Traficantes de Droga e Dealers à Beira de Um Ataque de Nervos

No seguimento do lockdown mundial imposto pela maioria dos países aos seus cidadãos, os traficantes de droga e dealers, não gozando dos privilégios de trabalhadores legais, foram obrigados a ficar confinados às suas casas ou aos seus “escritórios” ou “fábricas”. Ainda que tenham conseguido escoar algum produto com direito a entregas em casa nalguns casos, o grosso das vendas sofreu um revés inesperado na sua cadeia produtora-consumidora. E os líderes deste submundo do crime, viciados nos seus lucros de milhões, não podem ver os seus negócios acompanharem o desmoronamento económico mundial. Neste submundo do crime existem sempre alternativas. Basta parar e repensar na estratégia, porque uma vez que se entre no mundo das máfias da droga, nunca mais se abandona o mundo do crime. É um pacto de morte para a vida, até ao dia em que esta abandona o corpo, seja por overdose, por homicídio, ou por “morte natural”.

Durante dois meses non-stop, a população ficou confinada, e o escoamento do produto caiu para níveis não suportáveis. Com “dívidas” para pagar, na complexa teia de corrupção no mundo da droga que envolve produtores, distribuidores, polícias, seguranças privados, políticos e empresários de casinos, de discotecas, bares, locais noturnos de acompanhantes, restaurantes, e de todo o tipo de negócios “legais” envolvidos no branqueamento, os conflitos pela ausência do motor deste mundo – o dinheiro – estão a deixar os seus intervenientes literalmente à beira de um ataque de nervos.

Com as discotecas fechadas por tempo indeterminado (e podem ser muitos meses ou mesmo anos), escolas e universidades sem ou com poucos alunos, ginásios fechados ou com clientes contados a conta-gotas, os dealers viram-se para as festas e eventos ilegais, que lhes permitem colocar o produto retido pela pandemia, nas mãos dos consumidores. Por isso temos assistido à violação do Decreto-Lei que regula o desconfinamento, sobretudo por parte das camadas mais jovens, pressionados pelos traficantes do topo desta cadeia do mundo do crime. A recente proibição de beber álcool em locais públicos depois das 20h, bem como o encerramento das lojas à mesma hora, vai dificultar a criação de um ambiente propício ao tráfico de drogas, sobretudo no seio das camadas mais jovens.

A juventude, confinada em casa, em tele-estudo ou tele-trabalho, mais controlada pelos seus pais também consumirá menos produto. Tudo parece estar contra este negócio de milhões, tolerado desde os anos 80 e com enorme expansão nas últimas duas décadas. Um negócio que quase se tornou legal, e que, pelos milhões que envolve, atraiu muitos empresários e empresas multinacionais, que utilizam os paraísos fiscais para lavarem o dinheiro resultante deste “excelente investimento”, que permite que muitos países mostrem uma falsa imagem de desenvolvimento. Cidades modernas, arranha-céus, cadeias de lojas de marca, mansões de luxo, a grande maioria conseguida através de uma máquina global, bastante bem oleada, que leva o dinheiro em pirâmide, das camadas mais baixas, às elites que controlam todo o dinheiro do mundo. Os recentes protestos contra o racismo, têm também na sua origem, este problema. As camadas mais pobres da população que vêem no tráfico de drogas uma forma de negócio que garante a sua sobrevivência num mundo frio e injusto, estão agora a ver ainda mais dificultado o acesso ao dinheiro.

Nos próximos anos é, por isso, de esperar que o mundo do crime se diversifique. Assaltos violentos, a residências, bancos e lojas voltarão à ordem do dia. E nas ruas, muitos países terão de conviver com motins, pilhagens e assaltos, sob falsas bandeiras de causas sociais, que permitirão que os atores deste mundo do crime, consigam “compensar” algumas das suas pesadas perdas. Mas o mundo nunca será o mesmo. E a paz social e urbana que muitas sociedades viveram durante décadas parece ter chegado ao fim neste fatídico ano de 2020. Ao contrário do que muitos ainda esperam, que tudo volte ao “normal”, ao que era antes, o novo normal é o “anormal”. E quem não se adaptar a este novo mundo vai estar a enganar-se a si próprio. A tensão social de mais de sete biliões de pessoas a viverem os últimos dias do equilíbrio civilizacional e ambiental, num planeta que está a dar sérios sinais de esgotamento, vai continuar a crescer. E esta pandemia não veio facilitar. Ainda que tenha vindo alertar o mundo para a necessidade de uma paragem e de uma reflexão séria sobre qual o caminho a seguir para a humanidade. Enquanto espécie caminhamos alegremente para a sexta extinção em massa. E não vão ser as drogas que nos vão fazer ver a luz ou encontrar soluções positivas para um futuro sustentável para todos.

Texto de Pedro M. Duarte

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