Uma Definição Simples e Eficaz do Fascismo, Parte II

Escrevi num artigo anterior, tentando adicionar uma componente adicional à definição ortodoxa que usamos para definir o Fascismo, que

“O melhor símbolo para representar o Fascismo é o Fascio (também ‘Fasces’). Um Fascio consiste de vários paus juntos que depois sustentam uma só cabeça de machado, ou seja, o Fascismo apela à unidade entre vários grupos para poder então atacar um inimigo comum. No principio do século XX, o inimigo favorito dos Facistas eram os Judeus.

Alguns vêm com alguma estranheza a aliança crescente entre Fascistas e certos setores sionistas no principio do século XXI, nomeadamente ao apontarem os dois para o suposto perigo Islâmico. Isto não deveria ser surpresa nenhuma, é somente o Fascismo a ser Fascista. Hoje as comunidades Judaicas tendem a ter, no Ocidente, demasiada riqueza e influência política para serem facilmente atacadas. Os novos Fascistas Ocidentais, como Le Pen, Wilders, Farage, Trump, entre outros, escolheram então um outro inimigo, as comunidades Islâmicas, mais frágeis e contra as quais a imprensa tem vindo a fazer há mais de uma década uma campanha de demonização incessante.

O Fascismo é uma ideologia política que apela à unidade entre os setores mais fortes da sociedade contra os setores mais fracos e desfavorecidos, apresentando-os como uma ameaça à sociedade no seu todo. O Fascismo vive dentro desta contradição- ao atacar sempre os mais fracos adopta uma atitude cobarde para tentar projetar uma imagem de coragem e força.”

Dito de forma simples, o Fascismo é a fusão do poder e esfera Estatal e corporativa, produzindo um sistema onde os ricos e poderosos das duas esferas se tornam numa só classe que depois governa o resto da sociedade de uma forma ultra-autoritária, à base da intimidação, violência e eventualmente de massacres. Depois tem elementos adicionais como ser o culto do poder, o culto da hierarquia, do ponto de vista psicológico/mental é o espírito da cobardia onde os setores poderosos atacam os mais fracos para projectar uma imagem de força.

Alguns comentadores apontam para as classes médias como sendo os apoiantes naturais do Fascismo, aqueles que são mais susceptíveis de apoiar o Fascismo na sua fase inicial. Porém, se há classe que fica mais imunes em termos percentuais do que as outras ao apoio ao Fascismo é precisamente a classe média. A aristocracia, a burguesia, a pequena burguesia, partes do proletariado e até do lumpenproletariado são mais susceptíveis de serem as bases sociais do Fascismo, certamente muito mais do que a classe média.

Outro erro comum que cometemos ao definir o Fascismo é usar a palavra de uma forma descuidada e barata, apelidando tudo o que é excessivamente autoritário de “Fascista”. Ora, podemos dizer que um país governado por um rei autoritário na Eurásia que era governado por um rei brutal, como digamos, Ivan o Terrível, era um país sob o jugo do Fascismo? Claro que não. Ou seja, todo o Fascismo é autoritário, mas nem todos os sistemas autoritários são Fascistas. O que podemos efetivamente fazer é afirmar que antes da fundação oficial do Fascismo, tido como tendo acontecido no princípio do século XX, podemos constatar vários exemplos de modelos de governação parecidos, o qual é, como dissemos anteriormente, a fusão do poder Estatal e Corporativo num só. Talvez o melhor exemplo de um modelo de governação proto-Fascista seja o primeiro Triumvirato.

Caracterizado de uma forma contemporânea, podemos dizer que o primeiro Triunvirato, composto por Gaius Júlio César, Pompei Magnus e Marco Crassus, foi de facto uma espécie de ensaio histórico, fundamental e basilar para a fundação do Fascismo como o conhecemos hoje. Gaius Júlio César era inicialmente advogado, e representa a esfera política e Estatal, Pompei Magnus era um famoso general, representando a esfera Militar, enquanto que Marco Crassus era uma espécie de proto-Burgês e até tinha uma corporação de bombeiros que extorquia os seus clientes e alegadamente punha fogo aos que não queriam pagar pelo “serviço”, e era o homem mais rico de Roma naquela altura, representando então simultaneamente a Burguesia e o Corporativismo.

João Silva Jordão

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2 respostas

  1. Claro que JSJ tem toda a razão na sua caracterização do fascismo, mas creio ser necessário ir bem mais longe.
    Primeiro, o fascismo está longe de ser uma forma de governo + ideologia unificada. Na verdade sempre houve e há diferentes formas de fascismo. Com certeza que há quem defenda que o” verdadeiro” fascismo foi o italiano e o alemão, mas cada vez mais observadores concordam em sair dessa estreiteza e alargar o significado a outras manifestações análogas caracterizadas não apenas por governação bem autoritária e violenta, mas também pelo culto de algo como personalidade, raça, religião, tribo, supremacias, etc. Outro detalhe importante, o fascismo usa geralmente milícias próprias, além das forças armadas e policiais típicas dos estados, faz tábua rasa de todos os direitos liberdades e garantias próprias de sociedades modernas, bem como de toda a legislação e normativos internacionais. Por último, é uma forma de controle da sociedade claramente retrógrada, conservadora e reaccionária em todos os aspectos, com ênfase na importância do grupo dos escolhidos sobre o indivíduo e sobre o resto da sociedade e dos povos. Para terminar, trata-se da forma mais agressiva e violenta assumida pelo capitalismo, sempre que os lucros dos donos da área decidem que é preciso intensificar ainda mais a exploração dos mais fracos, nacionais ou estrangeiros. Assim, as elites no poder apenas colocam em prática todas aquelas “soluções” mais agradáveis às oligarquias industriais e comerciais a quem Brecht muito bem apelidava de “reis do carvão e do aço”. É esse o seu papel e é para isso que elas lá foram colocadas.

  2. Eu discordo. Desta vez, o João Silva Jordão escreveu este artigo, tendo em conta um ataque pessoal. Tem que se analisar as coisas com mais racionalidade. O Fascismo é um Sistema Iliberal, autoritário e nacionalista. Ou seja, são contra a Democracia (tudo o que isso engloba, como por exemplo leis), contra a liberdade de expressão (veja-se os vários regimes fascistas do Século XX) e a favor de uma maior intervenção do estado na vida social e económica. Le Pen, Trump , Farage, Wilders entre outros não são fascistas, pelo simples facto de não serem nacionalistas- não defendem uma maior intervenção estatal-, nem iliberais. Apesar de terem ambições autoritárias, estas surgem mais como uma contrarresposta às ditas Agendas liberais. Consequentemente, o Fascismo , tal como o comunismo é Iliberal. Eu denomino essa “Extrema-direita” de Direita alternativa”, pois surgem mais como uma contrarresposta aos partidos tradicionais e não têm qualquer tipo de Ideologia. Continuam a defender o neoliberalismo, a democracia e as Instituições Supranacionais. Quem os financia são a Oposição do Irão (salvo o erro, partido Irmãos do Povo) e a ACMO (Ação e comunicação sobre o Médio Oriente). Enfim, meu caro João, o Ocidente não é a Europa. Ser do Ocidente é fazer a festa de Democracia como as Elites Globocratas querem. Ser Europeu é defender toda a História e Cultura da Europa.

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