A tendência crescente dos discursos de vitória por parte de quase todos os candidatos a eleições é cada vez mais frequente e está mesmo a generalizar-se em todos os partidos. É uma estratégia puramente “comercial”, de management político. Ver os aspetos positivos da derrota e salientar individualmente o quão ganharam os militantes e cidadãos e o próprio partido com o simples fato de este ter participado na corrida eleitoral. E assim todos fizeram os seus discursos de vitória, uns mais efusivos que outros. Talvez o mais “falso” tenha sido o de António Carlos Monteiro, o primeiro discurso da noite, no qual este falava efusivamente da grande vitória do CDS/PP, o qual mais não fez do que apostar no cavalo vencedor, que desde sempre se soube que seria reeleito com uma larga discrepância relativamente aos restantes candidatos. Discrepância garantida com a necessária antecedência pela jogada pouco ética do Primeiro-ministro António Costa, que deu a Marcelo o apoio do Governo, na célebre visita à fábrica da Volkswagen, em Palmela, a 13 de maio de 2020. Mas até Marisa Matias, que foi a grande perdedora da noite (também porque perdeu 256.000€ com a campanha, não reembolsáveis pelo Estado por ter ficado abaixo de 5%), disse que a sua candidatura somada às outras de esquerda, contribuiu para uma perda de votantes da direita. E responsabilizou maioritariamente o PS pela perda da Esquerda, o que é verdade. Costa é o principal culpado.
Quanto ao rombo financeiro dos que não puderam receber a subvenção eleitoral, não foi apenas o Bloco de Esquerda que perdeu largos milhares de euros. Também João Ferreira não será reembolsado nos seus 450.000€ de gastos para a campanha por parte do PCP. Também ele fez a apologia do contributo positivo da sua candidatura na defesa da Liberdade, da Constituição e da Democracia. Enquanto isso, os partidos da Direita esfregavam as mãos de contentes e apregoaram a grande derrota da Esquerda. E o Partido Socialista referiu-se a Marcelo como o candidato do Centro, para poder também declarar vitória, já que Ana Gomes do PS obteve apenas 13% dos votos, contra os 15% previstos na sondagem da Universidade Católica (realizado entre 11 e 14 de janeiro de 2021). Rui Rio até destacou a vitória do Chega no Alentejo, com resultados muito acima do PCP e do BE. Ventura mais cauteloso, não usou expressões de vitória ou demissão, porque obviamente ele é o CHEGA e o partido não pode prescindir do seu líder neo-salazarista, agora que pretende crescer até às próximas legislativas. Mas afirmou que não haverá governo em 2023 sem o seu partido e que pretende chegar aos 15%, valor que parece ser exequível, caso continue na mesma curva de crescimento que tem conseguido, desde a sua fundação, a 9 de abril de 2019, e que lhe pode garantir aproximadamente 30 deputados na Assembleia da República.

Devido à pandemia, quer a campanha, quer o dia do sufrágio, foram bastante atípicos. Até a questão do voto antecipado, sobretudo para os mais idosos foi algo novo nesta sociedade pós-Covid. A Abstenção foi a maior de sempre o que não é de espantar, primeiro por ser uma tendência crescente desde o 25 de Abril, por outro devido à pandemia. E também porque desde cedo, o Primeiro-ministro, o Governo e o PS assumiram publicamente o apoio incondicional à candidatura “estável” de Marcelo Rebelo de Sousa, que viabilizou quase sem oposição, todas as decisões políticas de António Costa. Criticado até pelo PSD, o Presidente da República, mais parece ter “virado” para a maioria do Centro. E em troca o Centrão concedeu-lhe o seu segundo mandato, aliás uma tradição presidencial desde 1976. Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva e agora Marcelo Rebelo de Sousa, todos tiveram direito a segundo mandato. Uma estabilidade governativa conseguida não através da confiança dos cidadãos, mas através de uma rebuscada engenharia eleitoral, que já quase é uma ciência matemática, para “vender” além-fronteiras a ideia de “estabilidade governativa”.
A Abstenção crescente é devida diretamente ao enorme descontentamento da população face à corrupção de Estado e partidária, que envolve já, neste momento, transversalmente todos as áreas do setor empresarial e dos vários Poderes do Estado. Na sombra, as Sociedades Secretas, da qual a Maçonaria tem mais peso, vão corrompendo as peças do jogo político, de forma a conseguirem manipular todo o tabuleiro de xadrez, ou seja, as duas forças representadas pelas peças brancas e negras, a Direita e a Esquerda Política. Nesta perspetiva, qualquer político com experiência empresarial sabe “trabalhar” os números de forma a conseguir os resultados desejados, seja os de vencedor, seja os de perdedor. Porque no jogo da Corrupção de Estado, todos os intervenientes ganham o seu quinhão. E as Sociedades Secretas encarregam-se de garantir a infalibilidade do plano, nos jogos de bastidores, das mais pequenas (nacionais) até às macro (as globais), como a NOM. Os países onde estas máfias se instalam mais rapidamente correspondem sempre a níveis maiores de Abstenção, a qual vai, no caso de Portugal, crescendo cada vez mais. Marcelo Rebelo de Sousa teve a maior Abstenção em Eleições Presidenciais desde 1976: 60,50%.

