Na política como na vida académica, a suposta seriedade metodológica, o escrutínio, a apuração dos factos, na maior parte dos casos não passa de uma fraude, uma manha que vamos usar seletivamente. É o contrário do que é suposto ser. É um instrumento que vamos usar de maneira tão arbitrária e seletiva que acabamos por só querer validar o que já sabíamos. É um truque para não aprendermos nada sobre o nosso argumento, e simultaneamente tentar mostrar que o lado oposto não tem provas suficientes, para podermos continuar a pregar o nosso evangelho.
Algumas situações recentes. “Ataques químicos” na Síria. “Campos de concentração para gays” na Chechénia. “Nocividade”, ou não, “obrigatoriedade”, ou não, das vacinas. Cada lado discute sem fim, alega tentar avaliar a situação de uma maneira supostamente objetiva. Mas o que acaba quase sempre por se sobrepor à procura da verdade é o ego, e claro, vamos sempre escrutinar ao máximo, exigir provas ao máximo; mas ao lado oposto. Depois muito raramente escrutinamos verdadeiramente o nosso lado da barricada. Na política então, é mais do que óbvio; é penoso.
O Oscar Wilde disse supostamente que a “consistência é o ultimo refúgio dos que não têm imaginação”. Talvez deveria ter dito que a ‘consistência é o refúgio dos casmurros que não sabem aprender e dos arrogantes que não sabem admitir que estavam errados’.
Talvez uma das soluções seja negar o verdadeiro valor da consistência. Podemos tentar ser consistentes a cada dia, mas nunca de um dia para o outro. Porque saber mudar de opinião é, essa sim, uma virtude. Lembro-me de um insulto brilhante que o Stephen Colbert fez ao George Bush. Disse o Colbert: “A melhor coisa sobre este homem é que ele é firme. Tu sabes onde ele se posiciona. Ele acredita na quarta-feira o que ele acreditou na segunda-feira, inconsequentemente do que possa ter acontecido na terça-feira”.
Penso que neste sentido, todos temos um pouco de George Bush dentro de nós.
João Silva Jordão