Falamos muito de paixões não retribuídas. Imaginemos um homem que ama uma mulher, mas esta não o ama de volta. Ele sofre. Coitadinho.
Mas e o ódio, será que este pode também não ser retribuído? A maneira como pensamos normalmente leva a uma resposta simples: não. Se alguém nos ama, não temos necessariamente o dever de a amar de volta, sobretudo no contexto de uma relação amorosa. Porém no que toca o ódio, a maneira de pensar mais comum parece ser a seguinte- se alguém nos odeia, não temos alternativa senão odiar essa pessoa também.
Eu não concordo.
Tenho todo o direito de nem sempre odiar quem me odeia a mim. E provavelmente não só tenho o direito- nalguns casos, talvez seja mesmo a melhor coisa a fazer.
E exatamente da mesma forma, e de uma certa maneira, pelas mesmas razões que temos o direito a sermos alvos de uma paixão que não tencionamos retribuir.
Imaginemos agora um homem que me odeia a mim, mas eu não o odeio de volta. Ele sofre. Coitadinho.
Aqueles que nos odeiam muitas vezes esperam efetivamente que os odiemos de volta. Existe algo de profundamente frustrante ao ver ódio retribuído com outra coisa que não seja um ódio igual, e sobretudo se o ódio for retribuído com amor, ou pior ainda, indiferença.
Mais talvez o mais importante seja não deixarmos aqueles que nos odeiam controlarem nem o que fazemos nem o que pensamos, e ao não retribuir todo o ódio que nos é dirigido, tomamos controle não só das nossas emoções, mas também da nossa mente. Afinal de contas, o ódio consome tempo e espaço mental o qual, em muitos casos, será certamente melhor gasto se for dedicado a outros alvos mais merecedores do nosso esforço.
Se alguém nos odeia, segue-se naturalmente que não se deve dar a essa mesma pessoa influência sobre a nossa mente.
E nos tempos atuais, conseguir controlar a nossa mente talvez seja uma das habilidades mais difíceis, e importantes, que temos que desenvolver.
João Silva Jordão