
Um dia um rapaz que me estava a tentar provocar disse que eu tinha uma vida “infeliz”, entre outras coisas meio genéricas. Não fiquei muito chateado. Mas achei interessante.
Falamos muito de como as pessoas projetam uma falsa imagem de felicidade. Mas falamos pouco do problema filosófico desta ideia base– a de que ser feliz é sequer um objetivo racional e saudável.
Ser feliz não deve ser um objetivo em si, a felicidade deve ser um resultado de coisas que fazemos para alcançar outros patamares. Ser concretizado, útil, justo, ter compaixão. Isto sim são objetivos interessantes. E atingir uma espécie de concretização pessoal pode e deve resultar na felicidade. Mas faz-nos outras coisas. Faz-nos sofrer. Faz-nos sonhar. Faz com que nos questionemos. Faz-nos chorar. E rir. E tudo mais. Em suma- faz-nos viver.
Já procurar a felicidade e somente a felicidade, é todo o contrário. É, paradoxalmente, viver menos. É fugir da dificuldade, sobretudo daquela de que mais precisamos. É fugir das escolhas difíceis. É virar as costas aquele amigo que está mal mas que precisa de nós.
E paradoxalmente, acaba sempre por nos tornar infelizes.
O tal sujeito que me “acusou” não é a questão em si. É esta pobreza filosófica que impera e que nos coage a ser menos do que podemos ser, que nos tenta convencer a sermos simples quando nascemos para sermos muito muito mais.
Eu até sou feliz. Mas não quero ser. Eu quero tornar-me em algo mais. E lentamente, estou a conseguir.
João Silva Jordão
4 respostas
Enfio a carapuça até ao pescoço…uma boa e útil lição
Olá!
Não é carapuça nenhuma, queremos todos ser felizes! É só uma provocação filosófica minha 😉
Grande abraço,
João
Bem, de facto, a questão não deve ser tanto querer ou não querer ser feliz, porque em teoria, todos queremos ser felizes, só que, como diz o outro, na prática, a teoria é outra. Ou seja, o ponto está em reflectir sobre o que achamos que é a felicidade. Para o jogador, ela é ir ao casino todas as noites ou apostar na bolsa. Para o viciado, ela é conseguir a próxima dose. Para o precarizado, é arranjar mais uns bicos. Para o refugiado, é chegar à Europa. Para Trump, é esmagar a Venezuela e o Irão. Para o Isaltino, é construir uma marina em Oeiras, perto do repuxo. Para o sem abrigo, é dormir num vão de escada, descansado sem o Marcelo a chatear. E podíamos continuar indefinidamente.
Para mim, a felicidade é ajudar as outras pessoas. São feitios…né????
Concordo e tento praticar todos os dias.