Ser Educadora em Tempos de Pandemia – um Relato na Primeira Pessoa

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Sandra Cabral na sua função de educadora… As caras das crianças foram tapadas para proteger a sua privacidade!

Sou educadora- trabalho numa instituição onde somos uma grande família, todas nós trabalhamos em parceria, docentes e não docentes, equipa técnica e direção, trabalhamos em prol das crianças e da família, somos mães, pais, avós, que ali estamos para dar cor e vida às crianças que connosco estão….

Ser educadora nos dias de hoje não é fácil, é uma tarefa árdua, que requer um grande jogo de cintura quando à nossa frente, estão pequenos seres humanos, que têm de ser tocados com muito cuidado, com muito carinho.

Ao longo da minha vida como profissional de educação, tenho me deparado com situações bem difíceis, sob o ponto de vista emocional, confrontada muita das vezes com crianças que oriundas de uma familia dita normal, em que as condições económicas não são a base do problema, mas sim a equação de uma problemática assintomática de afeto, a chamada “gaiola dourada”, um termo conhecido da psicologia, que aborda as lacunas do afeto em detrimento dos bens materiais.

Quantas vezes nós educadores temos de limar arestas e colmatar lacunas emocionais, as quais, numa perspetiva de médio prazo a longo prazo, poderão ter implicações significativas nas áreas da auto estima, assim como na segurança básica e na perceção que a criança tem de si mesma.

Ser educadora nos dias de hoje é um dos papéis mais importantes em qualquer sociedade, e ao mesmo tempo, é extremamente exigente a todos os níveis.

Ser educadora é uma das tarefas e profissões mais difíceis, mas também a mais bonita… É difícil por se tratar de crianças que são repletas de sonhos, de sorrisos, de um mundo imaginário que tem de ser abordado com muito cuidado, com muito carinho e ternura. Estas crianças amam-nos incondicionalmente… E o mais bonito de tudo é que se entregam de corpo e alma a nós, profissionais de educação, tanto aos que fazem parte do corpo docente, como aos que não, e fazem-no sem maldade, sem pedir nada em troca, pedem somente abraços, colo e muitos miminhos… Em troca dão-nos mimos, beijinhos, abraços, e muito, muito amor.

Quantas vezes me questiono, e dou por mim a pensar o quão fantástico é ter crianças tão pequenas (falo de crianças de 2 e 3 anos) que se preocupam connosco, com o que sentimos… Tão pequenas e já tão atentas e perspicazes.

Quantas vezes entro na sala, ouço um grito alegre de bom dia, seguido de abraços apertados e beijinhos.

É tão bom entrar na sala e ouvir de imediato os seus gritos e a pergunta da manhã:

-” Titi, estás bem?” , é delicioso poder observar , escutar, perceber o quanto me amam,o quanto sou importante para eles…sem dúvida, uma das mais belas profissões do mundo!

Ser educador e/ou professor, ser auxiliar de ação educativa, ser responsável de berçário, ser responsável de ação de serviços gerais, ser cozinheira, ser técnica, ser diretor, é ser condutor de sonhos, de almas, que têm de ser tocadas com muito, muito cuidado.

Ser educadora é… A mais bela profissão do mundo!

Ser educadora não é simplesmente olhar por crianças- há toda uma série de procedimentos que temos que cumprir, há atividades que temos que planear e promover, tendo sempre em conta os interesses e as necessidades do grupo.

Também é verdade que trabalhar com crianças exige uma grande dose de paciência. Vivemos no meio do barulho, de gritos, gerimos conflitos, ensinamo-las a socializar, a crescer, a partilhar, a amar, a respeitar o outro, a perceber que existem crianças diferentes, quer por síndromes que possam ter, quer por ter uma cor de pele diferente. Ensinamo-las a respeitar, ajudar, a amar o outro, independentemente de tudo o resto.

Somos mestres no verdadeiro sentido da palavra. Saímos felizes mas cansadas, após um dia de trabalho.

Temos, muitas vezes, ainda trabalho para fazer em casa, mas… Queixas à parte, este é também um dos trabalhos com mais alegrias. Temos mimos a toda a hora, sentimo-nos as mais belas, sentimo-nos princesas nas mãos das crianças… E somos as suas heroínas, somos o espelho delas, somos o conforto, o colo, muitas vezes as enfermeiras e as “mães”.

Olham para nós com os olhitos brilhantes e sorridentes, com um sorriso verdadeiro e sem malícia, somos exemplo em muitos dos seus comportamentos.

Ser educadora é fantástico, é viver diariamente aventuras sem fim, é ser ao mesmo tempo uma princesa e uma guerreira num conto de fadas que ajudamos a contar no dia a dia. É ser amiga, é ser cavaleira e super heroína de mil e uma histórias de encantar, é ser contadora de histórias e vivê-las com a intensidade de quem está lá dentro, no meio delas, mimando-as de todas as formas possíveis e imaginárias. É receber massagens, sorrisos e beijos. É ter o cabelo sempre “arranjado” por mãos pequeninas e cheias de afeto, as unhas pintadas de diversas cores, é receber beijos repenicados cheios de carinho…

É viver intensamente cada dia. É ficar com os cabelos em pé e, mesmo assim, manter um sorriso! É amar com muita intensidade. É brincar, dia após dia…

Ser educadora de infância, é voltar a ser criança, redescobrir o melhor de nós com elas.

Após 60 dias afastada, voltei finalmente ao terreno

Foi a 18 de Maio de 2020 o dia em que os voltei a ver, a abraçar, a amar… E neste momento só tenho o desejo de os ter todos os dias ao meu lado, um desejo que se vai tornando realidade aos poucos e poucos, com todas as medidas segurança indispensáveis e necessárias para a nossa segurança e bem estar de todos nós, de forma a protege-los desta ameaça invisível, que aparece vinda do nada, e se instala silenciosamente entre nós- o Covid-19.

Não é fácil trabalhar assim, a logística é muita, o distanciamento social entre crianças de 2 anos é impossível de fazer- por mais que se tente, não se consegue. Não têm ainda a capacidade de compreender o que está em causa, nem a capacidade para o executar. É surreal falar em distanciamento social nesta faixa etária- só mesmo uma Ministra da Saúde, completamente afastada da realidade do terreno pode pensar que é possível.

Todas as medidas impostas pela DGS estão a ser impostas. Como educadora posso afirmar que todas as outras medidas, como o de mudar os sapatos, almoçar por turnos, a diretivas de higiene, o lavar as mãos com sabão azul e branco, o alternar e separar das camas (quando é possível) para que a sesta se realize… Todas estas são sem dúvida medidas plausíveis. A indicações da DGS neste sentido são não somente exequíveis, são essenciais.

O importante agora é:

Estamos todos juntos outra vez!

Recomeçar, iniciar uma nova etapa, arquitetar sonhos, construir a auto estima, acreditar e fazer acreditar que o amanhã será melhor.

Todos juntos vamos conseguir, um novo recomeço, uma nova esperança se vislumbra agora, como uma luz ao fundo do túnel…

Como diz Antoine de Saint- Exupéry:

“O essencial é invisível aos olhos”

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