A Quarentena – Uma Realidade que Jamais Esquecerei

Lady Plays Accordeon, Milan, Italy
Uma senhora toca acordeão da sua varanda em Milão, Itália, durante a quarentena… Fonte aqui.

Maio chegou, e com ele a esperança de um novo mês, de um novo desafio, de uma nova forma de viver e enfrentar cada dia.

Estou desde dia 16 de Março em casa, a minha vida, a vida da minha filha e de todos nós mudou de um dia para o outro… E isso jamais irei esquecer por uma simples razão- afetou me direta e drasticamente em todos os níveis da minha vida.

De mansinho, de um segundo para o outro, a minha vida, a nossa vida, e a vida de milhares de pessoas pelo mundo fora, ficou virada do avesso; sonhos e projetos entraram em modo Off, tudo estava a ser encaminhado de forma positiva, tudo fluía, e… De um dia para o outro, o meu mundo, o mundo de milhares e milhares de pessoas desabou. Os meus sonhos, e sendo redundante, desvaneceram-se…

Os amigos juntaram se online, os telefonemas, videochamadas aconteceram, as mensagens via Messenger e WhatsApp entupiram o meu telefone e os de milhões de pessoas; a amizade, a solidariedade aconteceu, demos as mãos, ajudando e continuando a ajudar quem precisa, de todas as formas possíveis e imaginárias.

O sol continuou a nascer e a pôr-se todos os dias, e com ele a esperança renascia a cada dia.

Muitos morreram, deixaram famílias, a vida foi seixada… Lágrimas caíram, as despedidas feitas sem tempo para olhar uma última vez, para quem nos fez feliz.

As famílias juntaram-se, aprendiam agora a viver em família… A paciência, a esperança, o olhar para o outro tomava agora novos contornos.

A terra mudou… O planeta doente de tanta indisciplina, poluição, maus tratos… Finalmente está a recuperar… E até quando? Eis a questão… Até quando… O Homem, um ser dito racional, tornou-se irracional ao destruir o seu próprio habitat, devido à ganância, ao poder, ao dinheiro… Agora, aos poucos e poucos, o lindo planeta azul, vai mostrando coragem e vai-se renovando a cada segundo; os animais voltam aos seus habitats naturais, livres e em paz, decoram a vida na terra, ensinando o Homem a viver… Até quando…

A economia caiu drasticamente, dos cofres do Estado já saíram e continuarão a sair milhares de euros para fazer face a esta pandemia… Maldito vírus que veio para arruinar o Homem… Mas veio também para dar um refresh na natureza…

Ricos, pobres, famílias ditas normais, famílias monoparentais, todas sentiram na pele e continuarão a sentir, a mesquinhez deste vírus, a diferença consiste em que os ricos continuam ricos, (compram o sol, a lua, as estrelas) enquanto que os da classe média, contam os trocos para pôr comida na mesa, e os pobres ficam mais pobres… Não tenho nada contra nenhuma classe social, mas na realidade, este vírus que não escolhe o rico ou o pobre, trouxe a pobreza a milhões de pessoas, que viram as suas vidas confinadas ao layoff, ao desemprego… Os sonhos eram agora vistos por um canudo…

Médicos, enfermeiros, bombeiros estavam agora na linha da frente, a lutar contra um inimigo invisível… Uma batalha que se advinha dura e longa, em que as trincheiras são os hospitais.

O mercado do petróleo caiu de forma abismal no início desta vaga, começando agora a recuperar, a gasolina vai ter o seu primeiro aumento desde fevereiro, estando agora a 1.245€, o gasóleo a 1.154€.

A comida era escassa no início do confinamento, não por falta, mas pelo açambarcamento desta, o mundo parecia que ia acabar, o medo da fome, assustou a população do mundo… Normal, a fome… Outro vírus de que ninguém fala.

As universidades, as creches, os jardins de infância e escolas pararam, as aulas são dadas agora online.

Os abraços, os beijos, foram substituídos por emojis, por palavras de afeto e compreensão… A máscara faz agora parte do uso diário.

As idas a bares e discotecas deixaram de acontecer presencialmente, para acontecerem online, os amigos continuaram a celebrar a amizade e a vida de uma maneira diferente, adaptaram-se à convergência e divergência da vida que fez pausa.

Os restaurantes, as mercearias de bairro, as livrarias, as bibliotecas… Fecharam!

Praias fechadas, bancos de jardim selados, jardins, palácios, museus, cinemas, teatros… Fechados!

Aniversários… Cancelados! Festas canceladas! Estar com os amigos… Cancelado!

Dia do pai, dia da mãe, Páscoa… Tudo cancelado!

Neste momento em Portugal, existem 25,351 casos confirmados, 1,023 mortes, mais 16 óbitos e já muitos recuperados…

O mundo praticamente parou… Para se reiniciar…

A partir de 4 de Maio, a economia aos poucos e poucos vai dar o ar da sua graça… Estabelecimentos, como livrarias, cabeleireiros, lojas de bairro até 200 metros² vão poder abrir.

Às creches, às escolas, às universidades, será dada luz verde para meio de Maio, em regime de segurança diz DGS… Segurança para quem, para os governantes ou para nós, profissionais de educação, crianças e jovens… Surreal!

O país tem de fazer mexer a economia, dizem os especialistas na matéria… Concordo, mas também sei que chegando o verão ninguém segura ninguém em casa, e aos poucos o Homem, animal de hábitos, vai pondo de parte os cuidados que deveria ter, as praias com ou sem “senhas”, estarão a abarrotar, os cafés cheios, a música a tocar, a casa cheia de amigos que se juntam para comemorar os pequenos mas tão bons prazeres da vida…

E depois como será… O que virá depois… O que nos irá ainda acontecer no pós-estado de emergência… Eis as questões que se colocam…

A vida parou… Entrou em modo Off, à espera do botão On.

Sandra Cabral

 

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