempos de hoje.
Já lá vai o tempo em que nós docentes eramos uma classe privilegiada, em que eramos vistos como aqueles que ensinam e dão as bases necessárias para que a criança se possa, um dia, tornar em “alguém na vida”.

Hoje tudo mudou. Os pais esperam que sejamos nós a educar as crianças em todos os aspetos- não somente a nível cognitivo e letivo– a expectativa é que sejamos também nós a dar os valores que, em qualquer outra geração, seria da responsabilidade total da família implementar. Valores simples e necessários como um “obrigada” ou um “se faz favor”. Esperam que sejamos nós a fazer milagres na arena da educação cívica e da formação do caracter, quando muitos dos próprios pais nem sempre aderem aos comportamentos que esperam ver nos seus filhos- muitas vezes, não conseguem eles próprios fornecer estas bases fundamentais por falta de tempo ou simplesmente porque dá demasiado trabalho.

Por estas e outras razões, sinto que ser docente hoje em dia se está a tornar cada vez mais difícil. Somos profissionais multifacetados, certamente, mas cada vez mais temos que o ser, e as expectativas por vezes são simplesmente irrealistas.

Ser educadora ou professora é ainda mais difícil dado o facto de trabalhamos diariamente com pequenos seres humanos que requerem muito cuidado, atenção, carinho, e sobretudo, que necessitam do nosso tempo para se sentirem seguros.

Sou educadora.

Não sou arquiteta, não faço projetos nem maquetes… Mas estou na base daquele que é talvez o projeto mais fundamental de qualquer sociedade e das suas crianças- ajudo na construção de sonhos!

Não sou médica, não faço operações… Mas consigo curar feridas com beijinhos!

Não sou reconhecida como psicóloga… Mas dou colo, afeto e carinho, e ao fazê-lo, tenho uma influencia incalculável na mente das crianças!

Não sou engenheira… Mas sou engenhosa na arte de amar, de estar, e de brincar!

Afinal o que sou eu, perguntam vocês? Afinal de contas, talvez seja uma palhaça!

Sim… Ser educadora é também saber ser palhaça.

Será por isso que temos menos valor perante a sociedade do que claramente devíamos ter?

Joker
Joaquin Phoenix como… Joker (2019), talvez o mais famoso de todos os palhaços!

Não sou CEO de uma empresa… Pois não!!! Sou mais do que isso… Sou a educadora da infância do mundo, trabalho com crianças, os futuros homens e mulheres de amanhã- educo, dou amor, ensino valores, ensino a pensar, ensino a crescer, a socializar, construo raízes e foço-as crescer!

Afinal também eu, nós docentes, somos CEOs da Educação… Tudo começa aqui na creche, no jardim de infância… É aqui que todas as competências primárias sobre as quais todas as outras são edificadas e das quais todas as outras dependem são adquiridas!

Ser palhaço…

Ser palhaça(o)! Nobre profissão… Profissão multifacetada, muitas vezes desvalorizada porque não é acompanhada de um título como “Dr(a)”, “Sr(a)arquiteto(a)”, “Sr(a). Eng”…
É verdade… Não dá direito a um título… Ou será que dá? Um palhaço… Um homem ou uma mulher, que se veste e às vezes tem até que colocar uma mascara- de forma a fazer rir, sorrir, e abraçar quem por ele(a) passa… Profissão nobre esta!

Por detrás da pintura e da peruca, existe alguém que chora, que ama, que sofre, que enfrenta lutas e batalhas que ninguém vê. Transforma-se naquele instante para que quem o vê esqueça dos problemas, sofrimentos, tristezas do dia a dia.

Vivemos num mundo de aparências, do faz de conta, e muitas vezes isso faz com que nos esqueçamos do mais importante:

Respeitar cada um pelo que é, amar, valorizar e demonstrar que todos nós, independentemente da profissão, classe social, somos importantes e imprescindíveis.

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