
Mais uma vez está a ser proposto que os políticos sejam obrigados a declarar as associações a que pertencem, sobretudo quando se trata de sociedades secretas. E mais uma vez esta proposta vai provavelmente ser chumbada. Porquê? Porque obviamente não interessa ao poder instituído ser mais fiscalizado. O poder, sobretudo o poder Estatal, vai sempre resistir a tentativas de aumentar a transparência relativamente às suas ações e intenções.
Por sua vez, os membros das sociedades secretas, como seria de esperar, tendem a usar argumentos falaciosos e intelectualmente desonestos para tentar impedir a todo o custo que as suas atividades secretas sejam expostas, e neste contexto, para que as listas dos que pertencem a sociedades secretas não sejam públicas.
Vamos por um momento ignorar a apologética maçónica do costume assim como as desculpas esfarrapadas das demais associações mafiosas por este país e mundo fora no que toca à sua aversão à transparência e honestidade de forma a abordar o tema de uma forma mais séria e metódica.
O Estado tem o direito de me vigiar. De me policiar. De me exigir que lhe declare todos os meus rendimentos e as suas fontes. Eu estou sob a jurisdição dos seus tribunais. A minha vida constantemente afectada pelas suas decisões.
E eu também sei que o Estado não é isento, por muito que nos tente convencer que é.
O Estado está sempre sob a influência de grupos económicos. De laços familiares. De sociedades secretas e grupos mafiosos.
E obviamente precisamos de ter informação a quem pertence a estes grupos para poder investigar certas decisões políticas e jurídicas. Quando uma obra cara é adjudicada a uma certa empresa, podemos descobrir facilmente se quem fez a decisão é familiar de quem ganhou o concurso. Essa informação é importantíssima para podermos investigar possíveis transgressões e casos de corrupção. Da mesma forma que temos o direito de saber quais são os laços familiares de políticos e juízes, também devemos ter o direito a saber a que “irmandades” e “sororidades”.
Temos então que consider a importância do facto de existirem por este mundo fora inúmeras sociedades secretas que exigem fidelidade aos seus membros, da mesma forma que exigem que os seus membros se ajudem entre si. E ao mesmo tempo, muitas destas sociedades secretas também guardam a todo o custo um secretismo altamente suspeito relativamente a quem são os seus membros. Sabemos também que a presença de membros destas sociedades são muito mais comuns nas altas esferas do poder Estatal. E muito mais provável um Juiz ser maçom do que um cidadão comum ser maçom. É aliás, toda a filosofia basilar da maçonaria, a título de exemplo, é baseada nesta arrogância e ambição, a de ser supostamente uma plataforma para o encontro e coordenação das elites políticas, económicas e intelectuais. Outras sociedades secretas, como as Ordens Católicas dos Cavaleiros de Malta ou da Companhia de Jesus (Jesuítas).
Não faz sentido, então, que se uma pessoa queira exercer um cargo de Estado, seja obrigada a fornecer toda a informação relativa às associações a que pertence, para que se possa investigar se as decisões feitas por essa mesma pessoa são de qualquer forma afectadas por essas mesmas associações? Claro que faz sentido. Não só faz sentido, como é uma medida que tarda em ser aprovada. E não só para membros da Assembleia da República. Deveria assim ser para todas as funções Estatais.
Existem vários argumentos de quem é contra esta medida. Um deles vem na forma de uma pergunta retórica como a seguinte: “Ah, mas e já agora se for sócio do Benfica, tem que declarar isso também?” A resposta a isso é óbvia- claro que teria. Porque ser sócio do Benfica pode comprometer, por exemplo, a capacidade de um juiz de agir de forma isenta perante um eventual julgamento em que o clube seja réu. Houve até um caso relativamente recente disso mesmo- descobriu-se que um juiz que ia julgar o caso do Rui Pinto, cujas ações prejudicaram o Benfica, era adepto do Benfica. Depois de se gerar uma controvérsia nas redes sociais, o juiz pediu ele próprio para não trabalhar mais naquele julgamento específico. E fez bem. Mas este conflito de interesses só pode ser identificado porque a informação de como ele era adepto do Benfica era pública. É normal que seja fácil de descobrir que o juiz é adepto do Benfica- é raro as pessoas esconderem afiliações desportivas. Porém no que toca a sociedades secretas, é precisamente o contrário- muitas vezes o poder destes grupos advém em parte precisamente do seu secretismo, nomeadamente, secretismo relativamente a quem pertence, ou não, a tais associações.
É expectável, portanto, que os membros das sociedades secretas não se queiram identificar como tal. E é igualmente expectável que qualquer cidadão consciente exija que o façam. Sobretudo num país como Portugal, onde o nepotismo, a corrupção e o amiguismo são a norma e não a exceção no que toca ao funcionamento do Estado, o qual é suposto, mas quase nunca consegue ser, isento e imparcial. Quando são confrontados com esta possibilidade, os membros das sociedades secretas deitam lágrimas de crocodilo sobre aquilo ao que chamam um atentado à sua liberdade. Sejamos claros. Qualquer pessoa que ambiciona exercer funções de Estado deve estar também disposto a abdicar de uma pequena parte da sua privacidade, precisamente por causa da responsabilidade e direito que exercer esse cargo lhe concede. Quem quer exercer poder sobre os outros deve também aceitar que medidas preventivas relativamente à avaliação da sua capacidade de o fazer de forma honesta sejam aplicadas.
Se com um grande poder vem uma grande responsabilidade, com a ambição de exercício de poder Estatal deve vir também um compromisso intransigente com a transparência e honestidade.
Mas sem maior pressão pela parte da população geral, a obrigatoriedade de declarações de interesses e afiliações nunca vai ser uma realidade, precisamente porque quem tem o poder de passar tal lei, a Assembleia da República, está absolutamente infiltrada e é tendencialmente controlada pelas sociedades secretas que tanto gostam de permanecer na escuridão.
2 respostas
Concordo.
Quando se gere o dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos temos de ter a certeza que são para beneficiar o bem comum e não para ser roubados por bandos.
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