Esta semana fomos surpreendidos com algumas notícias preocupantes sobre as alterações das condições climáticas do nosso planeta. Neve nas zonas baixas da Austrália, fogos na Califórnia que devoram as florestas de coníferas e sequoias-vermelhas mais antigas dos EUA e o desaparecimento acelerado de gelo na Gronelândia. Também na Califórnia, no Vale da Morte, se registou a temperatura mais elevada no planeta, nos últimos 100 anos: 54,4ºC. E uma estranha anomalia magnética na superfície da Terra, designada como “Anomalia do Atlântico Sul” está a deixar os cientistas da NASA preocupados. Apesar das constantes chamadas de atenção de muitos cientistas de renome na área do Ambiente, políticos e grupos de direita continuam a negar as evidências, lançando mesmo gigantescas campanhas de desinformação nas redes sociais e nos media, tentando com isso lutar até ao fim para defender os seus lobbies do petróleo ou de indústrias poluidoras e produtoras. Mas este ano de 2020 iniciou-se com fortes mensagens de apelo por parte dos principais grupos internacionais ligados ao Ambiente e de influencers como Greta Thunberg ou personalidades como David Attenborough. Também a World Wild Life, grande lutadora internacional pelos direitos dos animais selvagens e pela preservação e conservação dos habitats e da Natureza em geral tem lançado mega-campanhas de sensibilização sobre a necessidade de evitar a extinção de milhares de espécies selvagens.
Nos últimos dois anos temos assistido a incêndios preocupantes por todo o mundo, em florestas virgens como a Sibéria ou Alaska ou até húmidas como a Amazónia. Segundo cientistas do Ambiente norte-americanos estes incêndios já refletem o Climate Change tão falado nos últimos anos. Os fogos estão mais agressivos, rápidos, em maior quantidade e atingem temperaturas mais elevadas, sendo cada vez mais difíceis de combater. Alguns chegam mesmo a matar animais de pé que são carbonizados instantaneamente. E muitos deles têm surgido fora das épocas consideradas como de maior risco. E é triste e infrutífero que andem uns a tentar plantar uns milhões de árvores por ano, para florestas inteiras serem devoradas em apenas dias. A este ritmo, o holocausto humano vai ter início muito mais cedo do que se esperava. O problema das alterações climáticas refletir-se-á muito em breve na falta de água, alimentos e outros bens essenciais em certas zonas até mesmo do mundo ocidental. E só nessa altura é que as sociedades tradicionais vão começar a acordar verdadeiramente para o problema que poderia ter sido gerido com antecedência e racionalidade. Mas quando já for tarde demais, a sociedade ocidental vai entrar em pânico, e todos os cenários de desespero são de esperar. O ano de 2020 pode ter sido uma muito pequena amostra de como as sociedades são frágeis e interdependentes de tudo, numa economia global. Quando a economia é interrompida, tudo desaba em poucos meses.
Nos últimos 30 anos a Terra perdeu 28 triliões de toneladas de gelo. Este número astronómico tem pouca expressão no gelo ainda existente no Polo Norte e Polo Sul, mas esta “pequena” alteração deu início a um processo de mudanças irreversíveis no clima, que vão provocar alterações substanciais já nesta década nas mais variadas sociedades. Cada centímetro de elevação do nível do mar, provoca um milhão de deslocados. Com o desaparecimento do gelo, a superfície por debaixo deste passa a absorver mais calor, contribuindo mais ainda para o aquecimento global do planeta. E o metano que se liberta de cada tonelada de gelo é tóxico para os humanos e aumenta a acidez das chuvas e o grau de combustão do ar nas estações quentes. Um cientista de Ambiente de topo da Universidade de Columbia, Radley Horton publicou um vídeo há cerca de duas semanas através do Canal The Years Project onde apela à sensibilização para as consequências diretas no planeta, do desaparecimento de uma parte significativa do gelo das calotes polares, sobretudo no Ártico.

Radley chama a atenção para os importantes Jet Streams, que são correntes de ar rápidas a alta altitude que se deslocam por todo o nosso planeta. No hemisfério Norte, estas correntes de ar são geradas justamente pelo frio polar em contraste com o calor equatorial a sul e ajudam a manter o equilíbrio frio a Norte e calor a Sul o que gera os nossos padrões climáticos que, em geral se movem de Oeste para Este. O aquecimento do Ártico está a reduzir a velocidade destes ventos e a torná-los mais ondulantes e menos espiralados o que provoca a deslocação de ar quente do sul cada vez mais próximo do Polo Norte. Esta alteração gera maiores e mais extensas ondas de calor no verão e invernos mais longos com fortes nevões e quedas de granizo, com consequências diretas para a agricultura. O ar quente que sobe para o Polo Norte acelera ainda mais o desaparecimento do gelo gerando Jet Streams cada vez mais lentos. Os cenários possíveis resultantes destas alterações dos ventos são ainda imprevisíveis, mas Radley tem a certeza de que a humanidade nunca antes tinha chegado a este ponto, pelo menos enquanto civilização global interdependente que somos.
Alguns cientistas do Ambiente apontam o ano de 2050 como o grande colapso da humanidade, mas a realidade parece estar a superar e bem, todas as previsões científicas, até porque a química da atmosfera, que altera tudo na vivência dos humanos, animais e florestas, é também a grande responsável pela agricultura, que é a base da civilização humana. Solos e oxigénio esgotados, oceanos e rios contaminados não deixarão espaço para a atual civilização humana de quase oito biliões de almas. Talvez não deixarão condições sequer para qualquer vida humana. A atual atmosfera já está a produzir cada vez mais e mais, fortes furacões, que se unem formando forças destrutivas que todos os anos, já estão a obrigar milhões de pessoas a deslocarem-se para fora das zonas afetadas. Neste processo muitos milhares perdem as suas casas, as suas memórias, as suas vidas económicas. Um rasto de devastação, que cada vez se alarga a mais e mais áreas. E enquanto muitos cientistas e grupos ligados ao Ambiente lutam todos os dias para sensibilizar o mundo e salvar habitats, muitos políticos como Bolsonaro ou Trump são indiferentes à ciência, espalhando mentiras e fake news nas redes sociais para tentarem salvaguardar os seus lobbies destrutivos o mais que podem. Recentemente o grupo The Oxygen Project revelou o triste exemplo da floresta húmida de Nijgadh no Nepal onde serão brevemente cortadas 2,4 milhões de árvores para construção de um aeroporto, apenas um triste exemplo de entre muitos. Os políticos estão a transformar o nosso planeta num gigantesco cemitério para a humanidade. Enquanto ainda temos alguns anos de vida enquanto civilização, convido a admirarem as fabulosas fotografias da Gronelândia, antes de desaparecer todo o seu manto branco gelado…

Texto de Pedro M. Duarte
2 respostas
Infelizmente, será mesmo….