Nesta perspetiva da Abstenção, Marcelo não só foi o Presidente da República mais ignorado de sempre. Obteve também o segundo pior resultado comparativamente ao número total de inscritos, que foi este ano superior a 2016 em quase um milhão de eleitores. Em percentagem eleitoral (excluídos a abstenção, nulos e brancos), Marcelo apresenta no entanto, um resultado largamente superior aos 52 % de 2016. Mas os seus 60,70% representam na realidade apenas mais 124.414 eleitores e, caso tivesse havido a mesma abstenção de 2016, o seu resultado seria de 57,31% (por regra de 3 simples, mantendo a mesma taxa de abstenção). Se considerarmos ainda que houve um aumento de quase um milhão de eleitores em 2021, e fizéssemos uma comparação entre votantes no candidato e total de inscritos, entre 2016 e 2021, então Marcelo deveria ter 2.658.213 votantes e não 2.533.799 que obteve. Mas claro, a maior Abstenção deu-lhe uma maior vantagem na percentagem relativa de resultados, pela exclusão dos votos não considerados válidos e dos que não votaram.

Assim, quando analisamos as percentagens dos vários Presidentes da República desde 1976 verificamos, em primeiro lugar que todos cumpriram dois mandatos. Mesmo em 1986 foi garantido o primeiro mandato a Mário Soares através de uma segunda volta em que Diogo Freitas do Amaral perdeu, apesar de ter ganho a primeira volta (sem maioria absoluta). Fica a parecer até que as segundas voltas apenas servem para garantir a “falsa estabilidade” matemática eleitoral dos dois mandatos. O que permite aos Presidentes acumularem uma pensão vitalícia de valores bem elevados. Os números dos resultados são, por isso, enganadores. Quando comparamos o resultado de Marcelo em 2021 de 60,70% com a percentagem de votantes presentes a votar em 2021, ou seja o oposto da abstenção, comprovamos que apenas votaram 39,50% de eleitores, a pior representação de eleitores desde 1976, segundo os dados da CNE. E apenas 23,60% dos inscritos votaram no vencedor, ou seja, menos de um quarto dos eleitores escolheu o Presidente. Porque quanto maior a abstenção, mais se destacam os valores do candidato vencedor. É matemática de folha de cálculo, engenharia eleitoral pura.



Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa podem cantar vitória. Conseguem enganar a maioria das pessoas que não leem os números como o faz um gestor. Mas a realidade é esta. Marcelo foi eleito com um resultado comparativamente inferior relativamente a 2016 e o segundo pior resultado de sempre em Eleições Presidenciais desde 1976, relativamente ao número de eleitores em ano de eleição. Mas os números são manipulados para impressionarem a UE e para mostrarem uma “falsa estabilidade” política, que reforça a posição de António Costa no Parlamento Europeu, ainda que “construída” através de jogos de bastidores. Para isso Costa nem se importou de sacrificar toda a esquerda, porque o seu segundo mandato legislativo ainda está no princípio, e se o perder em 2023, já garantiu os seus objetivos pessoais e partidários. Foi também uma forma de se vingar do BE e do PCP, face aos seus recentes ataques às políticas do Governo PS.
Neste jogo dos números foi tão evidente o desespero em garantir o segundo mandato a Marcelo logo na primeira volta que, além do apoio de Costa à sua candidatura, sondagens e notícias construídas ao longo da campanha, davam sempre Marcelo como o único grande vencedor. Por isso, as televisões até se prestaram a realizar inúmeros debates com todos os candidatos. Porque a estratégia era “dividir para reinar”. Não é pois de estranhar que a RTP até tenha classificado Marcelo e Ana Gomes como candidatos híbridos, um novo termo nesta matemática eleitoral, engenhosamente preparada para atingir objetivos previamente decididos nas Sociedades Secretas. Segundo a sondagen da Católica (realizadas entre 11 e 14 de janeiro de 2021), o ecletismo da candidatura de Marcelo permitir-lhe-ia contar com 29% de eleitores do BE, 44% do PAN, 71% do CDS-PP e 71% do PSD. Este voto híbrido teria igual manifestação em Ana Gomes, com a candidata independente a ir buscar votos ao eleitorado do BE (24%), CDU (16%), PAN (28%) e PS (18%).
Além de tudo isto, Marcelo Rebelo de Sousa, conseguiu um feito inédito: uma taxa eleitoral de 60,70% praticamente semelhante à taxa de Abstenção, de 60,50%. Talvez esta engenharia eleitoral esteja a atingir a sua perfeição máxima, ao ponto de qualquer dia nem ser necessária a presença dos eleitores para votar, porque é para lá que caminhamos…
Nota Adicional: Continua a ser inadmissível que haja cidadãos que não possam exercer o seu direito de voto devido às evidentes falsificações de votos nas urnas…
Texto e Análise de Pedro M. Duarte