Scimed – A Página de “Humor e Sarcasmo” que Promove o Obscurantismo, o Cientismo e a Tecnocracia

A pandemia COVID-19 provocou indiretamente, para além de todas as mortes e extremo sofrimento que causou diretamente, a popularização de ideias aparentemente racionais, mas que são os meros veículos para ideias elitistas e particularmente perigosas. Nomeadamente, o termo “acreditem na ciência” tornou-se num slogan barato e desprovido de qualquer valor científico ou metodológico real, o qual hoje em dia significa pouco mais do que “não questionem pessoas que se apresentam como cientistas”. Ou seja, é um slogan que pretende ter valor científico, mas que em vez disso é um mero convite ao servilismo político e à abdicação da nossa capacidade de escrutínio e pensamento crítico.

Ou seja, promover a fé cega na autoridade científica é de facto a coisa menos científica à face da terra. Para além disso, um sistema político em que as classes ditas “científicas” se tornam elas mesmas numa componente essencial do sistema de governação tem o potencial de ser particularmente pernicioso e até imoral. Lembremos, por exemplo, o papel preponderante que a classe médica teve no princípio do Holocausto, através da introdução primeiro do programa de “morte misericordiosa” T4, que depois se transformou no programa de higiene racial Nazi, o qual depois se tornou no programa de matança à escala industrial a que chamamos o Holocausto.

E uma das vozes que mais fanaticamente promove o cientismo e a tecnocracia é uma página que agora se autodenomina como sendo uma página de humor e sarcasmo, a página “Scimed”.

Infelizmente a grande parte dos seguidores da página “Scimed” ainda não se questionou a que ponto é que a principal figura por detrás da página, o médico do trabalho João Cerqueira, escolheu ser um porta voz dos interesses políticos em detrimento da seriedade metodológica e integridade científica. Talvez em virtude de ser filho de uma pessoa importante do PS, facto que ele, por alguma razão, está constantemente a lembrar às pessoas durante os debates que vai tendo, esta pessoa seja particularmente fácil de cooptar politicamente. De qualquer maneira, o eixo consistente do seu trabalho é a promoção da fé na autoridade política, recebendo em troca desse trabalho de caracter político e não científico mediatismo, oportunidades de carreira, etc. Talvez seja por essa razão que a grande tese que a sua página apresenta, sem o dizer diretamente, claro, porque tal proposição é simplesmente ridícula, que a autoridade política é informada e legitimada pela ciência e que, portanto, não deve ser questionada. Faz sentido então, a página não ter qualquer verdadeira intenção de promover a literacia científica, em vez disso preferindo promover o seu contrário- a fé cega na autoridade dita “científica”.

Uma parte considerável da comunidade de “céticos”, à qual dizem fazer parte páginas como a “Scimed”, tinham, dada altura, imenso potencial, mas infelizmente tornaram-se, e isto foi particularmente visível durante a pandemia, num grupo de hienas arrogantes e cacarejantes que só sabem rir e gozar com os poucos que conseguiram manter o seu espírito de pensamento crítico, tentando a todo o custo silenciar qualquer voz não-alinhada com o consenso mediático. Ainda para mais, se são assim tão céticos e científicos, por que será que por sua vez estes grupos quase nunca criticam as medidas que os “seus” Estados estão a impor? Será mesmo credível que vozes supostamente regidas pela ciência e o pensamento crítico não consigam encontrar nem pequenos detalhes em que as medidas do Estado poderiam ser melhoradas? Claro que não é credível. Porque aí está- o seu “trabalho” tem muito pouco a ver com a promoção das virtudes da ciência, e tudo a ver com a promoção da fé cega na autoridade dita “científica”, ou seja, promovem o cientismo, o oposto directo da verdadeira ciência que por definição, tem que ser transparente e estar sempre pronta para o debate.

Nesse sentido até saudo a iniciativa da página “Scimed” hoje em dia admitir, pelo menos em parte, que é uma página humorística. Porque quem não tem verdadeiro gabarito científico costuma, de facto, ao ser questionada, reverter para o humor, o cinismo e o sarcasmo.

Publicações como a que podemos ver de seguida só podem, afinal de contas, ser humorísticas, publicação na qual a “Scimed” propõe que qualquer pessoa que fale de “reforço do sistema imunitário” é necessariamente um charlatão. “Fujam de quem usar esses termos”, concluí a publicação. Então vamos ver- acreditar que reforçar o sistema imunitário é, então, sinal de que se é charlatão? Não. Os verdadeiros charlatões aqui são claramente os gestores da página “Scimed”.

