Começo por declarar que a Casa das Aranhas (CdA) é um, simples, limitado e humilde blog com um só autor permanente, eu próprio, João Silva Jordão.
Porém, dada a associação da CdA à revelação de uma lista de membros da Maçonaria Portuguesa, nomeadamente no segundo comentário de um dos artigos da CdA, lista cuja autenticidade foi indiretamente confirmada pelo Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, fica aqui então um comunicado em nome da CdA escrito por mim, João Silva Jordão, relativamente à recente detenção de ativistas associados ao nome Anonymous. Visto que a mera associação a ‘crimes’ informáticos parece ser motivo para detenção, fico eu também em perigo de ser detido, mesmo não tendo sido eu pessoalmente a publicar o comentário que contem a lista. Porém não só concordo plenamente com a sua publicação e divulgação, como verei qualquer eventual detenção como reconhecimento de um trabalho bem feito, tendo em conta as reflexões que se seguem.
Começo por subscrever as muitas declarações de repúdio da detenção dos ativistas Anonymous, grupo com o qual nem sempre estou de acordo, sobretudo relativamente à sua escolha de símbolo principal. Tenho também algumas objeções relativamente a algumas ações às quais estão associados. Porém tenho ainda mais reservas para com o aparato repressivo de Estado, que se tem ultimamente comportado de uma maneira cada vez mais injusta, provando representar cada vez mais a essência da cobardia- ser forte com os fracos, e fraco com os fortes, um inimigos dos justos e um amigo dos injustos.
Voltando às detenções: Estas são somente o último episódio do ataque a que quase todos os ativistas políticos, tanto em Portugal como através do mundo (se bem que em escalas diferentes), são vitimas- intimidação, perseguição, vigilância permanente, difamação, detenção, prisão, agressões, ou até assassinato. Em suma, neste mundo de mentira e opressão quem fala a verdade e luta contra a opressão tende ver a sua integridade física e mental sobre ataque. Mas a alternativa é pior- é ficar a observar da periferia, pensando ingenuamente que a opressão só se abate sobre ‘os outros’, ou pior ainda, assumindo que quem é detido ou preso fez necessariamente algo de moralmente incorreto. A lista de pessoas presas por quebrar as leis debaixo das quais viviam ou vivem, mas que são depois lembradas como heróis e heroínas pela história, é muito, muito grande. Aliás, quase todos as grandes figuras políticas associadas à luta contra a opressão estiveram encarceradas durante algum período das suas vidas, como Martin Luther King, Malcolm X, Rosa Parks, Mahatma Ghandi ou Nelson Mandela, entre muitos outros.

Não foi afinal Jesus (que a paz esteja com ele), preso pelo Império Romano, vendido por trinta moedas de pratas pelo infame traidor Judas? Jesus é, afinal de contas, o preso político mais famoso e respeitado da história da humanidade.

A pergunta é- precisamos nós de esperar que passem anos, décadas, séculos ou milênios para que vejamos os lutadores contra a opressão como heróis, ou teremos o bom sendo de o fazer agora? E se o fizermos agora, teremos a coragem de fazer algo sobre isso e de nos juntar a esta mesma luta?
Existem várias considerações importantes relativamente a estas detenções, nomeadamente, temos que apontar e condenar a contradição da censura, sobretudo quando esta é perpetrada pelo Estado. Temos igualmente que ser claros sobre o papel do ativismo em si: Os ativistas em geral, e sobretudo aqueles que arriscam o seu bem-estar ao divulgar documentos que comprometem indivíduos ou grupos corruptos, que divulgam detalhes sobre contratação pública ilegal, que divulgam nomes de pessoas que pertencem a associações claramente mafiosas, que publicitam e expõe ações ilegítimas, opressão Estatal, ou quaisquer outras ações injustas, não devem ser, num verdadeiro Estado de Direito, inimigos de Estado. Só o são se o Estado for malicioso ou incompetente, e no mundo moderno os ativistas tendem efetivamente a ser inimigos do Estado precisamente pela tendência dos Estados em serem estas duas coisas, e muito mais.
Na verdade estes ativistas são uma parte essencial da sociedade civil que se quer ativa e de boa consciência, essencial para o progresso social. Temos um exemplo recente de Hervé Falciani, que divulgou, contra as regras da sua antiga empresa, documentos que comprovavam que um dos maiores bancos do mundo, o HSBC, banco cuja riqueza tem origens na lavagem de dinheiro do tráfico de Ópio na Índia e China, ajudava os seus cliente a fugir aos impostos. Ora, ao divulgar documentos supostamente “confidenciais”, fez uma coisa que é ilegal mas que vai ao mesmo tempo auxiliar vários Estados a cumprir as suas funções mais básicas. O facto de não existir proteção para quem divulga documentos que ajudam a justiça a perseguir criminosos é uma lacuna gritante. Quando os mesmos são perseguidos, é um ultraje.
Temos outros episódios recentes, como David Kelly, que divulgou documentos sobre as mentiras do Governo Britânico relativamente às alegadas armas de destruição maciça do Iraque, acabando por se “suicidar”, ou como Sean Hoare, cujas revelações sobre o News of the World foram altamente publicitadas, ele próprio também acabando por se “suicidar”. Temos outros supostos divulgadores de informação sensível, como Julian Assange ou Edward Snowden, também eles perseguidos pela “Justiça”, mas que são simultaneamente elevados ao estatuto de heróis pela comunicação social e população. Mas mesmo assim continuam a ser perseguidos.
Como ativistas, todos nós, somos imperfeitos, muitas vezes demasiados desunidos, com rivalidades entre nós, enquanto que se constatam facilmente todo o tipo de contradições no nosso trabalho; ou seja, somos humanos.
Mas há algo de muito positivo que se aplica a todos os que lutam pela justiça: tentam construir todos os dias um mundo melhor, pois existe uma minoria que trabalha todos os dias para fazer do mundo um sítio pior em seu próprio benefício. E quando o Estado é injusto, as pessoas de bem encontram-se naturalmente a serem oprimidas por ele. Mas que ninguém se esqueça, que como ativistas, não somos inimigos da sociedade, mas sim seus amigos e protetores. E que o Estado se lembre que ao lutar pela justiça, não devíamos ser presos mas sim auxiliados, pois estamos a fazer o trabalho que o Estado e o sistema judicial se recusam a fazer como resultado do facto de serem controlados por degenerados.
Mas visto que há pouco auxilio pela parte do Estado na missão da luta pela justiça, contentemo-nos por algo muito melhor: A direito à honra, à dignidade, o privilégio de nos deitarmos todas as noites convictos que, mesmo sem sempre conseguir, pelo menos tentamos fazer o que está certo.
João Silva Jordão,
26 de Fevereiro de 2015
|1| Peço desculpa por não aderir, neste caso, à proibição Islâmica relativamente à representação de profetas de Deus, neste caso por respeito à obra de Caravaggio
Uma resposta
Devias estar preso por atentado à liberdade de outros, neste caso à minha.
Quem és tu para colocares o meu nome em listas?
A tua liberdade de expressão acaba onde começa a minha, percebes ou faço-te um desenho do Maomé a bombardear gente inocente e de bem ?
Ainda não te meti um processo, mas vais ter que explicar em Tribunal quem te autorizou a brincar como o meu nome.
Se isto fosse um Pais muçulmano como a Arabia Sudita, eras condenado ao chicote! parece que eles é que sabem como gerir a liberdade e as sociedades.