O vigésimo Presidente desde a Implantação da República e o sétimo desde o 25 de Abril, Marcelo foi eleito em 2016 com 52% dos votos, à primeira volta, destacando-se bastante dos restantes candidatos. O seu sorriso, o seu curriculum, a sua oratória, a sua influência e os seus comentários na TVI entre 2010 e 2015, valeram-lhe a eleição tranquila. Desde o primeiro momento Marcelo marcou uma presidência mais aberta, mais moderna e mais descontraída. Utilizou um discurso inaugural sobre a necessidade de dar afetos aos portugueses que sofreram com a crise recessiva de 2008 e com isso, cativou ainda mais eleitorado. Depois seguiram-se as selfies, os beijinhos e abraços, agora interditados pela pandemia.
Na última sondagem da Intercampus para o Correio da Manhã e Jornal de Negócios, Marcelo poderá aproximar-se de um resultado histórico de 70,8%, superior ao resultado de Mário Soares em 1991 (70,35%). Mas esta sondagem, segundo muitos especialistas, não parece refletir o espírito atual do país. A verdade é que a abstenção será muito elevada, ainda para mais porque as eleições se vão realizar em plena pandemia, no inverno (janeiro de 2021), e por isso muitos idosos, uma “fatia” importante do apoio popular de Marcelo, poderão nem sequer se deslocar às urnas, com medo da contaminação. Além disso a rentrée política vai ser quente e a crise da Festa do Avante e a da aprovação do Orçamento de Estado já se instalaram.
Marcelo, que já admitiu em 2019 sofrer do coração, aparece frequentemente com os olhos vermelhos e o seu desgaste é nítido. A eloquência e dinâmica do início foram-se esvaindo, e, apesar dos seus discursos retóricos bem montados de professor universitário e político com história, Marcelo já não encanta como no início. Os problemas dos portugueses agravaram-se. Há quem tenha retirado o apoio a António Costa. Mas Marcelo continua a apostar no seu Estado de Graça com o Governo, o que lhe pode custar muitos votos, perdidos para André Ventura, por exemplo, cujo marketing e propaganda têm sido muito mais acesos e dinâmicos.

O recente episódio do Marcelo-nadador-salvador poderá ser uma tentativa de recuperar os afetos e as selfies “perdidos” com o distanciamento pandémico. Marcelo tenta assim recuperar a sua popularidade com a sua presença em eventos estratégicos que o colocam mais próximo das populações, embora mantendo o “distanciamento” a que está obrigado. Seria pouco provável que Marcelo perdesse estas eleições, mas no caso de haver uma segunda volta, as certezas poderiam complicar-se. E isto só sucederia se houvesse uma candidata feminina com muita força, uma grande personalidade pública, ou que André Ventura conseguisse gerar uma segunda volta, possibilidade que parece afastada. Mas perante uma possível crise política e económica todos os cenários não são de descartar. O glamour, esse, no entanto parece ter-se diluído na água salgada, tantos são os banhos que Marcelo toma ao longo do ano.
Texto de Pedro M. Duarte