E é normal que adoptem este angulo, realmente. Porque o que esta nova onda de cientismo, fortalecida pela pandemia, está efectivamente a propor é que a maioria da população deve calar e consentir relativamente a toda a informação e medidas que lhe são impostas, mesmo quando estas afectam directamente as suas vidas, desde que estas medidas aleguem ser “científicas”. Ora, quem pode alegar fazer parte desta casta supostamente inquestionável de autoridade absoluta, ou seja, cientistas e médicos, está efetivamente a ser convidado a adoptar esta atitude de arrogância a prepotência sob a alçada da ideia de que um certo grau de qualificações académicas os protege de qualquer potencial para fazerem erros, ou serem subornados por exemplo. E é essa arrogância que faz com que o médico de trabalho, o Dr. “Scimed”, possa pavonear-se por aí como se fosse um virologista, como se tivesse algum tipo de qualificação sobre a matéria. Mas não tem. É um mero médico do trabalho. Mas aí está, para as hienas do cientismo, que só sabem rir e gozar com quem pensa e questiona, isso não interessa! O título de “Senhor Doutor” é suficiente para o proteger magicamente de todo e qualquer eventual erro, tornando-se então numa autoridade inquestionável.

É, infelizmente, mas certamente, o sonho de muitos médicos e cientistas- o de poder agir perante a sociedade como se pertencesse a uma casta claramente superior e que portanto merece não somente poder, mas exoneração de qualquer potencial questionamento ou incómodo. É normal, mesmo que altamente anti-científico, para não dizer imoral, que muitos médicos e cientistas tenham aceite o pernicioso convite desta nova vaga de cientismo, o de se tornarem numa espécie de classe inquestionável- porque têm tudo a ganhar e nada a perder, a não ser a sua integridade científica. Mas aí está, a grande maioria, sendo seres humanos imperfeitos, estão prontos a abdicar da integridade científica se isso lhes conceder dinheiro, oportunidades de carreira e protagonismo. É estranho vivermos numa época onde somos obrigados a lembrar que um ser humano, lá por ser cientista ou médico, não deixa de ser… Humano. E talvez mais surpreendente ainda é ver pessoas excluídas dos benefícios que culto do cientismo proporciona a participar nele, ou seja, os não cientistas, a quem é proposto nada mais do que o de se tornarem sujeitos profanos sem direito nem a pensar nem a questionar as ordens vindas das classes ditas “científicas”- isso sim é estranho.

Devemos então aceitar que uma pessoa, lá por ser “cientista”, se torna inevitavelmente, em virtude das suas qualificações profissionais e académicas, numa voz inquestionável e incorruptível? Claro que não. É penosamente óbvio que o mundo da ciência está, infelizmente, captado por interesses políticos e financeiros. Ainda recentemente saiu uma notícia de pelo menos 370 artigos ditos “científicos” que afinal foram retraídos por serem fraudulentos, muitas vezes por afinal terem sido encomendados por empresas. E é óbvio que este tipo de retrações só são possíveis se o próprio método científico for regido pelo seguinte princípio- nenhuma ideia, proposição, ou tese se torna inquestionável só por ter ser publicada numa revista dita “científica”.

E agora uma última nota, para verem o quão credível, ou neste caso, quão absolutamente oportunista e mentirosa esta página é: no princípio da pandemia, a “Scimed” fez uma publicação, há cerca de um ano atrás, usando os números de infectados e mortes, para tentar argumentar que, se analisarmos os números por detrás da pandemia, que não era assim tão grave, e que tudo se tratava de histeria pela parte dos média. Ou seja, fizeram uma publicação que hoje em dia seria claramente apelidadas de “negacionista”.

De qualquer forma, só mostra uma coisa- a página “Scimed” é gerida por pessoas que acima de tudo gostam de se sentir superiores aos outros. No princípio da pandemia gozavam com quem estava a levar a pandemia a sério. Agora gozam com quem não a leva a sério. Mas não interessa. Porque a intenção da página Scimed nunca foi, não é, nem nunca vai ser ter um debate sério sobre ciência e o seu papel na nossa sociedade. O objectivo é mesmo só gozar com as pessoas normais, a plebe que não tem literacia científica e que portanto se deve ajoelhar perante os Senhores Doutores e Senhores Médicos.

Ou seja, o objectivo é mesmo só gozar contigo… Mas “de uma forma humorística e sarcástica”, claro.

 

Nota Editorial (6 de Julho de 2021): Foram feitas algumas correções gramáticas assim como uma ou outra mudança relativamente superficial ao texto inicial.

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