Que nada atrase a construção do Memorial de homenagem às pessoas escravizadas no Largo José Saramago (Campo das Cebolas).Relacionar-se o ritmo desta construção com outras como por exemplo as obras na Ribeira das Naus e na Praça do Comércio seria interpretado como desonestidade intelectual e discriminação política por parte da CML. Relacionar-se um hipotético atraso com a pandemia, com a desvalorização de outra estatuária em espaço público ou relacionar-se com a construção de um museu em tudo em oposição cognitiva, cultural e política a este memorial seria recebido como política de incendiar pesadelos. Fernando Medina tem uma escolha política e programática a fazer e será responsabilizado por ela. Fez saber no dia 13 de Junho que a inauguração é “ainda durante este mandato” (que termina em outubro de 2021) enquanto o site do Memorial permanece sem edição: o atraso de séculos começa a ser reparado agora.




PLANTAÇÃO – PROSPERIDADE E PESADELO
“Plantação – Prosperidade e Pesadelo” pretende tratar da memória da escravidão enquanto presença de uma ausência, pois não acreditamos ser possível representar de forma direta e realista tamanho trauma transnacional. Voltamo-nos, então, para a matéria-prima, a cana-de-açúcar, o ouro branco que esteve nas origens do tráfico compulsório de escravos.
O projeto é uma representação de uma plantação de canas-de-açúcar, composta por 540 pés de cana-de-açúcar em alumínio preto, cada um com 3 metros de altura e 8 centímetros de diâmetro. Entre os pés de cana há intervalos regulares, convite à caminhada e à reflexão. Apresenta-se uma experiência entre o sagrado, o contemplativo, e o banal quotidiano. Como se as canas-de-açúcar se tornassem a imagem da própria repetição urbana. Até que surge um pequeno anfiteatro no meio da plantação, como um ponto de encontro. Talvez um quilombo de escravos fugidos. Talvez apenas um vazio, um intervalo de intervalos, onde possa surgir algo de novo.
Espera-se que este seja um ponto de sociabilidade para as mais variadas manifestações culturais, da música aos pequenos espetáculos de rua, dos diálogos académicos às leituras teatrais. Narra-se o vínculo histórico entre monocultura e escravidão, num monumento que trata da relação entre o excesso de riqueza e a exploração desumana da vida.
O projeto almeja construir um lugar de memória, aberto à reflexão. Procura-se que no centro da angústia estejam abertas as vias do encontro, apontando para novas criações e novas possibilidades de convivência.
Venceu o projecto de Kiluanji Kia Henda, mas não deixem de conhecer um projecto incrível que teve menos votos, o de Grada Kilomba, que estaria ali igualmente tão bem como em Belém.
Uma resposta
E AS PESSOAS ESCRAVIZADAS E MORTAS POR NAZIS E COMUNISTAS NO SÉCULO XX SERÃO INCLUÍDAS NESTE MEMORIAL? OU VÃO SER ESQUECIDAS PELA ESQUERDA BAIXA? SÃO MAIS DE 40 MILHÕES…